A prefeita Teresa Surita (MDB) não cansa de repetir que ama Boa Vista e que quer cuidar da população boa-vistense. Mas ela é bem paga não para morrer de amor aos moradores. Foi eleita para cumprir com sua obrigação, que é zelar pelo bem público e para cuidar do bem-estar coletivo do contribuinte, que é esfolado diariamente com impostos.
É bom lembrar que o brasileiro trabalha cinco meses por ano só para pagar impostos e taxas. Nada mais justo que seja bem tratado pelos gestores públicos. Ninguém quer amor nem favor. O contribuinte quer ter a garantia dos serviços gratuitos e de boa qualidade conforme está na Constituição, bem como a boa aplicação dos recursos municipais, estaduais e federais que entram para os cofres públicos a partir do suor de quem paga impostos.
Amor é uma tapeação de marketing político de Teresa e de qualquer outro político que finge por ofício. Se fosse amor, não precisaria fazer nada escondido, conforme a Prefeitura faz de maneira contumaz nas obras milionárias, licitadas sem transparência e sempre sob contestação. Quem ama não esconde nem tapeia.
Ainda que tenha brotado esse amor todo por Boa Vista, Teresa tem o dever de retribuir o que esta terra fez por ela, que chegou aqui tão somente como a mulher de um governador biônico, a qual não tinha a menor empatia pela cidade, pelo Estado e pelas pessoas. Teresa andava com álcool na bolsa para higienizar-se depois de apertar as mãos e ser obrigada a abraçar os pobres nas andanças políticas do marido. Até depois que foi eleita pela primeira vez como política o álcool ficava na bolsa carregada por uma assessora. Hoje, quando o álcool é necessário, nem sai de casa para encarar as pessoas.
Como prefeita, nos primeiros mandatos (ela está no quinto), amargurava tanto essa terra e essa gente que não perdia tempo e no primeiro feriado caía fora de Roraima para curtir bem longe daqui. Houve até Carnaval em que ela sequer se dava ao luxo de entregar as chaves ao Rei Momo. Repassava a grana para as escolas de samba usarem em fantasias e carros alegóricos feitos de napa, papelão e plumas, e embarcava no primeiro avião para bem longe.
Se existe relação de amor com Boa Vista e seu povo, que é muito duvidável, Teresa deve ter aprendido com a sua mãe, essa sim gostou tanto da cidade que passou a morar e a viver em Boa Vista, indo a eventos com idosos, interagindo com as pessoas mais pobres e fazendo o que a filha prefeita não faz até hoje, mesmo dizendo que tem muito amor envolvido.
Sim, a prefeita não tinha outra opção a não ser gostar ou tolerar Boa Vista, pois foi na Capital roraimense que ficou rica financeiramente, ganhou independência política do ex-marido e seu mentor político, o ex-senador Romero Jucá, além de construir a possibilidade de vislumbrar voos mais altos. Embora tenha ganhado tanto dinheiro, na política não há limites para acumular poder e riqueza. Políticos querem sempre mais, por isso muitos usam a tática do suposto amor para disfarçar essa ambição.
É por isso que esse discurso de amor soa superficial. O coraçãozinho feito com as mãos ou com emojis de rede social não existiria se não houvesse muito dinheiro envolvido desde o começo, quando criticar e fiscalizar era pecado mortal. Só dá para acreditar em amor quando todas as práticas e decisões políticas passarem a ser transparentes, com tudo bem explicadinho, como exige a legislação de transparência pública. Porque é fácil falar em amor quando os bolsos estão cheios. E a política já deu muitos cifrões a quem pega o primeiro avião e deixa a parte do amor para a mãe que escolheu um lugar perfeito para quem já não tem mais vaidades e grandes pretensões além de uma vida tranquila.
Mas Boa Vista, aí sim, essa cidade tem um coração grande para receber muita gente que chega puxando a carroça e volta de avião, na primeira classe, para não se misturar com o povão, alguns com a ingratidão ou fingindo que é amor só para sugar até o último cifrão.
*Colunista