Em Roraima, o mês também é dedicado à conscientização, informação e esclarecimentos sobre a epilepsia, por meio da campanha “Março Roxo”, conforme prevê a Lei n⁰ 1.737/2022, aprovada pela Assembleia Legislativa (ALE-RR). A campanha anual faz parte do calendário de eventos do Estado. Ainda de acordo com a lei, os órgãos públicos poderão fixar iluminação na cor roxa, como forma de dar visibilidade ao tema.
Além disso, a iniciativa privada e/ou entidades civis, organizações profissionais e científicas, poderão cooperar para a difusão de informações que ajudem nos objetivos desta lei.
“As campanhas de conscientização, como o ‘Março Roxo’, são fundamentais para combater o preconceito e garantir mais inclusão e respeito às pessoas com epilepsia. Na Assembleia Legislativa, temos o compromisso de transformar informação em ferramenta de mudança, e essa lei é um passo importante para ampliar o conhecimento da população sobre o tema”, ressaltou o presidente da ALE-RR, deputado Soldado Sampaio (Republicanos).
Causas e tratamento
A epilepsia é uma doença comum, caracterizada por uma condição isolada ou indicativo de problemas no cérebro, sendo genética ou adquirida. Esta última pode estar associada a lesões cerebrais, como traumatismo, AVC (acidente vascular cerebral), febre, infecções e até por abuso de substâncias como álcool e drogas.
Segundo o neurocirurgião Alcimar Júnior, essa condição se dá por uma espécie de descarga neurológica que acontece dentro da célula cerebral, ocasionando alterações clínicas, como convulsões, desorientação e alterações da personalidade. Ela acomete tanto crianças quanto adultos.
“Porém, aqui em Roraima, nos últimos anos, principalmente pós-migração venezuelana, muitas crianças têm nascido com alterações estruturais no cérebro ou paralisia, que podem evoluir para crises epilépticas”, afirmou o neuro, condicionando os casos à falta de acompanhamento pré-natal.
O tipo mais conhecido, ainda conforme o médico, é a epilepsia convulsiva. Ademais, há também a de ausência, na qual o paciente se “desconecta da realidade” e pode ter déficits neurológicos e focais, que retornam após as crises. “Pode acontecer de a pessoa desmaiar em uma crise generalizada. Normalmente, nesses casos, o paciente não se lembra do que aconteceu”, frisou.
O especialista ressalta que alguns casos têm cura e, outros, apenas controle, dependendo do diagnóstico. O tratamento pode ser feito à base de medicamentos ou procedimento cirúrgico. Além disso, há o método de implante de eletrodos próximo ao nervo vago, localizado no pescoço, que estimula a reorganização da mente, através de impulsos elétricos.
“Se o paciente tiver crises convulsivas sem causas aparentes, mudança repentina na personalidade e, ainda, tiver crises de ausência, ou seja, de desorientação, deve fazer uma investigação e fechar o diagnóstico. Vale também para quem já teve tumores na cabeça”, alertou o neuro.
‘Bati a cabeça e fiquei doente’
Um exemplo de epilepsia adquirida é a história da dona de casa, Kemelly Miranda, de apenas 18 anos. Quando era criança, ela caiu e bateu a cabeça. Ela relembra que, após o episódio, passou três dias convulsionando.
“Quando eu caí, meu pai me levou para o hospital de moto e fiquei internada por esses três dias passando mal. Então o médico disse que eu fiquei epilética. Nessa época eu tinha sete anos”, disse.
O diagnóstico mudou a vida da família. Os cuidados com Kemelly são constantes porque a jovem não pode sair sozinha, nem ficar trancada num cômodo ou tomar banho sem ajuda. Ela conta com a ajuda das pessoas próximas para viver o dia a dia.
“Já passei por situações muito difíceis. Uma vez eu passei mal, comecei a convulsionar no chão e uns amigos que estavam comigo começaram a rir de mim. Um amigo que felizmente sabia da minha condição chegou no momento da crise e me ajudou”, contou.
Ela vê na campanha “Março Roxo” uma aliada para propagar informação, pois acredita que as pessoas precisam ter conhecimento sobre a condição, tanto para eliminar o preconceito quanto para saber o que fazer para ajudar. “As pessoas precisam se informar e entender que é uma doença”, concluiu.
Como ajudar
A epilepsia é uma condição que pode levar a crises convulsivas, como anteriormente explicado. Conforme Leidiana Nobles, médica socorrista do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Boa Vista, as principais causas para tanto são clínicas, como, por exemplo, febre alta, pressão arterial elevada ou, até mesmo, passar longos períodos sem se alimentar.
Em casos de presenciar alguém com ataque epiléptico, a médica orienta a deixar a cabeça do paciente sempre elevada, se ele estiver em uma cama; ou com a cabeça de lado, se estiver em uma superfície plana, como o chão.
“Durante a crise convulsiva, a língua tende a se enrolar e a obstruir as vias aéreas. Quando a gente lateraliza a pessoa, seja adulto ou criança, a língua cai de tal forma que desobstrui parcial ou quase totalmente a secreção que se forma nas vias respiratórias, impedindo o engasgamento”, explicou.
Nobles detalha que há registros de familiares que, geralmente, sacodem o convulsionado na tentativa de cessar a crise ou o colocam debaixo do chuveiro. Há ainda aqueles que inserem algum tipo de objeto como pano, para que ele não morda a língua. Nenhuma das práticas é indicada, segundo ela.
“O balanço aumenta a pressão intracraniana e pode piorar a situação. Outra coisa muito comum é receber pessoas com corpos estranhos nas vias. Nenhum tipo de objeto deve ser colocado para tentar parar a crise. Na realidade, deve-se fazer o procedimento correto, para que o paciente não se engasgue, até a chegada do Samu”, informou.
A médica reforçou que o ideal é acionar o serviço, por meio do número 192, e possuir informações sobre o histórico clínico do portador. “Em cada atendimento, buscamos o máximo de informações para tentar direcionar o atendimento, de forma específica”, concluiu.