Vez por outra, surge nas redes sociais alguém pregando o discurso de que os venezuelanos estão trazendo todos os tipos de doença para Roraima, além de os culparem pela deterioração da saúde pública, especialmente pela superlotação provocada nos hospitais públicos. É fato que a imigração tem contribuído para piorar a situação no Estado devido à fragilidade da fiscalização na fronteira, onde há caminhos clandestinos que permitem que pessoas acometidas de doenças infectocontagiosas entrem com facilidade.


Mas o que muitos esquecem é que, embora haja a precariedade do sistema público de saúde e riscos de transmissão de doenças contagiosas, existe um poder público conivente com a corrupção sistêmica na saúde pública, que ajudou a esfacelar o setor muito antes da crise migratória; e que, apesar dos governos relapsos e coniventes com essa situação, existem profissionais bem preparados e esforçados atuando para prevenir e bloquear doenças, além de imunizar a população.

Foi com esta competência e agilidade que essas autoridades sanitárias conseguiram impedir que o sarampo, antes erradicado no Brasil, avançasse e chegasse ao nível  de  calamidade no Estado.  E tem sido assim com doenças como dengue, zika, chikongunha e outras que se instalaram em Roraima antes da imigração desordenada.  Graças a eles tudo está sob controle, apesar de o governo não fazer sua parte como deveria, dando estrutura e apostando nos profissionais bem como na pesquisa.

 
O que as pessoas também não comentam é que muitos pais e mães negligenciam a sua própria saúde e a de seus filhos ao não atualizarem a vacina regularmente nos postos de saúde ou mesmo dando o “jeitinho brasileiro” ao viajarem para outros países com o cartão de vacina fraudado ou mesmo sem nunca terem se vacinado. Em todas as campanhas de vacinação, é possível ver as autoridades sanitárias praticante implorando que as pessoas se vacinem ou levem seus filhos para que sejam vacinados. 


Há ainda os que propagam fake news e os qye acreditam piamente que as vacinas provocam doenças ou causam reações mortais.  É como se estivéssemos voltando há séculos na História, quando a desinformação e as mentiras levaram as pessoas a se revoltarem com a obrigatoriedade de se vacinar, prejudicando o controle do avanço de doenças. É o absurdo equivalente ao se constatar que ainda tem gente que acredita que a Terra é plana.


É desta forma que existem aqueles que jogam a culpa exclusivamente nos venezuelanos, enquanto não fazem sua parte, que é se proteger com vacinas. Inclusive, desde o encrudescimento da crise imigração, há quem acuse as mulheres venezuelanas de estarem propagando doenças venéreas ao se prostituírem a céu aberto nas ruas do bairro Caimbé, sem qualquer dado estatístico para se comprovar isso, quando a responsabilidade por impedir uma possível transmissão de doenças deveria estar sendo atribuída aos homens brasileiros por favorecerem a prostituição sem usar preservativo. 

Todos deveríamos estar fazendo a nossa parte no quesito saúde pública. Os políticos deveriam proteger e fortalecer a saúde púbica. O governo deixar de ser conivente e combater a bandalheira. Os profissionais de saúde atuando em sua área, como muitos vêm fazendo. E a população se vacinando  durante as campanhas e rotineiramente para atualizar seu cartão de vacinação, bem como se protegendo, principalmente os que vão às zonas meretrícias.

Do jeito que o assunto é colocado nas redes sociais, as acusações rasas contra os estrangeiros não contribuem em nada para o debate e só alimenta a desinformação e o ódio gratuito aos imigrantes. A imigração contribui para piorar as condições, mas a população não vem fazendo sua parte e os governantes sendo omissos há anos com o esfacelamento da saúde pública. Aí o caos se estabeleceu.

*Colunista

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