Com a montanha de recursos federais que chegaram ao Estado, especialmente para a Prefeitura de Boa Vista, seria suficiente para termos uma Capital modelo não apenas para o Brasil, mas para o mundo. Essa fachada de jardinagem e praças reformadas nas áreas centrais serve apenas para engabelar uma população que recentemente saiu de uma cidade bem planejada, na década de 1940, somente no Centro, cercado por um imenso lavrado entremeado por lagos naturais e cortado por inúmeros igarapés.

Somos uma Capital povoada em sua maioria por migrantes, cujos primeiros a chegar fugiam das dificuldades de sua terra natal em busca de um novo recomeço numa Capital do Extremo Norte que estava começando a se estruturar. Quem aqui nasceu habitou-se a ter essa cidade estruturada no minúsculo Centro Cívico, mas que nas cercanias, onde mais tarde iriam surgir os bairros, pulsava uma vida interiorana, sem água tratada, sem energia elétrica, ruas na terra batida, famílias indígenas ainda morando em casas precárias, com destaque para os bairros Calungá, São Vicente e 13 de Setembro.

Não faz muito tempo, as mais altas autoridades de Roraima fizeram solenidade para inaugurar uma escada rolante no Aeroporto de Boa Vista,como se isso fosse uma grande maravilha. Há poucos anos, a Prefeitura de Boa Vista gabava-se em suas mídias por instalar semáforos na cidade em substituição a rotatórias, algo tão banal em qualquer cidade. Nossos dois shoppings chegaram dia desses, provocando rebuliço geral, inclusive com chacotas por causa de gente que não sabia usar as escadas rolantes.

Não seria deboche dizer que saímos da bicicleta para a moto, não faz muito tempo. Já ouvi gente discutir no trânsito gritando assim, no puro preconceito que acaba refletindo nossa recente realidade: “É nisso que dá sair do remo da canoa para dirigir carro na cidade”. E é assim que os políticos tratam o roraimense, considerado como um matuto, fazendo fachadas para que o eleitor arregale os olhos para jardinagem, enquanto eles metem a mão no dinheiro público por meio de licitações fraudulentas.

Boa Vista continua assim, como uma cidade que parece bem planejada nas áreas centrais, mas que vai mostrando sua desorganização na medida em que se chega aos bairros mais afastados. Com tanto recurso federal que chega, era para toda cidade sem bem planejada, com todas (TODAS!) as ruas asfaltadas, com todos os bairros organizados com esgoto, calçamento, postos de saúde, escolas, delegacias, transporte público de qualidade e tudo aquilo que uma cidade estruturada deve ter.

Mas, cegos com luzes, cores e flores, o eleitor boa-vistense maravilha-se com as fachadas, assim como se emperiquitou-se para conhecer o primeiro shopping e a primeira escada rolante no aeroporto. Enquanto se contenta com o básico, sob o argumento de que poderia ser pior, evapora-se boa parte da montanha de recursos federais que chegam, na boa malandragem do “rouba, mas faz”, orgulhando o peito inflado de quem acha argumento para justificar a maracutaia.

Não podemos esquecer que o astronauta Marcos Pontes, hoje ministro de Bolsonaro, sabia da possibilidade de não apenas Boa Vista ser modelo para o mundo, mas o Estado de Roraima. Por isso, veio aqui em 2012 e lançou o projeto Eco Estado, que iria transformar Roraima no primeiro Estado do Brasil com mudança da infraestrutura através de projetos pilotos em diversas áreas, melhoria no transporte, saneamento básico, tratamento e coleta de resíduos sólidos, além da produção de energia limpa e geração de emprego.

O projeto não foi para frente porque os governantes da época não só colocaram empecilhos como ainda tentaram propiná-lo, algo bem típico da canalhice política. Mas é hora de voltar a cobrar o astronauta, pois hoje ele é ministro de um governo que se elegeu sob a bandeira da honestidade. Ou será que essa honestidade foi só promessa de campanha? Ou o ministro sabe que não conseguirá furar essa espessa barreira do “rouba, mas faz”, onde a ordem é ludibriar os olhos do eleitor, enquanto o grosso do dinheiro vai parar no bolso de políticos? Esperamos por respostas sinceras…

*Colunista, idealizador do site www.roraimadefato.com.br

 

Deixe seu comentário

Please enter your comment!
Please enter your name here