Ex-senador Telmário Mota. Foto: Divulgação

O ex-senador Telmário Mota, preso desde 2023 por suspeita de ser o mandante do assassinato da mãe de sua filha, Antonia Araujo, ocorrido em setembro daquele ano, divulgou uma nova carta aberta à sociedade, nesta quarta-feira (15). A primeira delas foi em setembro do ano passado, quando o político disse que estava “doente, falido, rejeitado e com o psicológico abalado”.

Na nova carta Telmário comenta episódios escatológicos ocorridos na prisão. Intitulado como “Natal com fezes, urina e fogo”, o documento narra situações supostamente enfrentadas pelo ex-senador e uma piora em seu estado de saúde.

Telmário diz que acredita que o Mal de Parkinson avançou neste tempo. A doença degenerativa estaria comprometendo o lado esquerdo do corpo de Telmário com tremores. O político também diz ter alucinações dentro da cadeia.

“As alucinações tem me visitado com mais frequência, os tremores que antes atacavam minha mão esquerda, hoje tomam conta de toda a extensão do lado esquerdo do meu corpo, tenho a impressão que o Mal de Parkinson esteja avançado sobre mim”, disse.

“Recentemente passei por uma perícia médica, feita por uma perita oficial, a requerimento da própria justiça e do Ministério Público”, continuou.

Por fim, Telmário diz esperar que a justiça seja feita e ele inocentado. “Tenho fome e sede de justiça!”.

Relembre o crime

A menina acusou o próprio pai, em agosto de 2022, de tentativa de estupro. Na época ela tinha 15 anos. Antônia, mãe da jovem, iria depor contra Telmário neste caso, mas dias antes, foi morta a tiros na porta de casa, no bairro Senador Hélio Campos, em Boa Vista. O político foi então apontado como principal suspeito. Segundo investigações da Polícia Civil de Roraima, uma assessora do então senador estaria monitorando a rotina da vítima.

Ele fugiu mas foi preso em Goiás, no final de outubro de 2023. Só foi transferido para Roraima em dezembro. E em fevereiro deste ano, começou a apresentar supostos problemas de saúde para conseguir prisão domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica.

Leia a carta, na íntegra

No natal do ano de 2023, passei a noite do dia 24 limpando urina e fezes jogados na minha cela e no meu próprio corpo por outros presos. Neste último natal a situação piorou, um preso insano tocou fogo na sua roupa e no colchão e jogou no corredor da ala 09, onde fica a minha cela, colocando em risco a minha vida e de todos os outros presos da ala.

Eu e o produtor rural Paulo Rodrigues Teixeira, sofremos de problemas cardiacos e outras patologias, fomos retirados da cela já com dificuldades de respirar, por dois bravos policiais penais, que enfrentaram fogo e fumaça para salvar nossas vidas. A eles minha gratidão.

Resumo da ópera: A gestão da unidade prisional retirou todos os colchões e voltamos a dormir no chão, os justos pagando pelos pecadores.

Minha saúde: A minha saúde já estava abalada por várias patologias, com a inalação da fumaça o meu quadro piorou, a minha pressão antes controlada em 12/08, após 03 dias do episódio, encontrava-se na casa de 19/15 e segue sem estabilização.

As alucinações tem me visitado com mais frequência, os tremores que antes atacavam minha mão esquerda, hoje tomam conta de toda a extensão do lado esquerdo do meu corpo, tenho a impressão que o Mal de Parkinson esteja avançado sobre mim.

Estou ficando com minha perna direita deficiente por falta de fisioterapia, pois fiz uma cirurgia de prótese total de joelho e não me foi autorizado a fazer a fisioterapia necessária. Fui retirado na marra do Hospital UNIMED, sem alta hospitalar e sem recomendação médica.

Colocaram-me trancado em um quarto no HGR, com um policial dentro e algemado na cama, de lá, vim para a cadeia pública, tanto o HGR quanto o sistema prisional não dispõem de fisioterapia. Recentemente passei por uma perícia médica, feita por uma perita oficial, a requerimento da própria justiça e do Ministério Público.

Ficou constatado, dentre as várias patologias, a hipertensão arterial, gastrite, insuficiência cardiaca, apncia do sono, transtorno de ansiedade generalizada, episódio depressivo grave com sintomas psicóticos por alucinações, além de doença neurodegenerativa, etc.

Em decorrência de todos esses achados na perícia médica, foi recomendado pela perita médica minha prisão domiciliar para tratamento médico, porém, o ministério público e o judiciário não acataram a recomendação médica.

Tal negativa, além de abusiva e violenta, põe em risco minha integridade fisica e a minha própria vida, o que significa dizer que, a partir de agora, tanto o Ministério Público, quanto o Judiciário assumiram pra si a responsabilidade pela minha vida. É como costumo dizer: É fácil julgar quando a dor não é sua.

Como vocês podem ver, a justiça e o Ministério Público colocaram a minha prisão política acima do meu direito a saúde e a vida. 

Por fim, quero fazer uma ressalva, quem lembra da acusação que me fizeram de ter agredido uma moça?

Pois bem, após quase 10 anos sendo massacrado pela midia, usado insistentemente e covardemente por meus adversários políticos, a justiça me absolveu dessa infeliz e descabida acusação. A injustiça pode dar seus passos, mas no final tropeçará na verdade.

Será que vou ter que passar mais 10 anos para ter que provar minha inocência desse crime que estão me acusando?

A depender do tratamento que estão me dando na cadeia, não sei se viverei o suficiente para provar minha inocência. Liberdade é pouco, o que eu desejo é justiça.

Enquanto posso falar, mesmo que por mcio de carta, reafirmo, não matei, nem sei quem matou essa senhora! E para aqueles que tem o habito de julgar os outros, lembra que hoje sou eu, amanhã poderá  ser você ou um dos seus.

Tenho fome e sede de justiça!

15/01/2025

Telmário Mota de Oliveira

Ex-senador da República

Carta aberta divulgada pelo ex-senador Telmário Mota.

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