A testagem em massa da população para o coronavírus, que passou a ser realizada somente agora pelo Governo do Estado, poderia ter salvado a vida de muitas pessoas se este procedimento tivesse sido adotado pela Prefeitura de Boa Vista logo no início da decretação da quarenta, acompanhada da adoção de um protocolo de atendimento nos postos de saúde para medicar e acompanhar a evolução dos pacientes.
Mas, nenhuma ação emergencial foi realizada no atendimento primário pelo município. Pelo contrário, a prefeita Teresa Surita (MDB), orientada por seu mentor e mestre, o ex-senador Romero Jucá (MDB), preferiu fazer politicagem, abrindo uma briga política com o governador Antonio Denarium (sem partido), que naquele momento estava enredado com seguidas denúncias de corrupção na Secretaria Estadual de Saúde (Sesau).
Como não havia qualquer protocolo adotado nos postos de saúde e sequer o atendimento primário estava preparado para a ação de prevenção e combate à Covid-19, as pessoas procuravam as Unidades Básicas de Saúde (UBS), mas eram mandadas para a casa com a orientação de retornar oito dias depois, mas geralmente sequer encontravam testes disponíveis quando voltavam.
Outros sequer retornavam ou procuravam o atendimento básico, porque não havia qualquer orientação nesse sentido, porque a prefeita e o próprio Jucá usavam suas redes sociais e seus veículos de comunicação para induzir a população a buscar somente o Hospital Geral de Roraima (HGR), já saturado desde a chegada em massa de venezuelanos durante a migração desordenada, há alguns anos.
Teresa e Jucá achavam que iriam faturar politicamente em cima do caos na saúde pública estadual e na superlotação do HGR, enquanto os postos de saúde sequer eram cobrados, porque a população achava que não era obrigação principal da Prefeitura de Boa Vista atuar no primeiro atendimento das pessoas que sentem os sintomas do coronavírus.
Como a briga política que Teresa e Jucá alimentava não conseguiu prosperar e as pessoas começaram a cobrar o atendimento básico, somente a partir daí a Prefeitura começou a agir, primeiro de forma lenta e, depois, centralizando o atendimento de pacientes de Covid-19 apenas em novos postos de saúde, ação esta que continua até hoje, quando todos os 50 postos deveriam ter sido mobilizados, além da criação de uma força tarefa para testagem rápida da população.
Recursos enviados pela União não faltaram para a Prefeitura adotar este procedimento a fim de salvar a vida das pessoas e até evitar que os pacientes fossem parar no HGR, quando a saúde já estava agravada e, devido a isso, muitos saíram de lá mortos, direto para o cemitério, já que nem velório é permitido para as vítimas da pandemia.
Enquanto fingia estar preocupada com as pessoas, Teresa ficava na sua bolha social, o Twitter, alimentando uma guerra com Denarium, dizendo que a obrigação era somente do HGR e repetindo o mantra “fique em casa”. Desde lá a prefeita só tem olhos para a campanha eleitoral, planejando inauguração de reforma de praças públicas e acompanhando pessoalmente a construção do seu novo bibelô eleitoral, a nova orla, chamada de Parque do Rio Branco.
Nesse meio tempo, o governo conseguiu reabilitar-se na condução da saúde pública, cessando a troca sequencial de secretários, enquanto os casos de corrupção seguem sob investigação, e agora parte para a testagem em massa da população, ação que vem sendo feita com atraso pelas autoridades sanitárias locais, mas que vai ser decisiva para salvar vidas e poupar os hospitais nesse momento crucial do avanço da pandemia.
A Prefeitura, por sua vez, segue com sua política da mesmice na zona de conforto, com Teresa e Jucá mais preocupados com inauguração de obras, sem sequer fazer uma inspeção nos postos de saúde para saber o que está ocorrendo. E provavelmente deve seguir com apenas nove unidades atendendo pacientes de Covid-19, enquanto Teresa fica na sua bolha, alimentando intrigas políticas, campanha eleitoral abertamente e falando somente na conclusão da nova orla, algo que passou a ser o novo mantra político dela.
Teresa está tão desinteressada com a situação do coronavírus, que já foi condenada pela Justiça Eleitoral a retirar das redes sociais os institucionais com o seu candidato a prefeito, que é o seu vice. Isso mostra o grau de interesse dela quando se fala de campanha eleitoral e pandemia. É como se não importassem as vidas já perdidas e as que ainda irão ser perdidas até o final dessa pandemia. É a tal da politicagem.
*Colunista
