A um ano do primeiro turno das eleições presidenciais de 2026, o cenário começa a ganhar forma. Pesquisas recentes indicam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na liderança das intenções de voto, enquanto a oposição enfrenta dificuldades para escolher um nome que unifique a direita.
Lula já afirmou que pretende disputar a reeleição e aparece à frente em todos os cenários de primeiro turno testados pela Quaest.
O levantamento também marca a estreia do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) como principal nome do bolsonarismo, após o seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, indicá-lo como seu escolhido para a corrida presidencial.
Apesar de ocupar o segundo lugar nas simulações, Flávio enfrenta alta rejeição e resistência do eleitorado, o que, segundo analistas ouvidos pelo R7, limita seu potencial de crescimento, especialmente em um eventual segundo turno.
Outros nomes da direita, como os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ratinho Jr. (PSD-PR), Romeu Zema (Novo-MG) e Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), aparecem. Porém, sem tanto destaque.

Cenário atual
Para o cientista político Gabriel Amaral, a pesquisa revela menos um retrato definitivo da eleição e mais o estágio atual do jogo político.
“O que aparece é um teto relativamente estável da oposição, independentemente do nome testado. Isso indica que o problema hoje não é apenas a rejeição de um candidato específico, mas a ausência de uma liderança nacionalmente construída e reconhecida como alternativa de poder”, avalia.
Segundo ele, Lula se beneficia tanto por estar no cargo quanto pela falta de unidade entre os adversários.
“Trata-se de um campo político que ainda não conseguiu converter força regional ou identidade ideológica em um projeto nacional competitivo. Enquanto isso não acontece, Lula entra na disputa como favorito”, observa.
Aprovação dividida e economia no radar
Embora lidere as intenções de voto, Lula chega a 2026 com um país dividido na avaliação de seu governo. A aprovação e a desaprovação seguem tecnicamente empatadas, mas a pesquisa indica melhora na percepção econômica, com redução do pessimismo em relação à economia e aumento da sensação de facilidade para conseguir emprego.
Para o comentarista político Gabriel Petter, esse fator pode ser decisivo ao longo de 2026.
“A economia continua sendo o principal elemento em uma eleição presidencial. Inflação controlada, crescimento do PIB e sensação de pleno emprego melhoram o humor do eleitorado, mesmo diante de problemas graves como a segurança pública”, analisa.
Petter também destaca que a vantagem de Lula tende a crescer enquanto a oposição seguir concentrada na disputa pelo “espólio político” de Jair Bolsonaro.
“A direita brasileira está profundamente desgastada. Seus principais representantes ainda se associam, em maior ou menor grau, ao bolsonarismo, um movimento em decadência, o que dificulta a construção de uma alternativa sólida”, observa.
Flávio Bolsonaro
A escolha de Flávio Bolsonaro como possível herdeiro do capital político do pai divide a oposição. Embora o sobrenome ainda mobilize parte do eleitorado, a rejeição elevada aparece como um obstáculo central.
Para Gabriel Amaral, a insistência no bolsonarismo não resolve o problema estrutural do campo oposicionista.
“A oposição não perde votos no segundo turno por causa dos nomes, mas porque ainda não construiu um candidato reconhecido como alternativa nacional. Sem essa construção, trocar Bolsonaro por um perfil mais moderado altera pouco o equilíbrio da disputa”, argumenta.
Petter questiona a viabilidade real da candidatura do senador. “Não apostaria em Flávio Bolsonaro como uma candidatura consolidada. Vejo mais como uma manobra política do que um projeto eleitoral de longo prazo. O mercado e boa parte do eleitorado ainda apostam em Tarcísio de Freitas”, constata.
Polarização
Apesar da liderança de Lula, especialistas alertam que o cenário ainda pode mudar. O número de indecisos segue relevante, e fatores como economia, segurança pública e capacidade de articulação da oposição podem alterar o quadro ao longo de 2026.

Para Gabriel Amaral, a eleição só deixará de ser uma disputa centrada em Lula se a direita conseguir se reorganizar e apresentar uma alternativa clara ao eleitor.
“Lula se beneficia da lógica da polarização. Para que a eleição se transforme em uma disputa de projetos de futuro, a oposição precisaria apresentar não apenas um nome, mas um projeto nacional crível”, conclui.








