
Nesta terça-feira (23), completa um ano o assassinato dos agricultores Flávia Guilarducci, de 50 anos, e Jânio Bonfim de Souza, de 57, em uma propriedade rural na vicinal do Surrão, no município de Cantá, interior de Roraima. Desde então, a última atualização do caso foi a reintegração do capitão da Polícia Militar Helton John Silva de Souza, suspeito de ter cometido o crime, ao quadro complementar de oficiais da corporação.
Em paralelo, em fevereiro deste ano, a Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) instaurou uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar irregularidades em títulos emitidos pelo Instituto de Terras de Roraima (Iteraima) em todo o Estado.
Na época, Helton ocupava a função de coordenador da equipe de segurança do governador Antonio Denarium (PP). Ele foi afastado seis dias após o ataque, mas em dezembro de 2024, um decreto assinado pelo próprio governador determinou seu retorno à PMRR, após decisão judicial que concedeu liberdade provisória em outubro.
Segundo a Polícia Civil, o crime foi motivado por uma disputa de terras. O empresário Caio de Medeiros Porto, amigo do capitão Helton, exigia que Jânio interrompesse a construção de uma cerca nos fundos da propriedade. Ele é apontado como mandante do crime e segue foragido. Flávia e Jânio foram baleados por quatro homens que invadiram a casa onde moravam. A mulher chegou a registrar em áudio o momento do ataque, incluindo as vozes dos suspeitos e os disparos.
Jânio morreu no local. Flávia foi internada em estado grave e faleceu dias depois no Hospital Geral de Roraima (HGR). O material gravado por ela foi essencial para a identificação dos envolvidos, incluindo Helton e Caio.
Durante depoimento, o capitão da PM confessou ter escondido em sua casa a arma usada no crime. O armamento foi encontrado por investigadores no forro do banheiro. Ele também afirmou ter ligado ao comandante-geral da corporação no dia do crime e recebido orientação para se desfazer do celular.
Segundo a Polícia Militar de Roraima informou na data que Helton voltou ao quadro, ele está atualmente lotado em função administrativa no Centro de Suprimento e Manutenção, e que a reintegração segue decisão judicial, que não impõe afastamento das atividades. A corporação destacou ainda que colabora com as investigações e reforçou compromisso com a legalidade e a ética.
CPI da grilagem de terras
A suposta disputa por terras que resultou na morte do casal é um problema que tem se agravado em Roraima e agora é alvo de investigação por parte da Assembleia Legislativa. Em fevereiro deste ano, foi instaurada a CPI da Grilagem de Terras, que apura ocupações irregulares em áreas públicas, tanto rurais quanto urbanas, e a possível atuação de uma organização criminosa no esquema.
A comissão também investiga o suposto favorecimento de aliados e ao filho do governador Antonio Denarium (PP) durante a gestão de Dilma Costa no Iteraima. O relatório preliminar da CPI, entregue nesta semana ao novo presidente doIteraima) Ionilson Sampaio, traz uma série de recomendações para conter os conflitos: cancelamento de títulos irregulares, revisão de processos, fiscalização em campo e apuração de responsabilidades.