Deputado Jhonatan de Jesus (Republicanos-RR) deverá ser o próximo ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). Foto: divulgação/Câmara dos Deputados.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e o deputado Jhonatan de Jesus (Republicanos – RR), montaram uma megacampanha em dobradinha, para convencer os 513 deputados federais do país a aprovarem seus nomes para, no caso de Arthur Lira, a reeleição à presidência daquela Casa, e no caso do roraimense, uma vaga vitalícia com tudo pago para se tornar ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). A contragosto de parte dos deputados, mas parece que vai funcionar. A eleição ocorrerá em fevereiro.

Para isso, há mais de dois anos, antes mesmo de sua primeira eleição para a mesa diretora, Lira tem negociado a vaga do TCU com os partidos e avaliado com calma quais deles poderiam gerar um resultado mais amplo em sua própria eleição para a presidência. Foi então que o deputado Marcos Pereira, presidente nacional do Republicanos, a pedido do senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR), viabilizou o nome do jovem parlamentar roraimense. Lira abraçou a causa.

Naquela ocasião, Mecias acertou com Pereira para que o nome do filho fosse levado em conta ainda em 2019, quando anunciada a aposentadoria da ministra Ana Arraes, que só ocorreu em julho de 2022. Desde então que Arthur Lira adia a eleição para a escolha do novo ministro, também esperando o resultado das eleições de 2022 e o impacto do Republicanos para a sua reeleição à mesa diretora. Jhonatan conseguiu, foi o mais votado em Roraima, apesar de, desde sempre, não ter a intenção de seguir para um quarto mandado como deputado federal.

Com o resultado posto, a campanha começou ardilosamente. Primeiro tentando manobrar pretensos candidatos de partidos menores na disputa pela vaga de ministro. Lira convenceu siglas menos fortes a não apoiarem nomes dentro dos próprios partidos. Com os acordos, o voto duplo deve custar muito caro, no fim das contas. Para abranger o maior número possível entre os  deputados federais, ambos viajaram para vários estados e visitaram praticamente metade desses gabinetes em tempo recorde. O resultado já é dito como certo em Brasília: pelas contas dos dois, Jhonatan já está eleito para a vaga de ministro do Tribunal de Contas da União, e será da Corte que fiscalizará as contas públicas do governo Federal. O deputado já é, inclusive, chamado de “ministro”, pelos mais próximos.

Seria Jhonatan a pessoa mais bem preparada e idônea para avaliar as contas públicas da União? O tempo dirá. Mas é fato que o próximo ministro tem satisfações morais públicas a dar em diversos aspectos. Como no caso em que usou R$ 70 mil do fundo eleitoral para abastecer em postos de gasolina das próprias irmãs, em Boa Vista. Ou ainda como o pai, o senador Mecias, responsável pelas indicações políticas do DSEI Yanomami, se sentiu “estarrecido” com a grave crise humanitária e de saúde desse povo, cuja responsabilidade tem sido jogada para o alto, ao Deus dará.

Ano passado, já em clima de disputa pelo TCU, o parlamentar roraimense faltou a metade das sessões em que deveria estar. De 53, faltou a 26. Só uma falta foi justificada pelo deputado. As reuniões das quais mais se ausentou foram justamente as da Comissão de Constituição e Justiça, a mais importante da Câmara. Jhonatan é formado em medicina e sua principal ocupação, além de deputado, é de empresário, segundo o informado à Justiça Eleitoral. No TCE, em Roraima, apenas profissionais cuja formação seja ligada ao direito e áreas fiscais/contábeis são aceitos na disputa por uma vaga de conselheiro do Tribunal de Contas. Em Brasília, até nisso Mecias deu um jeito.

O senador postulante a governador do Estado em 2026 tenta garantir o futuro do filho, ao mesmo tempo em que prepara a esposa, Darbilene Rufino do Vale, para concorrer a uma vaga de deputada federal. Ela já foi nomeada como presidente do Republicanos Mulher em Roraima por JR Rodrigues, presidente estadual do Republicanos, suplente de doutor Hiran no senado, e assessor especial de Mecias há muitos anos. Agora, Darbi tenta pavimentar a estrada sem concorrências dentro de casa.

Mecias continua apostando suas fichas em seu pessoal mais próximo, a exemplo dos familiares e dos amigos mais íntimos, como J.R., Soldado Sampaio (presidente do Poder Legislativo em Roraima), e o vereador Ítalo Otávio, estes atuando como servilões diretos do senador em esferas importantes de poder em Roraima. Sampaio, pelo menos, teve a garantia de apoio à disputa pela prefeitura de Boa Vista em 2024. Ítalo, que é neto do ex-governador Ottomar de Souza Pinto, nem isso.

Por aqui, a dança das cadeiras seguirá o seguinte fluxo: com a saída de Jhonatan para o TCU, a primeiro suplente que vai assumir a vaga de deputado federal por Roraima será o vereador de Boa Vista, Gabriel Mota* (Republicanos). Este colunista disse inicialmente que a vaga seria para a ex-secretária da SEMGES, Simone Queiroz (PSD), mas as coligações foram extintas no pós-eleição, segundo Mota. Ele é quem tomará posse no lugar de Jhonatan, portanto.

Agora, com todos juntos e misturados, essa turma tenta ampliar os espaços de poder para um domínio completo de Roraima. Secretarias de governo, autarquias, comandos de empresas públicas e contratos públicos com empresas privadas, Senado, Câmara dos deputados, Câmara municipal e Assembleia Legislativa, parecem não ser suficientes. Que a tática utilizada por eles para essa expansão de domínio não passe por cima da legislação vigente, e que tais acordos entre familiares e amigos não voltem a ser normalizados pelo eleitorado nas páginas da política do nosso Estado, como tem sido feito há tanto tempo.

Jesus quer ser o dono de tudo. E eu não me refiro ao filho de Deus.

 

*alterado às 20h10 com a correção de informação do suplente de deputado

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