Foto: Marley Lima/ SupCom ALE-RR

As relações entre Estados Unidos e Venezuela voltaram a se deteriorar rapidamente. Desde setembro de 2025, uma série de ações militares e trocas de acusações reacenderam o temor de um confronto direto entre os dois países na região do Caribe.

De um lado, Washington intensificou operações contra o tráfico internacional de drogas, ampliando sua presença militar nas proximidades do território venezuelano. Do outro, o governo de Nicolás Maduro responde com ameaças, discursos nacionalistas e a mobilização de tropas, num momento em que o país enfrenta uma profunda crise econômica e política.

Operações militares e clima de hostilidade

No início de setembro, um ataque norte-americano a uma embarcação suspeita de transportar drogas deixou 11 mortos, segundo o Council on Foreign Relations (CFR). Poucos dias depois, outro ataque semelhante resultou em três novas mortes.

Esses episódios levaram os Estados Unidos a reforçarem sua presença naval no Caribe, com navios de guerra, submarinos e milhares de soldados posicionados próximos à costa venezuelana — uma movimentação que especialistas comparam às tensões da Guerra Fria, conforme reportagem do Financial Times.

A resposta de Caracas foi imediata. O presidente Nicolás Maduro anunciou a ativação de 4,5 milhões de integrantes da Milícia Bolivariana, uma força civil armada criada sob seu comando. Para analistas e opositores, porém, o grupo serve mais para garantir controle político interno do que para defesa militar.

Maduro sob pressão e novas acusações

O regime venezuelano enfrenta um cerco cada vez maior. Além das críticas por violações de direitos humanos e repressão a opositores, há acusações de envolvimento direto com o narcotráfico. O governo dos Estados Unidos classifica parte da cúpula chavista como ligada a redes criminosas e incluiu o Tren de Aragua, grupo criminoso originado na Venezuela, em sua lista de organizações terroristas estrangeiras.

Maduro rebate, afirmando que se trata de uma “campanha imperialista” para desestabilizar o país. Ele acusa Washington de ter “interesses coloniais” e utiliza o discurso antiamericano como instrumento político. Para setores da oposição, essa retórica é uma tentativa de desviar a atenção da crise interna e manter o poder por meio da polarização.

Crise humanitária sem precedentes

Enquanto o governo endurece o discurso, a população venezuelana continua a sofrer as consequências de uma crise que já dura mais de uma década. A economia segue em colapso, marcada por hiperinflação, escassez de alimentos, falta de medicamentos e serviços públicos precários.

A situação provocou um dos maiores fluxos migratórios da história recente da América Latina. Mais de 8 milhões de venezuelanos já deixaram o país, buscando refúgio em nações vizinhas como Colômbia, Brasil e Peru.

No campo político, as eleições de 2024 foram amplamente contestadas. Observadores internacionais apontaram irregularidades, e a oposição acusa o governo de manipular o processo e reprimir adversários. O resultado foi o enfraquecimento ainda maior das instituições democráticas e o isolamento internacional de Caracas.

Preocupação regional e falta de consenso

A escalada de tensões preocupa governos da América Latina e organismos internacionais. A ONU e a Organização dos Estados Americanos (OEA) têm apelado pela contenção militar e pelo diálogo, mas até agora não houve avanços concretos.

A União Europeia mantém sanções contra altos funcionários do regime, enquanto países vizinhos tentam equilibrar posições, temendo que um conflito afete suas economias e agrave a crise migratória.

Especialistas alertam para o risco de um erro de cálculo militar. Um novo ataque ou incidente pode desencadear uma resposta em cadeia. “A tensão entre Washington e Caracas já passou do ponto diplomático. O risco de uma escalada é real”, afirmou o analista político Javier Corrales, da Universidade de Amherst, à Reuters.

O impasse e o futuro incerto

Apesar da retórica agressiva, poucos acreditam que Estados Unidos e Venezuela desejem um confronto direto. Para Washington, o objetivo é pressionar o regime sem mergulhar em uma guerra regional. Para Maduro, manter o clima de hostilidade ajuda a justificar o autoritarismo interno e fortalecer sua base de apoio.

Analistas concordam que a única saída possível é política. Segundo a cientista política María Corina Pérez, “a Venezuela vive sob um regime autoritário e isolado. Qualquer solução real passa por uma transição democrática e pela reconstrução das instituições do país”.

Enquanto isso não acontece, a tensão segue alta e o povo venezuelano continua a pagar o preço de um impasse que mistura geopolítica, autoritarismo e desespero social.

Deixe seu comentário

Please enter your comment!
Please enter your name here