Foto: AFP

O Itamaraty disse, nesta sexta-feira (29/12), que o Brasil acompanha “com preocupação os últimos desdobramentos” na região do Essequibo, território da Guiana que está no centro de tensões recentes após a Venezuela avançar na pressão para conquistar o espaço. Os esforços brasileiros, no início do mês, conseguiram baixar a temperatura entre os dois países, mas a chegada de uma embarcação de guerra britânica, no fim desta semana, pode colocar combustível em um possível conflito entre as duas nações.

A atuação brasileira na mediação, no último dia 14, garantiu a assinatura dos dois países na “Declaração de Argyle para o Diálogo e a Paz”, que definia rodadas de negociação sobre a disputa, congelando o conflito até o próximo encontro previsto para acontecer em março no Brasil.

O documento estabeleceu o compromisso da Guiana e da Venezuela em não utilizar quaisquer meios de força ou mesmo a ameaça de uso, além do compromisso das duas nações em respeitar o direito internacional. “Os dois países concordaram, ademais, em cooperar para evitar incidentes no terreno e medidas unilaterais que possam levar a uma escalada da situação”, ressaltou o Itamaraty em nota.

Mas com a chegada na região do navio HMS Trent, embarcação de patrulha naval da marinha britânica, um novo pico de tensão acontece e pode quebrar o frágil congelamento do conflito alcançado pela diplomacia brasileira. A embarcação britânica deve realizar exercícios de manobras de defesa em mar aberto, e não tem a previsão de atracar na capital da Guiana, Georgetown. O governo britânico não confirma a chegada da embarcação em mar territorial do país, mas confirmou que o navio realiza uma série de exercícios na região.

“O governo brasileiro acredita que demonstrações militares de apoio a qualquer das partes devem ser evitadas, a fim de que o processo de diálogo ora em curso possa produzir resultados”, disse a chancelaria brasileira.

Fontes no governo brasileiro, por enquanto, descartam o risco da disputa escalar para um conflito bélico. A percepção é que o tom do ditador venezuelano Nicolás Maduro acontece como uma aposta em reverter o próprio desgaste político antes das eleições do próximo ano. Mas as demonstrações militares estrangeiras elevam o risco de Maduro querer dobrar essa aposta.

Para aumentar a temperatura, além da presença britânica, os Estados Unidos também anunciaram exercícios aéreos em conjunto com as Forças de Defesa da Guiana no início de dezembro. A atividade conta com apenas 5 aviões de transporte. O comunicado americano informou que aviões da Força Aérea dos EUA, coordenados com as autoridades locais, sobrevoarão o território do país.

As ações de potências militares têm inflamado o discurso belicoso de Caracas, que classifica os exercícios como provocação contra o país. Maduro mobilizou esta semana mais de 5,6 mil militares para exercícios na região de fronteira do país. “Ordenei a ativação de uma ação conjunta de toda a Força Armada Nacional Bolivariana, uma ação de caráter defensivo e em resposta à provocação e à ameaça do Reino Unido contra a paz e a soberania de nosso país”, anunciou Maduro, nesta quinta-feira (28/12), em pronunciamento de rádio e televisão.

Essequibo é uma região de 160.000 km2, muito pouco habitada, que fazia parte do território da Venezuela em 1777, quando o país ainda era colônia da Espanha. Com o assentamento de uma colônia inglesa na região da Guiana, em 1796, os britânicos ampliaram a área territorial e reivindicaram a região. A disputa internacional pela região iniciou-se em após 1835, com a independência da Venezuela, mas acabou congelada após a independência da Guiana, em 1966. Agora voltou a ter destaque após a descoberta de reservas de petróleo na região e a realização de um referendo pelo governo de Caracas que questionava sobre o apoio da população à demanda de soberania do país sobre a região.

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