Comunidade indígena na terra Yanomami (Foto: Funai/arquivo)

A terra indígena Yanomâmi, entre Roraima e Amazonas, “está na iminência de um grave crise epidemiológica” com a chegada da Covid-19. O alerta é feito por um grupo de pesquisadores e apoiadores das etnias yanomâmi e ye’kwana por meio de uma nota técnica encaminhada nesta quinta-feira (14) à 6ª Câmara do Ministério Público Federal e que deverá ser enviada a outros organismos do país e do exterior.

O boletim epidemiológico do Ministério da Saúde desse domingo (17) apontou uma morte e 22 casos confirmados da Covid-19 na região do distrito sanitário Yanomami – eram 16 casos até dois dias atrás. De acordo com a nota técnica, além dos indígenas há pelo menos 16 funcionários das unidades de atendimento da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), vinculada ao Ministério da Saúde, contaminados pela doença na região.

“Já existem alguns focos da doença na terra indígena Yanomâmi e é alta a possibilidade de ela se espalhar por todo o território”, diz a nota técnica, assinada por 54 apoiadores e pesquisadores.

As distâncias são enormes e num caso de emergência de saúde o único meio de transporte viável é o avião – a viagem de uma pista de pouso dentro do território até Boa Vista pode levar até duras horas de voo em avião pequeno. O sistema de saúde em Roraima já entrou em colapso. O número de UTIs em Roraima, de 0,72 a cada 10 mil habitantes, está bem abaixo dos três a cada 10 mil preconizados pela OMS (Organização Mundial da Saúde).

Garimpeiros

Com a Covid-19, o temor de uma nova tragédia semelhante às do passado cresce dia a dia. A região convive com a invasão de garimpeiros, que, de acordo com representantes indígenas, tem destruído ecossistemas e transmitido doenças.

De acordo com os números oficiais, houve um óbito por Covid-19 entre os yanomamis até agora, um adolescente de 15 anos falecido no dia 9 de abril. No dia 26 do mesmo mês, uma indígena gestante, seu marido e uma filha pequena da comunidade Narauhi buscaram apoio no posto de saúde da missão Catrimani. Ela tinha sintomas característicos da Covid-19, como tosse, diarreia, febre e dores pelo corpo. Foram removidos para Boa Vista onde, na Maternidade, um teste na gestante resultou positivo para a Covid-19. Em 28 de abril, ela teve um parto natural. O bebê apresentou problemas respiratórios e faleceu horas depois.

“A maior terra indígena do país está na iminência de uma grave crise epidemiológica com a chegada da Covid-19 nos estados do Amazonas e de Roraima já com os primeiros casos confirmados ainda no início de abril entre os Yanomâmi e funcionários não indígenas que atuam no DSEI-Y [distrito sanitário]”, adverte a nota técnica.

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