Foto: Prevfogo/Ibama

A Operação Roraima Verde 2024, instalada em 15 de janeiro pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para combater as queimadas, vai priorizar a Terra Indígena (TI) Yanomami, em razão do aumento elevado dos incêndios florestais. O trabalho de combate aos focos tem atuação direta do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) do Ibama, que desde o ano passado mantém equipe de profissionais na região.

A priorização da TI Yanomami justifica-se porque na região do Lavrado (denominação local à vegetação de savana amazônica) os incêndios estão controlados. A exceção é a TI Raposa Serra do Sol, em algumas áreas isoladas da região de serras, em que não há local seguro de pouso para helicópteros. Por isso, o monitoramento diário dos focos de calor e de propagação do fogo é feito de forma remota.

As primeiras contratações de brigadas pelo Ibama em Roraima aconteceram em setembro do ano passado, para realizar atividades de prevenção. Já se considerava a ocorrência do fenômeno El Niño, categoria forte, com características complexas e cenário climático desafiador em Roraima, que já estava em estiagem desde o mês de agosto de 2023, antecipando o período seco no estado em dois meses.

As frentes de combate e bases de apoio foram setorizadas em regiões de atuação, visando facilitar a logística de comando e operações de campo. A Operação Roraima Verde é administrada por meio do Sistema de Comando de Incidentes (SCI), ferramenta de gerenciamento padronizada para todos os tipos de sinistros.

O Setor Yanomami foi separado em quatro Divisões: Base de Proteção Etnoambiental (Bape) Walopali, Floresta Nacional (Flona) de Roraima, Base Federal Palimiú e Bape Amajari. A Bape Walopali engloba a região do baixo e alto rio Mucajaí e a porção sul da Flona Roraima (Unidade de Conservação fronteiriça com a TI Yanomami). Estão atuando brigadistas do Ibama e do ICMBio dos estados de Goiás, Tocantins, Rondônia, Rio de Janeiro e Roraima.

Diário do fogo

Próximo à Bape Walapoli, foram construídos 8 km de aceiro (desbaste que previne a passagem do fogo para área de vegetação, evitando queimadas ou incêndios) dos 25 km planejados, sendo iniciado no rio Mucajaí, em direção ao rio Apiaú, no período de 26 de janeiro a 7 de fevereiro de 2024, devido aos incêndios que atingiram a Flona de Roraima. No dia 6 de fevereiro, na divisa com a TI Yanomami, suspenderam-se os trabalhos de construção do aceiro, e todo efetivo que estava empregado na missão foi realocado para os combates aos incêndios naquela região. A estratégia adotada de combate é abertura de linhas de defesa, queima de expansão e combate direto às chamas. Esse incêndio foi considerado controlado, porém, devido ao aumento de temperatura e à velocidade do vento, atualmente o incêndio voltou a ser combatido. Outro fator que tem prejudicado são as queimas de roças, pois sem as técnicas corretas e sem o acompanhamento da brigada, esse sistema de preparo de terra, muitas vezes, converte-se em incêndios.

A Divisão Flona de Roraima atende à região nordeste da Flona, onde estão empregados brigadistas do Ibama e ICMBio. As estratégias de combate são aberturas de linhas de defesa, queima de expansão e combate direto às chamas, com infiltração das equipes em campo por meio de helicóptero do ICMBio. A Divisão Palimiu (TI Yanomami) atende à região do Polo Base da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), às margens do rio Uraricoera (região conhecida pelo garimpo ilegal). Estão trabalhando nessa Divisão profissionais das Brigadas Federais Indígenas (Brif-I) Cantá e Pedra Branca do Prevfogo do estado, os quais têm utilizado a estrutura da Base da Funai como apoio, além de atuarem no combate, eles realizam queima de roças.

Na Divisão Ajarani, na região da Bape Ajaraní, os trabalhos estão sendo feitos pelas brigadas Brif -TI Yanomami e Brif – TI Apoio Yanomami, atuando no extremo leste da TIY, evitando que o fogo avance para o interior da Terra Indígena. O Setor Lavrado, na região Centro Norte e Nordeste de Roraima, é composto por seis Divisões: São Marcos, Pedra Branca, Raposa, Araçá, Malacacheta e Serra da Moça. É nesse setor que está sendo empregada a maioria das brigadas contratadas pelo Prevfogo/RR. Os brigadistas estão realizando ataque, queima de roça e monitoramento das plumas de fumaça.

Ainda há incêndios na Divisão Raposa na Mata do Temerém (fronteira com a Guiana) e no maciço de serras do médio rio Viruaquim. As duas localidades estão situadas na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, no município de Normandia, e têm sua importância socioambiental fundamental para pelo menos 20 comunidades indígenas, que têm seus sustentos voltados às florestas dessa região, consolidadas em áreas de implantação de roças, recursos hídricos e área de caça.

Recursos empregados

São 383 pessoas, das quais 317 do Ibama e 66 do ICMBio, entre brigadistas, posto de comando e tripulação aérea.

Em relação aos recursos materiais do Ibama, são 33 viaturas 4×4, uma viatura adaptada, uma auto bomba tanque florestal (ABTF), um caminhão posto de comando, cinco UTVs (veículo utilitário multitarefas), um rodofogo (para transporte de pessoas e equipamentos) e dois helicópteros.

Os recursos materiais do ICMBio são cinco viaturas 4×4, um veículo, um trator, dois UTVs, uma motocicleta, um quadriciclo e dois helicópteros.

Incêndios nos países vizinhos

Chile – Em fevereiro deste ano um incêndio florestal matou mais de 130 pessoas no país. O fogo começou em uma área no Parque Nacional Peñuelas, uma grande reserva florestal. Rajadas de vento de até 80 km/h foram empurrando as chamas mais para dentro, para a área mais habitada da região. Outros dois pontos contribuíram para os incêndios: o tempo seco, característico do Chile, e o forte calor. Na semana passada, houve uma onde de calor no país. Os termômetros chegaram, na região de Viña del Mar, a 40° C. Foi a pior tragédia em 15 anos no país.

Vezezuela – Entre os meses de janeiro e março, satélites registraram mais de 30.200 pontos de incêndio, o maior patamar para esse período desde que os registros começaram em 1999, segundo a agência de pesquisas brasileira Inpe, que monitora toda a América do Sul. O clima mais quente e seco tem contribuído para os incêndios na Venezuela. O país faz fronteira com Roraima. Para o fogo não há fronteiras. No Brasil, os incêndios ameaçam as reservas indígenas.

Bolívia – No final do ano passado, o incêndios que atingiram a área rural do país se estenderam e ameaçaram as áreas urbanas. No ano de 2023, o país perdeu 2,9 milhões de hectares em incêndios florestais. Em fevereiro desde ano, o Ibama doou à Bolívia equipamentos para combate a incêndios florestais: 200 abafadores, 2.000 luvas de vaqueta, 200 balaclavas, 20 bombas costais, 30 pinga-fogos, 200 óculos de proteção, 200 lanternas de cabeça, 200 facões, 200 cantis, 100 capacetes e 100 kits de primeiros socorros, provenientes do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (PrevFogo) do Ibama. A doação desses itens não comprometeu a capacidade de atuação nacional.

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