Sessão plenária desta quarta-feira (23). Foto: reprodução TV Assembleia

Desde que começou a se discutir a cassação do deputado Jalser Renier (SD) por quebra de decoro parlamentar, depois da acusação de ele ser o mandante do sequestro do jornalista Romano dos Anjos, que diversas alegações com teor ilegal e/ou imoral vêm sendo expostas pelo parlamentar e também pelo relator da Subcomissão de Ética que aprovou o pedido de cassação, Jorge Everton (sem partido), em trocas de acusações durante as sessões plenárias desta semana. E não foram poucas.

As ofensas, opiniões pessoais, palavras de baixo calão e até tentativas de agressão física foram filtradas e dispensadas, mas ainda assim não conseguem ser mais relevantes do que o conteúdo despejado publicamente ali, e que merece a atenção da sociedade e dos órgãos fiscalizadores.

Dentre os pontos denunciados pelos parlamentares, põe-se aos holofotes:

  • Marido de procuradora do Ministério Público de Roraima ocupando cargo comissionado no Governo do Estado em suposto acordo de “vistas grossas” do MPRR com o governador Antonio Denarium (PP). – afirmação de Jalser.
  • Compra de mandato do ex- vice-governador Paulo César Quartiero (no caso do cheque) para que este renunciasse ao cargo e deixasse o caminho livre para Jalser governar em um plano de impeachment contra Suely Campos – denúncia de Jorge Everton.
  • Suposto acerto entre o presidente daquela Casa, deputado Soldado Sampaio (PCdoB), o relator da subcomissão, Jorge Everton, e o governador, para que fosse dado andamento no processo de cassação em troca de apoio financeiro de Denarium para estas campanhas políticas– acusação de Jalser.
  • Ambos os deputados se acusam de manter milícias a sua disposição – a utilização de força policial efetiva do Estado no cometimento de crimes em prol de um então presidente de Poder ou para um delegado de polícia licenciado para exercer mandato público.
  • Denúncia de crime de agiotagem por parte do governador Antonio Denarium para com figuras públicas de destaque da sociedade roraimense, dentre elas políticos em exercício de mandato, incluindo a tomada irregular de imóveis – acusação de Jalser.
  • Suposta prática de infidelidade partidária por parte do deputado Jorge Everton para com o seu antigo partido, o MDB. Segundo Jalser, Jorge “traiu” Teresa Surita por dinheiro para apoiar Ottaci à prefeitura. Jalser foi o mentor da campanha de Ottaci.
  • Denúncia de que Jalser falava constantemente em ter “o judiciário na mão”, mas sem dizer por quais meios – partiu de Jorge Everton.

Algumas nem são novidade, mas todas são graves e merecem uma investigação célere e profunda. Os órgãos fiscalizadores de interesse social citados, a exemplo do Ministério Público de Roraima e o Tribunal de Justiça de Roraima, precisam se manifestar e posicionar-se sobre este conteúdo. Depois das tratativas de hoje, o chumbo trocado entre os dois parlamentares tem que ser levado a outras instâncias. A veracidade de qualquer que seja o desvio de conduta acima citado, é passível de sanções, e atentam contra a democracia e os valores da nossa sociedade.

Para que a história política desse Estado não siga em caminhos desvirtuados e rodeada de eventos de má conduta por parte de seus integrantes, a Justiça roraimense tem o dever de levar todos esses pontos adiante. Ignorar o que foi dito não pode ser aceito como consensual.

Todos os citados se dizem caluniados. Jorge diz que as acusações de Jalser são desespero; Jalser diz que eles tramam sua queda por dinheiro. Denarium diz que tudo isso é leviano. Os respingos se alastram, e quem é atingido responde: “Eu? Eu mesmo não”.

Os deputados só não podem esquecer que a mesma imunidade parlamentar que lhes assegura hoje o direito (e o dever) de exercer seus mandatos com liberdade, é a que lhes protegeu ali atrás, na época em que ocorreram todos os fatos só agora declarados. Ambos são veteranos e gozam das mesmas prerrogativas desde então. Saber que algo está errado e calar-se, nada mais é do que ser conivente. O que mais falta ser dito?

Os adeptos a clubismos, que guardam segredinhos entre amigos para soltar somente na hora da raiva, tendem a não ter mais seus nomes lembrados nos espaços de poder. E quanto às sanções, não tenham dúvidas, elas virão. Ainda que sejam as morais, conosco nas urnas.

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