Jânio Xingu (PP), assessor especial de Soldado Sampaio (Republicanos), tentando mandar os venezuelanos de volta. Foto: reprodução/Facebook

Não foi bem a explicação que queriam ouvir os deputados Armando Neto (PL), Jorge Everton (União), Dr. Cláudio (União), além dos demais que concordaram com a aprovação do pedido de informação n° 2/2023, enviado esta semana pela Assembleia Legislativa de Roraima ao governo do Estado, mas, o presidente daquele Poder, deputado Soldado Sampaio (Republicanos), despachou seu assessor especial, o ex-deputado Jânio Xingu (PP), para a Venezuela, esta semana, a fim de tentar repatriar os venezuelanos que vivem aqui. Pura cortina de fumaça para desviar a atenção do problema real.

O argumento utilizado pelo presidente da ALE é que a população imigrante superlota serviços públicos essenciais, mais especificamente, a saúde, em Roraima. Como o país vizinho já estaria, segundo Sampaio, em um processo de reascensão econômica, esta seria, para ele, a hora de mandar este pessoal de volta para casa. Que a ONU não o ouça, tampouco o Itamaraty, porque aí o desgaste para o deputado Soldado Sampaio seria jurídico, com respingos ao governo Federal por causa de tal empreitada homérica. Lembrei de Bolsonaro, quando foi a Rússia, e disse que tinha conseguido acabar com a guerra.

Esta função não competiria sob qualquer hipótese a Jânio Xingu, que hoje trata-se de um comissionado assessor especial da presidência da Assembleia. Ainda que deputado fosse, ou o próprio presidente da Assembleia, determinadas pautas são inerentes ao Palácio do Itamaraty, sede da Diplomacia Brasileira. Relações comerciais e assuntos de fronteira podem ser discutidos pelos parlamentares, não haveria problema. Repatriação é outra história, onde fica nítido o despreparo de quem acha que seu poder vai tão além.

Mas, toda essa confusão, é para justificar aos demais parlamentares e à sociedade que a culpa da má prestação de serviços públicos é do povo imigrante. Sem nunca ter tido a estrutura necessária para conseguir manter as unidades de saúde estaduais, o governo tenta, com apoio escrachado da Assembleia, encontrar um culpado para a desordem gerencial da Sesau. Não se esqueça do problema real, caro leitor: é a Maternidade de lona que desmancha na chuva, o Hospital das Clínicas completamente subaproveitado, o Coronel Mota aos farelos, o HGR com problemas corriqueiros de atendimento/medicação/pessoal/cirurgias/higiene… e a culpa é do povo venezuelano? Os problemas de descuido com o dinheiro público, e com a falta de comprometimento com a saúde, vêm de antes.

A nova manobra de Soldado Sampaio para desviar a atenção do problema maior, que ocorre diariamente dentro das unidades de saúde do estado, para proteger seu aliado-chefe, passa pela escola de quem ensinou a mesma tática utilizada para responder à crise Yanomami – “não faz parte da nossa alçada – a União que resolva”, e assim, dia após dia, o povo perde a vida sem conseguir um atendimento público decente, tal qual define a lei. Mas por falar em alçada, porque Sampaio não usa dessa mesma linha de raciocínio para o seu projeto pessoal de devolução de venezuelanos e deixa a União cuidar do que compete a ela? Tá com o senso de resolução invertido, o parlamentar.

O presidente da Casa que agora tenta terceirizar a culpa da má administração governamental, dá, a grosso modo, uma resposta aos demais parlamentares que cobraram o posicionamento do governador para a situação das unidades aqui citadas. Até aliados próximos de Antonio Denarium (PP), incluindo um sobrinho, têm pedido em plenário respostas para a repercussão negativa que a crise da saúde tem conquistado ao governo. Estes, inclusive, têm sido insistentemente cobrados por eleitores sobre demandas simples, corriqueiras, que as unidades não dão conta.

O nome da secretária de Saúde, Cecília Lorenzon, deve ser substituído em breve, como adiantaram fontes ligadas ao Palácio. Apesar de estar na cota de pessoas protegidas por Denarium, o comando da secretaria – com uma possibilidade para a terceirização multimilionária da administração do HGR – virou disputa entre os famintos aliados que não se sentem nutridos o suficiente pelos espaços já ocupados dentro da estrutura atual de governo.

Para quem tanto se gabou de ter dinheiro em caixa, Denarium agora amarga a revolta das categorias dentro dessas unidades de saúde, e trabalha com a política do “cala a boca”, oferecendo aumentos irrisórios e promessas incumpríveis, para adiar o inevitável: a explosão da panela de pressão cuja a válvula já está vazando, que é a greve no Hospital Geral de Roraima. Enquanto técnicos e gente comprometida com o orçamento público não tomarem a frente, as pautas que inflamam o indicativo de greve dos médicos não serão correspondidas e o problema apenas irá se expandir às demais categorias da saúde estadual.

Enquanto a administração pública tiver como prioridade a manutenção de cargos em benefício de amigos próximos, irmãos de políticos, filhos de senadores e esposas de parlamentares, é pouco provável que soluções eficazes surjam diante de um cenário catastrófico de uma côrte surreal e que vive um universo paralelo de Estado nos trilhos.

Assim como responderá pela omissão na crise Yanomami, o governador que conta com a ajuda irrestrita do presidente da Assembleia, terá que responder à Justiça por vidas que se perdem todos os dias dentro desses hospitais, sem que uma única resposta eficaz seja planejada para conter o caos. Dessa forma, torna-se ainda mais difícil prever uma solução para mais um grave problema enfrentado pelos roraimenses, somente por falta de qualificação política e humanitária de quem assina as decisões.

Ao deputado Sampaio, fica o desejo popular de que o senhor reveja seus culpados. Ao governador do Estado, a lembrança do voto de esperança que foi depositado e não foi honrado. E a nós, resta rezar o terço da misericórdia para que a saúde fique em dia.

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