As questões geopolíticas envolvendo a Venezuela e o Brasil, desde a crise migratória, levaram o Exército Brasileiro a ativar o Sensoriamento de Apoio à Decisão (SAD 7) na região de fronteira no Estado de Roraima, previsto pelo Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron). Em reunião com a bancada do Norte, em Brasília, na manhã da terça-feira, 10, os representantes da instituição pediram apoio financeiro dos parlamentares, para que o programa de monitoramento e proteção fronteiriço possa oferecer um melhor serviço aos cidadãos.
O Sisfron foi criado pelo Exército em 2012, com o objetivo de capacitar melhor a força terrestre, com relação à presença na fronteira de quase 17 mil quilômetros em dez países, perpassando a Amazônia, o Centro-Oeste e o Sul do País. Deste total, 13 quilômetros abrangem a Região Norte, com sete países. Esse monitoramento, de acordo com a legislação, ocorre numa faixa de 150 quilômetros de largura ao longo dessa linha.
De acordo com o subchefe do Escritório de Projetos do Exército, Coronel Rosito, o Sisfron foi criado inicialmente para durar dez anos, com o fim previsto para 2021, mas devido às restrições orçamentárias, agora esse projeto se estendeu até 2040, com 13 programas estratégicos, dos quais quatro estão no Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), com a previsão de R$ 6,7 bilhões.
Dos R$ 12 bilhões previstos para a implantação do sistema, pelo período de dez anos, só foram efetivamente aplicados R$ 2,3 bilhões. Segundo Rosito, como se trata de um programa de monitoramento e inteligência, que atua no suporte a outras forças de segurança do Estado no combate ao crime organizado, as maiores demandas do Sisfron são por sensores, embarcações e viaturas.
“O ponto positivo desse prolongamento no tempo é justamente isso, a gente pode colocar sempre a tecnologia mais moderna nas novas fases do Sisfron e as novas fases do Sisfron, atualmente, são justamente na Região Norte do País”, explicou Rosito sobre o funcionamento do projeto.
Atualmente, encontram-se em fase de implementação quatro SADs, que se constituem em forças de emprego estratégico. Além da fronteira do Brasil com a Venezuela, em Roraima, que precisou ser ativada antes das demais, o Exército também desenvolve o monitoramento no Estado do Amazonas, com o emprego de 11 Pelotões Especiais de Fronteira (PEF), cada um composto por 50 soldados. Em seguida estão os pelotões que atuam no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, e a atuação nos Estados de Santa Catarina e Paraná.
“O Sisfron é o ‘estado da arte’ da tecnologia sendo utilizado nessa fronteira tão problemática e de tão difícil acesso para o Brasil”, ressaltou o coronel. Com a extensão do programa, Rosito reitera que a evolução tecnológica vem para ajudar a melhorar a rede de apoio no monitoramento, como o uso de satélites com imagens, radares, drones, entre outros recursos.
“A nossa base tecnológica, a nossa base do sistema de defesa ela está sempre aprimorando os equipamentos para que eles estejam sempre no estado da arte atual. Isso aí é entregue para o soldado e para o policial lá na ponta da linha”, disse.
Rosito fez uma comparação com o sistema de vigilância privada, que dota as residências com todo o aparato tecnológico, como cercas elétricas, câmeras, sensores, para ajudar na segurança do imóvel. É assim que funciona o Sisfron, que este ano completou 12 anos.
“O Sisfron vem justamente ao encontro dessa demanda, através principalmente da capacidade de comunicação e sensoriamento. Ele vai dar a inteligência necessária para que a gente saiba o que está acontecendo, onde está acontecendo e quando está acontecendo. De tal forma que o decisor tenha ciência e o atuador, seja ele as Forças Armadas ou os órgãos de segurança pública, para atuar de maneira efetiva sem gastar recursos, sem gastar o tempo deles de forma pontual, seja num rio ali afastado do centro urbano, por onde eles traficam algum tipo de material proibido”, explicou.
Pontos de atenção
Além da região de Roraima, conforme Rosito, há outros pontos de atenção para o Exército intensificar a ação do Sisfron, como toda a fronteira do Amazonas, de Rondônia, do Acre, considerada prioridade.
Informações apresentadas pelos representantes do Exército à bancada da Região Norte mostram que, somente em 2024, a Operação Ágata, que conta com o apoio do Sisfron, causar um prejuízo de R$ 1,17 bilhão aos contraventores. Isso foi resultado de apreensões de cocaína e pasta-base de cocaína (R$ 227,2 milhões), 173 dragas e 57 balsas (R$ 359,5 milhões), além de 36.747 gramas de ouro (R$ 14,1 milhões), veículos, mercúrio, armas, entre outros materiais.
Com a transição por que passa o crime organizado na Amazônia Brasileira, com atuação de grupos de narcotraficantes em outros setores, como o garimpo, o oficial afirma que esse é um problema do estado brasileiro que cobra uma atuação combinada com outros atores estatais. “A gente busca a repressão a esse tipo de ilícito e o Sisfron é exatamente para isso. O tamanho da Amazônia para identificar um garimpo, uma draga, isso não se faz com inteligência humana, se faz com inteligência de satélite de imagens, de radares, sensores”, explicou.