Rodrigo Cataratas. Foto: reprodução/Instagram

Um empresário ligado ao garimpo encabeça a lista dos candidatos que declararam ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) terem as maiores quantias em dinheiro em espécie, recursos que não estão aplicados em bens ou qualquer instituição financeira. Em tempos de Pix e transferências eletrônicas cada vez mais práticas, Rodrigo Martins de Mello, o Rodrigo Cataratas (PL), que disputará uma cadeira de deputado federal por Roraima, disse guardar um total de R$ 4,5 milhões em moeda nacional — o que daria, por exemplo, para encher duas maletas e meia com notas de R$ 100.

O montante de dinheiro “no colchão” equivale a 13,4% do seu patrimônio declarado — R$ 33,6 milhões em bens, o que inclui dez aeronaves e 11 veículos.

Guardar dinheiro em espécie não é considerado crime. A prática de manter dinheiro “no colchão”, porém, não é recomendável do ponto de vista financeiro, já que a moeda perde valor com o passar do tempo por causa da inflação. A pessoa que tem altas quantias em casa ou na sede de uma empresa, por exemplo, também está sujeita a uma série de imprevistos; de intempéries a roubo. No caso do patrimônio dos candidatos, o TSE não verifica a veracidade das declarações enviadas. Mas as informações prestadas à Justiça Eleitoral podem eventualmente servir de base para investigações posteriores pelo Ministério Público, já que os documentos são públicos.

Cataratas é empresário e garimpeiro, como ele mesmo se apresenta. Dono de empresas de táxi aéreo, o candidato é investigado pela Polícia Federal sob suspeita de participar de esquema de exploração ilegal na Terra Indígena Yanomami. Questionado sobre a razão de manter o montante em dinheiro vivo, ele disse ao jornal O Globo que usa os recursos em suas atividades comerciais.

“Tenho essa capital de giro disponível por possuir uma PLG, que é a permissão de lavra garimpeira em nome de pessoa física, em que grande parte da operação é feita com movimento de recurso em espécie”, afirmou.

Defensor do garimpo, o empresário costuma usar suas redes sociais para questionar ações do Ministério Público Federal e do Ibama contra as operações de fiscalização na região. Cataratas foi alvo de três processos por crime de organização criminosa e exploração ilegal de ouro na terra Yanomami, em Roraima.

No ano passado, nove aeronaves que estavam em nome de suas empresas, além de peças usadas para montar os chamados “helicópteros frankenstein” utilizados no garimpo, foram apreendidas pela PF e pelo Ibama. Os bens foram devolvidos por decisão da desembargadora Maria do Carmo Cardoso, do Tribunal Regional da 1ª Região (TRF-1), em dezembro passado.

Em sua decisão, a desembargadora afirma que “as investigações apenas apontam indícios ou meras suposições, sem comprovar minimamente, neste momento, a relação dos pacientes com os supostos delitos punidos com penas de reclusão” e que “o conteúdo documental” apresentado por Cataratas “demonstra as autorizações legais e ambientais necessárias para a prática profissional de extração de minérios e aviação na região”.

Uma das empresas da qual é dono, a Tarp — Táxi Aéreo Ltda., recebeu R$ 29,1 milhões em contratos com o governo federal firmados entre setembro de 2016 e dezembro de 2018, a maioria com a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).

À reportagem, o empresário afirmou que, apesar de ser investigado desde 2007 por ligação com o garimpo, nunca chegou a ser denunciado. Segundo ele, em 2018, um avião que havia vendido pouco tempo antes foi apreendido em uma reserva indígena, mas os inquéritos foram encerrados sem concluir por seu envolvimento.

“Eu sou garimpeiro legal, minha atividade é totalmente regular”, afirmou.

 

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