Foto: Semuc/PMBV

No Bom Intento, Zona Rural de Boa Vista, Karina Piaxe e sua mãe, Divina Piaxe, utilizam as pimentas que plantam na própria terra para empreender. Dona Divina é responsável pelo plantio e cultivo sustentável, já Karina faz o beneficiamento e comercialização dos produtos. Os processos acontecem de forma tradicional, mas seguem as normativas de alimentos artesanais.

“Há dois anos nós trabalhamos com os molhos de pimenta. Antes eu só usava como tempero, mas ficava tão bom que tivemos a ideia de comercializar. Adaptei o espaço e comprei os materiais que a vigilância exige para vendermos”, disse Karina.

Por pertencerem à etnia Macuxi, a produção dos molhos traz uma história de união, luta, resistência e conquistas – além de ser uma das formas de expressão da cultura indígena. Karina conta que as propriedades da pimenta parecem com a personalidade da dona Divina. Segundo a filha, a mãe é uma pessoa bem intensa.

“A minha mãe é um pouco zangada”, brinca. “Às vezes eu questiono a forma de fazer algumas coisas. A gente se desentende, mas rapidinho fazemos as pazes. Esse intervalo entre a doçura e a ‘explosão’ mostra os extremos dela”.

Essa mulher forte, como o sabor da pimenta, encontrou na terra a matéria prima para o empreendedorismo. Divina aprendeu com suas raízes a lidar e transformar a pimenta em um negócio lucrativo. O pai, agricultor, ensinou tudo a ela ainda na infância. Hoje, a venda dos molhos produzidos manualmente ajuda no sustento das duas famílias e contribui para a geração de renda e desenvolvimento da região.

“O meu pai já plantava pimenta. Com as vendas desse tempero, ele sustentava a gente e conseguia comprar o que precisávamos para os nossos estudos. Quando eu me casei, fiz a roça com o meu marido e nós plantamos pensando nos nossos filhos. Hoje eu vejo o resultado. Tudo valeu a pena”, disse a empreendedora.

Com o apoio da prefeitura, por meio da Agência Municipal de Empreendedorismo (AME), Karina conseguiu uma linha de crédito junto ao órgão municipal, no valor de R$ 3 mil, para comprar mais ingredientes e aumentar a produção delas. Os molhos artesanais à base de pimenta com nata, soro, tucupi, azeite ou vinagre na dose certa, são vendidos sob encomenda e agradam os mais diversos paladares.

Toda vez que vê um trabalho pronto, dona Divina fica orgulhosa. A mesma sensação que a Karina tem quando se deixa levar pelo instinto e consegue transformar o que é recolhido do quintal de casa, em obra de arte. Nos molhos são usadas, aproximadamente, cinco variedades de pimenta, entre elas a “olho de peixe”, murici, malagueta, biquinho e pimenta acerola.

Na culinária, as pimentas realçam o sabor de pratos como a Damurida (caldeirada de peixe) ou a carne de caça. Segundo as empreendedoras, o segredo é fazer cada um deles com amor, amor de mãe. Além de retorno financeiro, por meio desse trabalho, elas continuam um legado de gerações.

O empreendedorismo feminino vai além do lucro, está relacionado à visibilidade, reconhecimento, acolhimento e compartilhamento de informações. A partir desta perspectiva, negócios com um toque caseiro, como a criação de molhos de pimenta, também fazem parte do mundo empreendedor.

Se há pouco tempo, as mulheres se viam apenas em papéis secundários na economia, hoje suas qualidades e competências as levam a administrar negócios variados com excelência e propósitos bem desenhados, influenciando e, acima de tudo, incentivando outras mulheres a empreenderem.

“A minha mãe me mostrou que é possível empreender em família. Eu agradeço a ela por me tornar a mulher que eu sou hoje. Ela me ensinou tudo. Eu nunca vou esquecer o que ela fez e faz por mim todos os dias. Ainda vamos longe juntas”, disse.

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