Carro com mulheres e crianças foi atacado ao tentar passar por bloqueio na BR-174 (Imagem: Reprodução)

As cenas aterradoras de um grupo de brutamontes atacando o carro onde só estavam mulheres e crianças, em um bloqueio feito no trecho sul da BR-174, demonstram muito bem que há algo mais do que protestar pela abertura do garimpo em terras indígenas. O garimpeiro humilde, aquele que vive na ilusão de encontrar a solução para todos os seus problemas no minério, sabe que ele é um trabalhador oprimido e não cometeria uma insanidade daquele tipo.

É verdade que o garimpo acaba atraindo gente de índole ruim, pois onde há circulação de valores sempre haverá os espertalhões e os que tentarão levar vantagem por meio do crime. Mas o banditismo não representa a imagem do garimpeiro, que acima de tudo é um sonhador. O ataque àquela família dentro do carro chama a atenção para um poder paralelo querendo defender a ilegalidade para manter seus negócios escusos por meio do garimpo.

Se a Polícia Federal aprofundar suas investigações poderá chegar a ligações que irão levar à sede desse governo que aí está, onde há gente se beneficiando do garimpo ilegal, senão ajudando a financiar as atividades criminosas nas terras indígenas. A apreensão de aeronaves é um grande indicativo de gente que transita nos corredores palacianos. Esse pessoal fatura muito alto e tem todo o interesse na continuidade das atividades ilegais, as quais servem também para lavar dinheiro sujo da corrupção e do tráfico de droga.

A própria Polícia Militar veladamente admite-se incapaz para atuar em regiões que servem de corredores para o garimpo ilegal, como Samaúma e Apiaú, entre os municípios de Mucajaí e Alto Alegre, áreas de trânsito para o garimpo na Terra Indígena Yanomami. Enquanto garimpeiros, geralmente os pequenos, transitam por essas áreas, sitiadas pela violência que é atraída pela circulação de dinheiro, os grandes nem pisam os pés por lá, comandando voos em áreas nas cercanias de Boa Vista e/ou dando ordens em seus gabinetes refrigerados.

São esses financiadores e gerenciadores do garimpo ilegal que têm interesse em usar os garimpeiros inocentes e também arruaceiros para pedir a abertura do garimpo ilegal, como se isso fosse possível. O garimpeiro, aquele trabalhador sonhador, é enganado a acreditar que seja possível o governo ou os políticos liberarem o garimpo em terras indígenas. Ele sequer imagina que, se um dia essa atividade for legalizada, jamais será desta forma que aí está, com maquinários abrindo grotões no leito ou nas margens do rio, engolindo matas ciliares e lançando mercúrio.

Esse tipo de garimpo com maquinário e de gente trabalhando como escravos dos financiadores de balsas jamais será legalizado. Jamais. Nenhum país civilizado admite mais tal atividade. Essas atividades que se assemelham à barbárie sempre serão consideradas ilegais em qualquer parte do mundo. A legalização do garimpo em terras indígenas (se e quando ela acontecer) só permitirá a exploração por meio de empresas de grande porte, com tecnologia capaz de atender a todas exigências ambientais e técnicas que a mineração moderna exige.

Ainda assim, com toda tecnologia, fiscalização e rigorosas normas, as tragédias ambientais e humanas ainda ocorrem, a exemplo dos trágicos rompimentos de barreiras que devastaram as cidades mineiras de Mariana e Brumadinho. Mas todas essas informações são propositalmente escondidas dos garimpeiros sonhadores e da população desempregada que precisa trabalhar para sobreviver.

Essas pessoas são ludibriadas para que não percebam os verdadeiros interesses de quem realmente ganha dinheiro com as atividades ilegais que exploram a mão de obras de homens e mulheres que buscam a sobrevivência. Para frisar: se as investigações da PF forem a fundo, vão encontrar as ramificações que irão apontar que existe “peixe graúdo” por trás de tudo isso que está acontecendo, inclusive em gabinetes governamentais…

*Colunista

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