Inauguração espetaculosa do bloco incompleto do HGR, em março de 2022. Foto: Secom RR.

O principal hospital público de Roraima, o maior deles, tornou-se um exemplo prático de como funciona (ou não funciona) a coisa pública quando não se entende nada de gestão. O HGR está lá, de pé, com bloco novo inaugurado, com seletivo atrás de seletivo para tentar atender às demandas, mas o seu funcionamento compromete-se por condições de insalubridade aos servidores e aos pacientes. É uma ilustração perfeita, desenhadinha, que resume bem o governo de Antônio Denarium (PP) – tudo tem, mas tá faltando. É com essa lábia de vendedor que ele diz que a Saúde pública brilha como um sol para cada morador desse estado.

Ontem o roraimense ficou perplexo ao deparar-se com as imagens de uma chuva de sangue, que escorria pelo teto do Bloco E (o novo), em meio as salas novas e inauguradas há cinco meses, em clima de festa por dezenas de políticos em ritmo de carnaval, e, em ano eleitoral. Agora, ainda incompleta, a obra faraônica e multimilionária que ultrapassa três gestões ineficazes e pouco céleres, permanece sendo para muitos pacientes a única esperança de receber atendimento médico.

Se em tempos passados o problema do hospital era conseguir um bom atendimento, hoje esse não é mais o entendimento do usuário. Profissionais bons têm, estrutura para trabalhar, não. Como a gestão da saúde é um conjunto de fatores, a equipe experimental de comando da Sesau, que já vai em sua décima edição em menos de 4 anos, tenta agora fazer parecer que tudo transcorre perfeitamente dentro daquele prédio pomposo por fora, e vazio de recursos e condições para oferecer o bom atendimento por dentro.

De elevadores que quebram com gente dentro, a infiltrações que deixam o novo prédio alagado em quaisquer chuvinhas, o Hospital Geral segue sua batalha na tentativa de ser a unidade de referência médica de Roraima e região. A mão de obra é boa, é qualificada, e existe empenho visível inclusive por parte dos servidores comissionados apoiadores do governador, que fazem o que podem e o que não podem para manter aquela unidade funcionando. O capital humano é mal valorizado e pouco reconhecido, e geralmente os louros por situações pontuais de êxito se resumem à troca de elogios dentro do primeiro-escalão da Sesau. “Obrigado, servidor”, tá em falta.

Ingratidão governamental 

E se não fosse por eles, os servidores, o cenário provável era de total tragédia. Há quem pague o próprio bolso para poder tomar um café ali dentro, e há também quem faça cotas para conseguir comprar um medicamento ou insumo para ajudar ao paciente que não tem condições. Nem todo herói usa capa, muitos estão de jaleco ou macacão, e tantos deles sem receber adicional de insalubridade para conseguir conviver em meio a tanta irresponsabilidade, inexperiência e falta de conhecimento para com a coisa pública.

Não faltam a nossa Saúde apenas profissionais, reconhecimento, salubridade, insumos e estrutura – falta, sobretudo, preparo a quem nos governa. Em meio ao caos generalizado, a solução encontrada por Denarium foi levantar uma cortina de fumaça, um calaboca de antecipação salarial para todo mundo nesta sexta-feira (26). O que Roraima precisa vai muito além disso, governador. É com este tipo de conduta que fica clara a intenção imediatista de enganar o eleitor para sobreviver a esta campanha. Não passará sem o devido registro.

Sem entender sequer o básico da administração hospitalar, o governador delega soluções à secretária de Saúde com ares de contos de fada. A chuva de sangue que escorreu pela sala, por exemplo, teve que ser investigada e resolvida por Seu Zezinho, da manutenção. Se existiu ou existe algum risco de contaminação aos que estão ali dentro, seu Zezinho não saberá responder. A vigilância sanitária fechou os olhos, porque se visse o local como ficou, seria legalmente obrigada a interditar o Hospital Geral. O Ministério Público tomou a frente e fez recomendações para que o governo reaja e trabalhe pela manutenção do espaço. Questiono se o responsável pela Promotoria de Defesa da Saúde tenha visto in loco tais acontecimentos, caso contrário, possivelmente teria requerido à Justiça uma interdição imediata.

Neste caso, deve ter se deparado com o dilema: interditar de que maneira, se a única possibilidade de plano B seria a utilização das tendas que não aguentam chuva, e que já estão servindo de alojamento improvisado para profissionais e pacientes da Maternidade Nossa Senhora de Nazareth?

Saúde de referência, ele diz

A maternidade pública está do jeitinho que a chuva deixa. Se ela vier forte, torçamos para que a gestante não esteja em trabalho de parto, pois poderá ter que se deslocar no meio do procedimento até outra tenda que não tenha goteiras. E assim, de ponto em ponto, o povo vai perdendo a confiança em poder contar com o poder público, e ficando cada vez mais descrente da política em Roraima, que só privilegia a um grupo minoritário de “parceiros”.

Ao mesmo tempo em que as notícias eclodem com o descuido para com a saúde, o governador faz comparativos mentirosos e com dedo em riste, contra sua principal opositora, Teresa Surita (MDB), ex-prefeita da capital. Na gestão dela, pelo menos, nunca ouviu-se falar em chuva de sangue escorrendo pelas paredes do Hospital Santo Antônio, muito menos em falta de estrutura, medicamentos ou insumos a ponto de cogitar-se não conseguir manter uma unidade de saúde funcionando.

Está posta a diferença entre ambos: um não sabe fazer, finge que sabe, não faz, mas quando alguém faz por ele, dá errado. Outra já fez, deu certo, sabe fazer e tem vontade de fazer melhor. É esse o preço de um voto.

A saúde pública de Roraima dança na corda bamba de sombrinha, assim como na música de Elis Regina.

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