É na voz de Vanda Witoto e de diversas lideranças indígenas que o minidocumentário Povos Indígenas no Brasil reverencia a memória viva e coletiva dos mais de 260 povos que habitam no país. Parte do lançamento do livro Povos Indígenas no Brasil 2017-2022, o filme é uma realização do Instituto Socioambiental (ISA).
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Com 16 minutos de duração, o filme expande a narrativa do livro com fortes depoimentos e imagens que ilustram a beleza da diversidade indígena brasileira e as injustificáveis violências sofridas pelas comunidades. Além do filme, também será lançado um especial em áudio do Copiô, Parente, podcast do ISA sobre povos indígenas e povos tradicionais da floresta, apresentado por Ester Cezar e Helder Rabelo.
A série de materiais evidencia a importância da luta dos dos povos indígenas para se colocarem no mapa e na linha histórica do Brasil, como aponta Maurício Ye’kwana, liderança do povo Ye’kwana e diretor da Hutukara Associação Yanomami em um dos depoimentos: “O povo brasileiro esqueceu quem são os povos indígenas e sua riqueza. Não sabem que há povos indígenas, e o grande valor que tem nisso”, afirmou.
O conjunto de materiais destaca ainda as violências e silenciamentos enfrentados no período, um dos mais desafiadores para o Brasil Indígena, marcado sobretudo por ameaças territoriais, impactos da Covid-19 e intensas violações de direitos e retrocessos. É o que aponta Vanda Witoto, técnica em enfermagem, educadora e liderança do povo Witoto. “A gente fala que, realmente, nós vivenciamos dois vírus durante a pandemia: além da Covid, tivemos que lidar com o descaso dos governantes do nosso país.”
Mauricio Ye’kwana, diretor da Hutukara Associação Yanomami/ISA
Vanda Witoto, liderança Witoto do Amazonas e narradora do minidoc/ISA
Em sintonia com o livro, o filme registra também a importância dos povos indígenas para a manutenção e proteção das florestas no Brasil. Estudo do ISA revelou que a presença de povos indígenas amplia a proteção dos territórios e promove o aumento da biodiversidade e a recuperação de áreas degradadas.
O minidocumentário Povos Indígenas no Brasil demarca ainda a necessidade de proteção dos territórios de povos indígenas isolados no Brasil, país com o maior registro de isolados no mundo, com mais de 100 povos. “Não tem como separar essa existência do território da nossa existência enquanto povo. Ela está interligada. Se você não garante o território, você não está garantido a vida das pessoas”, explica Angela Kaxuyana, liderança da Terra Indígena Kaxuyana-Tunayana.
Atualmente, existem 732 terras indígenas em diferentes fases de reconhecimento, das quais apenas 491 possuem demarcação concluída.
Lar de mais de 1,5 milhão de pessoas indígenas, o Brasil ainda falha na proteção de seus povos originários. No contexto de intensificação dos ataques e retrocessos, o período foi determinante para fortalecer a luta indígena – destaque para as lideranças femininas. Em 2019, por exemplo, a primeira Marcha das Mulheres Indígenas levou 2.500 representantes de 130 povos às ruas de Brasília para reivindicar respeito aos seus territórios, corpos e espíritos.
“Eu posso estar na cidade, eu posso estar estudando na cidade, mas minha memória, minha língua, minha infância, tudo está ali, baseado na aldeia, na nossa comunidade, no nosso povo. Então, nossa história existe, está viva, e é exatamente por isso que a gente defende tanto a nossa terra”, diz Maial Paiakan, ativista kayapó e do Instituto Paiakan.
Angela Kaxuyana, liderança da Terra Indígena Kaxuyana-Tunayana (PA)/ISA
Maial Paiakan, liderança da Terra Indígena Kayapó (PA)/Kamikiá Kisêdjê
Povos Indígenas no Brasil 2017-2022
Criada na década de 1980 pelo Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI), organização que deu origem ao ISA, a publicação Povos Indígenas no Brasil nasceu para dar visibilidade aos povos indígenas e à devastação de seus territórios, pouco conhecida na época, até mesmo pelos especialistas.
Foi estabelecendo contato com pessoas que tinham relações diretas com as comunidades indígenas que o CEDI conseguiu criar uma extensa rede de colaboradores para contribuir com o monitoramento e estabelecer o documento como uma ferramenta essencial para trazer visibilidade à luta dos povos indígenas.
A edição mais recente, Povos Indígenas no Brasil 2017-2022, publicada pelo ISA mostra em suas mais de 700 páginas que o Brasil indígena é uma história contemporânea que continua emergente, sendo vivida, escrita e recriada cotidianamente.