Para tentar controlar uma inflação anual, estimada em 1.000.000%, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou em agosto um pacote de medidas econômicas. A mais visível foi a substituição da moeda bolívar forte pelo bolívar soberano, com o corte de cinco zeros. Dessa forma, 50 milhões de bolívares fortes passaram a valer 500 bolívares soberanos.

Três meses após mudança de moeda, venezuelanos não sentem efeito positivo de pacote econômico. Foto: EBC

Na prática, isso não significou muita coisa. Os preços não caíram, pelo contrário, e não houve alterações positivas na vida do cidadão venezuelano. “Não dá pra comprar, o que se chama de ‘Cesta básica’. Agora estão aumentando tudo! Eles estão aumentando o triplo, o quádruplo. Os comerciantes também estão se aproveitando dessa situação para aumentar os preços, então, para mim, não houve mudança positiva em nenhum sentido”, disse Juan Castro, que está desempregado há quase dois anos, e, para sustentar a família, acabou virando cambista ilegal de dinheiro na fronteira com o Brasil.

O economista, Rubens Savaris, professor da Universidade Federal de Roraima, analisa que o pacote econômico foi mal elaborado. “A medida adotada pelo presidente Maduro foi algo paliativo, apenas para evitar o colapso no sistema de pagamento da Venezuela. O problema grave, a hiperinflação, não foi resolvido e continuou se agravando ainda mais. A moeda local seguiu o mesmo processo de desvalorização. Medidas drásticas e impopulares precisam ser tomadas para iniciar o processo de recuperação da economia, e isso leva tempo”, avaliou.

Na fronteira com o Brasil, comércio está sem estoques e desemprego cresce. Foto: Avner Prado/Folhapress

O sapateiro Jesus Ramirez, que vive em Santa Elena de Uairén, na fronteira, classifica como catastrófica a adoção da nova moeda. “Agora estamos pior. Porque se um arroz ou um açúcar, comprávamos por 400 bolívares, eu hoje paguei dois mil bolívares. 400 bolívares valiam antes da mudança.. Por um açúcar, um arroz? Então se eu conserto um sapato e cobro 3.000 bolívares, por fazer uma costura, mal dá pra comprar um açúcar. É inaceitável, um país rico em gás de cozinha, e eu tenha que estar todos os dias cortando lenha, porque não posso comprar um botijão de gás, que custa aqui entre 50 e 100 reais”, disse.

CRISE ECONÔMICA – Desde 2015 o PIB (Produto Interno Bruto) da Venezuela tem caído cerca de 40% ao ano. A hiperinflação se traduz em racionamentos drásticos e os reflexos podem ser vistos em lojas fechadas ou com prateleiras quase vazias. A nova moeda caiu  no descrédito econômico e social.

 

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