Embora a crise no sistema prisional tenha mostrado que está sob um certo controle, desde a intervenção federal no fim do ano passado, o mesmo não se pode dizer a respeito da violência que resulta da briga entre facções criminosas, fora dos muros dos presídios, na disputa por por poder e o comércio de droga. A mais recente chacina de um grupo de jovens, na periferia de Boa Vista, no fim de semana, só mostra que a população boa-vistense segue refém da violência.

Jovens sem perspectivas de futuro, vivendo na ociosidade e fora da escola, acabam sendo cooptados por facções através do tráfico de droga. Olhando o perfil de alguns desses jovens, no Facebook, é possível ter a real noção da realidade em que eles vivem, exibindo-se com drogas e armas, enaltecendo o mundo do crime e mostrando que não temem a avaliação da sociedade nem a ação da polícia.

A falência das famílias como núcleo social e da escola como perspectiva de futuro empurra crianças para a permissividade de uma vida sem regras e de desmotivação por busca de saber e conhecimento. À margem das políticas públicas cada vez menos presentes, acabam atraídos pelo novo círculo social emanado do crime, buscando uma referência em uma das facções criminosas. Aí está a centelha para a criminalidade que vivemos em Roraima, não só na Capital como nos municípios do interior.

Os bandidos sabem que os jovens se tornaram alvos fáceis na periferia de Boa Vista, prontos para atenderem ao chamado das facções. Os comandantes do crime também sabem que o momento é propício para cultivar o ódio gratuito, inclusive contra a própria sociedade e contra as autoridades. O ódio se estabeleceu na política neste último pleito, tanto da esquerda para direita, quanto da ultradireita para a extrema esquerda.

E o pior ocorreu: o crime se organizou, enquanto o Estado foi surrupiado pela corrupção, a ponto de ficar tão desorganizado, que o cidadão nem acredita mais na política. Em Roraima, a situação ficou mais delicada com a imigração desordenada, que contribuiu para degradar ainda mais os esteios da sociedade. Lembrando que as crianças e os jovens são as principais vítimas quando a sociedade desmorona.

A Educação é um dos pilares para mudar esse triste quadro, mas o que vemos é um desmonte do setor. Tornou-se um plano do governo Bolsonaro destruir o pouco que restava da Educação, com um duro golpe do corte de verba para as universidades. Em Roraima, o governo Denarium mostra-se incompetente até para resolver a questão de transporte escolar, deixando alunos do interior sem aula. Na Capital, a Prefeitura faz propaganda com a primeira infância, mas abandona obras de creches nos bairros periféricos.

Diante desse quadro, é impossível que se mude a realidade da violência que se estabeleceu no Estado, com o crime organizado dando as ordens. O governo pode até levar adiante esse plano de manter o controle dentro dos presídios, mas sem investir na melhoria do sistema prisional, um dia a panela de pressão explode. Enquanto o chiado da pressão dessa panela é abafado por essa falsa política de contenção de presos, o barulho continua aqui, do lado de fora, com crimes bárbaros resultantes da disputa entre facções.

As perspectivas não são nada animadoras, pois o governo Denarium reluta para não realizar concurso público para as polícias e mostra-se perdido em seu projeto de governo. Ele parece acompanhar o que vem de cima para baixo. Enquanto o governo Bolsonaro comemora aumento de exportação de abacate para a Argentina, Denarium passeia em outros estados com aquela velha ladainha de que está atraindo produtores de fora para se instalarem em Roraima, que sequer tem energia confiável para oferecer… Enquanto isso, o crime só se organiza ainda mais!

*Colunista, idealizador do site www.roraimadefato.com.br

 

Deixe seu comentário

Please enter your comment!
Please enter your name here