O número de casos de coronavírus em Boa Vista é 10 vezes maior do que foi apontado até agora nas estatísticas oficiais, de 14,1 mil mil infectados, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (Sesau). A estimativa é da pesquisa EpiCovid-19, feita pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e financiada pelo Ministério da Saúde.
Os dados da terceira fase do estudo foram disponibilizados nesta sexta-feira (3). A taxa de pessoas que foram diagnosticadas com os anticorpos do coronavírus caiu em relação a segunda fase – de 25,4% para 22,6%. À época estimava-se quase 100 mil pessoas estivessem contaminadas. Com base na projeção de população do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que atualiza os dados em tempo real, a estimativa é que 140 mil pessoas em Roraima já tenham sido infectadas pela doença na capital.
A pesquisa também analisou a cidade de Rorainópolis, ao Sul do Estado, e a taxa caiu de 10,3 para 4,7%. Com base na população da cidade, a estimativa é que 1,4 mil tenham sido infectados – número bem acima do dado oficial, de 554 casos confirmados.
No Brasil, em maio, a conclusão era de que 1,9% da população brasileira estava infectada, agora o percentual saltou para 3,8%. O coordenador do trabalho e reitor da UFPEL, Pedro Hallal, explicou que o número de pessoas que já tiveram contato com o vírus é “muito maior” do que as estatísticas mostram.
“O tamanho do iceberg do coronavírus é muito maior do que aparece nas estatísticas porque muita gente não procura os serviços médicos”, explicou Hallal. Ele evitou, no entanto, projetar um número total de infectados, em função de o estudo ter sido concentrado em 133 cidades.
O EpiCovid-19 testou 89.397 pessoas em capitais e cidades de grande porte entre 14 de maio e 24 de junho, em três fases de pesquisa. Trata-se do maior estudo epidemiológico do mundo sobre coronavírus, levando em conta o número de pessoas testadas e densidade demográfica.
O levantamento aponta que há uma diminuição na curva de contaminação no Norte do país, enquanto as outras regiões estão em fase crescente. Segundo Hallal, o estudo também mostra que as medidas de isolamento social surtiram mais efeito na Região Sul, retardando a propagação.
“No Norte do país, nós temos uma epidemia muito mais intensa, mas já em estabilidade. No Nordeste, a pesquisa ainda não observa isso. No Sudeste, Centro-Oeste e Sul há tendência de alta, mas ainda longe das outras regiões”, acrescentou Hallal. “O Sul do Brasil fez o distanciamento na hora certa, isso fez o vírus chegar com menos força”.
Os testes aplicados têm sensibilidade de 85%, ou seja, em 15% dos casos pode não detectar a doença. O estudo apontou ainda que a infecção é maior entre a população mais pobre, em função da aglomeração de pessoas em um determinado bairro ou residência.
Diferente de outros trabalhos na área, o estudo sugeriu que a maioria dos pacientes não é assintomática, mas apresenta sintomas leves. Chamou atenção das autoridades de Saúde ainda que 60% dos infectados tiveram alteração de olfato ou paladar.
O Ministério da Saúde informou que ainda avalia os resultados do trabalho e se irá contratar outras fases da pesquisa, como forma de auxiliar as políticas de combate à doença.