Foto: Gema Cortes / OIM

Com o avanço das tensões entre os Estados Unidos e o governo do Nicolás Maduro na Venezuela, a fronteira entre o Brasil e a Venezuela, especialmente na passagem entre Santa Elena de Uairén (Venezuela) e Pacaraima (Roraima, Brasil), volta a ser apontada como um ponto crítico. O senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR)  defensor aberto da intervenção dos EUA contra Maduro, aproveitou a escalada de sanções e pressão militar internacional para pedir ao governo Luiz Inácio Lula da Silva uma resposta firme: reforço imediato da segurança nas áreas de fronteira. 

O senador revela uma contradição evidente ao defender uma intervenção americana na Venezuela enquanto demonstra medo das consequências desse conflito para o Brasil, especialmente para Roraima. Ele apoia uma ação que inevitavelmente ampliaria a instabilidade no país vizinho, provocaria fuga em massa, aumento da tensão regional e possível circulação de criminosos, mas exige que o governo brasileiro blinde a fronteira contra exatamente esses efeitos previsíveis. Ao pedir reforço imediato na divisa e alertar para riscos de “corredor de fuga”, o próprio senador admite, ainda que indiretamente, que a intervenção que ele defende não traria estabilidade, e sim problemas que provavelmente recairiam sobre seu próprio estado. Isso expõe a ironia central da situação: ele promove o conflito, mas quer escapar das consequências que esse conflito traria para a sua região.

O senador disse à coluna Radar, da Revista Veja, que em caso de intervenção americana a fronteira vai se transformar em “corredor de fuga de criminosos” — traficantes de drogas, facções criminosas e pessoas que fugiriam de eventuais operações militares na Venezuela.  Apesar desse receio, até o momento, ele mesmo admite que não há evidência concreta de que o cerco militar dos EUA tenha alterado de fato o fluxo migratório entre Santa Elena de Uairén e Pacaraima.

Esse pedido de reforço ocorre em um contexto de tensão crescente: há relatos de movimentação de aeronaves oficiais venezuelanas até regiões próximas da fronteira com o Brasil, o que, combinados com a pressão militar externa, gera apreensão de que a crise migratória venezuelana poderia se intensificar, caso a situação escale. 

Enquanto isso, o lado brasileiro já enfrenta desafios práticos: grande fluxo de refugiados e migrantes venezuelanos, ações de acolhimento por entidades como a Operação Acolhida, e riscos de conflito local, já que o aumento da migração muitas vezes se mistura a acusações de criminalidade:  situação que, no passado, derivou em confrontos violentos e expulsões forçadas de refugiados. 

Para o senador, reforçar a fronteira não é apenas uma medida de segurança, mas parte de uma estratégia de “combate ao crime organizado e ao tráfico internacional de drogas”, numa eventual intervenção externa apoiada pelos EUA, o que, de fato, aumentaria drasticamente os riscos de uma crise humanitária e de segurança

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