Obra de uma tubulação abandonada na estrada da Vila Fonte Nova
Há cerca de cinco anos, eram dez proprietários rurais que estavam investindo no turismo na região da Serra Grande,
no Município do Cantá, e do trecho sul da BR-174, que inclui também os municípios de Bonfim, Mucajaí, Iracema e Caracaraí, uma das rotas turísticas que os empreendedores tentavam consolidar.  O tempo passou, o governo mudou e hoje só existe um empreendedor nadando contra a correnteza da falta de investimento governamental, o proprietário da Fazenda Castanhal, no Cantá. Os demais fecharam as portas.
Nesse período, o turismo de aventura na Serra Grande se estabeleceu, principalmente no período de inverno, quando as chuvas abundantes formam diversas cachoeiras, sendo a principal delas a Véu de Noiva.  Enquanto autônomos faturam levando pessoas para trekking e banhos nas imensas quedas d’águas, os proprietários rurais sofrem as duras consequências do inverno, quando as estradas ficam intrafegáveis por causa das imensas crateras formadas pela erosão das chuvas e atoleiros intransponíveis.
Essa falta de investimento na infraestrutura, tanto por parte das prefeituras e do Governo do Estado, fere de morte os empreendimentos, principalmente na região da Serra Grande.  As propriedades ficam praticamente ilhadas, no inverno, e com os turistas fugindo por causa dos buracos, no verão.  Sem manutenção das estradas e pontes, não há tempo bom para os investidores.  O sofrimento é durante o ano todo e até quem resiste, como a Fazenda Castanhal, já pensa em desistir porque não há qualquer tipo de investimento por parte do governo.
Algumas propriedades no Cantá têm tentado apostar em eventos como ciclismo e corridas de aventura, como a que ocorreu nesse fim de semana na propriedade do Medalha, na região da Serra Grande II.  Tudo isso na cara e na coragem, porque os governos têm como loucos  aqueles que apostam no turismo. A insensibilidade é tanta que, em vez de chamar para conversar quem aposta no turismo, emissários do governo subiram a Serra Grande e recolheram o acampamento base que os aventureiros montaram no topo para evitar que os grupos tenham que levar peso a mais, como panelas e outros apetrechos para acampamento.
É um absurdo que, sob a alegação de que os autônomos que levam grupos de aventureiros para a serra não têm empresas formalizadas, haja uma ação de desrespeito com as pessoas que fazem turismo por lá. Já que o governo se omite e não dá o básico, que é a infraestrutura, então deveria chamar esses autônomos para dar apoio e ajuda para que se formalizem.  Mas jamais agir como se fosse dono da serra e polícia de ocasião – a mesma serra que não recebe nenhum apoio quando há incêndios que destroem tudo no período de seca.
Enquanto a Fazenda Castanhal e outros empreendedores rurais tentam resistir, a incompetência dos governantes pode ser vista nas estradas. Na região da Serra Grande II, por exemplo, a obra de tubulação  na estrada de acesso à Vila Fonte Nova está abandonada (veja foto acima). No inverno, esse trecho fica debaixo d’água, inviabilizando o turismo na região.
E assim nossos governantes fecham os olhos para um setor que pode ser um gerador de emprego e renda na zona rural, mas é completamente esquecido e largado ao descaso.  Afinal, isso não dá retorno eleitoreiro nem desperta o interesse dos grandes produtores, que já sabem onde mamar nas tetas governamentais, por meio de fartas isenções.  Em tempos dessa “nova política”, turismo pode até ser “criminalizado” por apostar na sustentabilidade do meio ambiente. Se os empreendedores já são tachados como loucos, a tendência é só piorar.

*Colunista, idealizador do site www.roraimadefato.com.br

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