Lideranças reunidas no último dia do VI Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana Foto: Erik Vesch/Cama Leão/ISA

O VI Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana resultou na Carta de Surucucu, documento que reúne as principais deliberações do encontro realizado entre os dias 20 e 24 de outubro na comunidade Kori Yauopë, região de Surucucu, uma das mais populosas da Terra Indígena Yanomami. Mais de 550 participantes se reuniram para discutir temas relacionados à saúde, educação e proteção territorial.

O texto reconhece os esforços do governo federal desde a criação da Casa de Governo Yanomami, em fevereiro de 2024, mas aponta a necessidade de ações permanentes e estruturais. As lideranças cobram medidas urgentes contra o avanço do garimpo e o controle da malária, que registrou 14.615 casos positivos entre janeiro e agosto deste ano, segundo o documento.

Exigências e apelos

Na carta, os povos Yanomami e Ye’kwana pedem ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e ao Ministério da Justiça (MJ) que criem forças-tarefa para acelerar a conclusão de inquéritos e processos relacionados a crimes ambientais e à exploração ilegal de minérios. O texto também exige a responsabilização de financiadores e chefes de garimpo e a aprovação do Projeto de Lei nº 3.776/2024, que aumenta penas para crimes de garimpagem.

As lideranças solicitam ainda a manutenção das operações de desintrusão e da Casa de Governo, além da ampliação das Bases de Proteção Etnoambiental (Bapes) e do apoio ao Plano de Vigilância Indígena da Terra Yanomami.

Saúde e malária

A malária segue como uma das principais preocupações. Apesar da queda de 20% nos casos em comparação a 2024, as comunidades alertam que a doença continua a afetar de forma grave a população estimada em 30 mil indígenas. A carta pede maior presença de equipes do DSEI-YY nas aldeias, busca ativa de casos e tratamento imediato.

A presidenta da Associação das Mulheres Yanomami Kumirayoma (AMYK), Carlinha Lins, destacou a necessidade de fortalecer a medicina tradicional e a formação de parteiras. Ela também demonstrou preocupação com o número crescente de casos de câncer de colo de útero entre mulheres Yanomami.

Educação diferenciada

No campo da educação, as lideranças reforçam o pedido por Territórios Etnoeducacionais e escolas bilíngues e interculturais. O objetivo é adequar o ensino às especificidades culturais e linguísticas das comunidades. O documento solicita uma reunião entre representantes do Ministério da Educação (MEC) e as lideranças Yanomami, respeitando o protocolo de consulta indígena.

Neste ano, a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) formou os três primeiros mestres Yanomami, resultado de um processo acadêmico bilíngue e adaptado às realidades das comunidades. O caso foi citado como exemplo de políticas educacionais que valorizam o conhecimento tradicional aliado à formação acadêmica.

Governança e continuidade

Durante o fórum, lideranças como Waihiri Hekurari e Davi Kopenawa reforçaram a importância de continuidade das ações do governo federal e o fortalecimento das associações locais. Hekurari, anfitrião do evento, ressaltou que as medidas de proteção ainda são provisórias e dependem de marcos legais para se tornarem permanentes.

Já Kopenawa, presidente da Hutukara Associação Yanomami, afirmou que o diálogo com o governo tem sido positivo, mas que é necessário garantir segurança territorial e impedir novas invasões. “Lula está tentando consertar o que outras autoridades estragaram. Mas precisa continuar protegendo nossa terra e não deixar os garimpeiros voltarem”, disse.

O fórum também contou com a participação de representantes Yanomami e Ye’kwana da Venezuela e de órgãos como a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), que reforçou a importância da cooperação entre comunidades e forças de segurança para combater a mineração ilegal.

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