Corredores lotados no HGR, o maior Hospital de Roraima. Foto: arquivo

Há exatas três semanas, sofri uma dura crise de vesícula, mas evitei procurar o hospital público porque já sabia das condições do setor de saúde em Roraima, submetido a uma grave crise há anos e piorado com a crescente chegada de venezuelanos, que lotam as unidades de saúde. E isso é domínio público. Passei uma semana sofrendo, em casa, recorrendo à medicina alternativa, algo que quem nasceu em Roraima conhece desde a infância, saber tradicional este herdado dos mais velhos.

Mas, na noite de sexta-feira passada, sofri um grave acidente, que resultou em um nariz fraturado e um leve afundamento no crânio, além de outros ferimentos na face, então não tive saída: fui parar no Pronto Socorro do Hospital Geral de Roraima (HGR). Pela gravidade, recebi atendimento imediato, apesar de cinco pessoas feridas em um único acidente e dois venezuelanos que chegaram, um ferido com uma facada e outro com um tiro.

Foram uma noite e uma madrugada sentindo na pele tudo aquilo que a população vem reclamando há anos do serviço público de saúde: servidores trabalhando no sacrifício, no limite, sem material necessário e sem vários medicamentos em quantidade suficiente para a demanda, além de uma estrutura antiga. Presenciei alguém morrendo ao meu lado e vi dois venezuelanos que gritavam como se fossem crianças, inclusive proferindo palavrões e xingamentos, assim como fazem brasileiros que não respeitam o trabalho dos profissionais que ali estão.

O Pronto Socorro sempre esteve lotado, não dando trégua aos profissionais. As reclamações de pacientes e familiares eram constantes, principalmente pela falta de medicamento. O atendimento a um venezuelano teve de ser interrompido porque faltou medicamento e ele foi obrigado a esperar a chegada de nova remessa. Pelo menos era isso que uma moça tentava explicar ao estrangeiro, equilibrando-se entre o portunhol a que todos ali são obrigados a se submeter.

Por coincidência, no domingo, o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Jalser Renier, fez uma visita ao HGR para conhecer de perto a real situação de pacientes, servidores e da estrutura do prédio. Prometeu agir dentro das possibilidades do Legislativo, disponibilizando recurso e recorrendo à parceria das demais autoridades responsáveis pela saúde pública.

A população vem suplicando que algo mais seja feito de forma urgente, para aliviar o sofrimento de quem é obrigado a recorrer ao Sistema Único de Saúde (SUS). O governo Antonio Denarium tem mostrado não ter forças para reagir. Além de trocar seguidos secretários, nada conseguiu avançar e sequer agiu para apurar as graves denúncias feitas por um secretário Saúde demissionário, Ailton Wanderley, que saiu atirando para todos os lados e revelando o ninho de corrupção que se tornou o setor historicamente. Assunto este evitado a qualquer custo pelo governo.

O caos no HGR poderia ser amenizado se a Prefeitura de Boa Vista fizesse sua parte nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), para atender aqueles casos ambulatoriais que acabam chegando no Pronto Atendimento do HGR. Quando candidata desde a primeira gestão, a prefeita Teresa Surita (MDB) prometeu UBS funcionando por 24 horas e, salvo engano, até chegou a dizer que iria instalar Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) na Capital. Mas tudo não passou de promessa.

Ao contrário, a prática aponta descompromisso com a saúde pública. A bancada federal revelou que a Prefeitura deixou retornar recursos destinados para construir TRÊS unidades de saúde em Boa Vista. Disse também que havia recursos sobrando do exercício de 2018 por não terem sido utilizados. A revelação ocorreu depois que Teresa acusou a bancada de cortar emendas por motivação política. Só assim para o povo saber dos meandros dessa política.

Diante do cenário de caos que vivenciamos não só na saúde pública, o que a população espera é que as autoridades ajam o mais breve possível para amenizar esse cenário, independente de partido ou grupo político. Os setores essenciais dependem de uma união suprapartidária para enfrentar o cenário de terra arrasada. É isso que querem as pessoas que pagam seus impostos e têm direito aos serviços públicos gratuitos e de boa qualidade, conforme determina a Constituição. Não há mais espaço para picuinhas políticas. O momento exige ações concretas e urgentes.

*Colunista, idealizador do site www.roraimadefato.com.br

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