Desafio de Boa Vista é uma mobilidade urbana de verdade que privilegie o pedestre

Acostumada a tomar decisões sem ouvir a população e sem consultar sua base aliada, a prefeita Teresa Surita (MDB) foi obrigada a revogar o decreto que obrigava os agentes de trânsito a multarem mais de 200 condutores de veículos por mês para que obtivessem maior pontuação em suas avaliações de produtividade. Essa obrigação acabou por criar a política do “arrocha na multa”, que vinha sendo colocada em prática pelos agentes municipais.

Estava óbvio que tal decreto fugia de qualquer bom senso e colocava nas costas do contribuinte boa-vistense um fardo muito pesado, que era a possibilidade de ser multado a qualquer momento por agente de trânsito ávido por “bater a meta” de produtividade estipulada por meio do famigerado decreto. A prefeita também anunciou, com anos de atraso, o início de uma campanha educativa no trânsito, algo que vinha sendo tratado com omissão pelo município.

Teresa chorava na sua rede social Twitter que estava sendo perseguida ao ser criticada por ter sido instituída uma indústria da multa na Capital. Ao voltar atrás no decreto, a prefeita teve que engolir o choro em que ela dizia ser vítima de uma perseguição que só existia na cabeça dela. E isso significa uma vitória da população, que foi às redes sociais repudiar o arrocho que vinha sofrendo e cobrar mudanças.

Tal episódio dever servir de exemplo sobre a força que a opinião pública tem quando decisões erradas de políticos de uma forma geral prejudicam a coletividade. Os boa-vistenses já vêm pagando um preço caro por essa política que determina multar primeiro sem que houvesse uma campanha educativa para alertar e preparar o cidadão. Multar os irresponsáveis é necessário, mas ter a multa como principal forma de conduzir o trânsito não é a forma correta.

Falta mais. Conforme já foi enfatizado em artigos anteriores, é necessário haver transparência na notificação dos condutores multados para que eles possam recorrer administrativamente das autuações nos casos em que houver erro ou excesso por parte do agente de trânsito. Afinal, como qualquer ser humano, os servidores estão passíveis de erros. Limitar a publicação dos autuados apenas no Diário Oficial do Município é uma prática que dificulta o recurso por parte dos condutores, os quais deveriam receber a notificação em casa, no endereço residencial.

Acima de tudo, queremos um trânsito humanizado, em que a máquina não prevaleça sobre o ser humano. Mas isso só é possível por meio de um conjunto de ações, como mobilidade urbana de verdade, que favoreça o pedestre e o transporte público, algo que vem negligenciado pela Prefeitura. A política da multa em primeiro lugar é a forma mais errada de querer impor um ordenamento no trânsito. Agora Teresa começa a entender que a população vai reagir.

*Colunista, idealizador do site www.roraimadefato.com.br

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