A legislação estadual de Roraima garante aos cidadãos um direito pouco conhecido, mas de grande impacto na prevenção de doenças graves. A Lei nº 1.195/2017, aprovada pela Assembleia Legislativa de Roraima (ALERR), assegura um dia de folga por ano para a realização de exames preventivos de câncer, incluindo mama, colo do útero, próstata, pulmão e pele. Em dezembro, esse tema ganha ainda mais visibilidade com a campanha Dezembro Laranja, voltada à conscientização sobre o câncer de pele.
Segundo o presidente da ALERR, Soldado Sampaio (Republicanos), a divulgação dessas normas é essencial para fortalecer o acesso da população à saúde. Ele ressalta que, ao longo do ano, o Parlamento intensifica ações voltadas à qualidade de vida dos roraimenses, com atenção especial às campanhas de prevenção que marcam cada mês.
Criado em 2014 pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, o Dezembro Laranja busca alertar sobre os riscos do câncer de pele e a importância do diagnóstico precoce. Em Roraima, os cuidados precisam ser redobrados devido à posição geográfica do estado, situado acima da Linha do Equador, o que resulta em maior exposição à radiação solar ao longo do ano.
A dermatologista Tatyanne Aguillera explica que a doença se manifesta principalmente em dois grupos. O melanoma, apesar de menos frequente, é o mais agressivo e apresenta alto risco de metástase. Ele pode surgir a partir de uma pinta já existente ou aparecer sem sinais prévios. Já o câncer de pele não melanoma inclui o carcinoma basocelular, mais comum e menos agressivo, geralmente identificado como uma ferida que não cicatriza, e o carcinoma espinocelular, associado à exposição solar acumulada e que também pode surgir em cicatrizes antigas ou feridas crônicas.
De acordo com a especialista, qualquer alteração na pele deve ser levada a sério. Mudanças de cor, dor, coceira ou sangramento em pintas, manchas ou sinais são indicativos de que é necessário procurar um dermatologista. O tratamento varia conforme o tipo e o estágio da doença, podendo incluir desde a retirada da lesão até terapias mais complexas, como a quimioterapia.
A prevenção, reforça a médica, passa pelo uso diário de protetor solar com fator de proteção acima de 50, além de acessórios como chapéus, óculos escuros e roupas com proteção UV. O protetor deve ser aplicado na quantidade correta e reaplicado a cada duas ou três horas, especialmente em atividades ao ar livre. Mesmo após o tratamento, o acompanhamento médico deve ser contínuo, com consultas regulares para mapeamento da pele e identificação precoce de novas lesões.
A importância do diagnóstico precoce é exemplificada pela história da jornalista Marilena Freitas, que descobriu um câncer de pele no início de 2024. O alerta surgiu a partir de uma pequena lesão no rosto que não cicatrizava. Após avaliação médica, o diagnóstico de carcinoma foi confirmado, exigindo intervenção cirúrgica.
Marilena precisou passar por dois procedimentos para a retirada completa da lesão, mas hoje segue em acompanhamento médico e mantém cuidados rigorosos com a pele. Mesmo já utilizando protetor solar antes do diagnóstico, ela intensificou as medidas de proteção, evitando exposição excessiva ao sol e adotando o uso de sombrinha como aliada no dia a dia. Para ela, buscar atendimento ao primeiro sinal suspeito foi decisivo para o sucesso do tratamento.
Em Roraima, o atendimento a pacientes com suspeita ou diagnóstico de câncer de pele é realizado em três unidades: a Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon), no Hospital Geral de Roraima (HGR), o Centro Oncológico de Roraima (Cecor) e o Hospital de Amor, que tem papel fundamental na identificação precoce da doença.
De acordo com o gestor do Hospital de Amor, Fabrício de Assis, a unidade realiza triagem diária para casos suspeitos, iniciando o atendimento com avaliação de enfermagem e, quando necessário, realizando biópsias. Caso o diagnóstico seja confirmado, o paciente é encaminhado imediatamente à Unacon para início do tratamento. O serviço atende pessoas a partir dos 18 anos, tanto com diagnóstico confirmado quanto com suspeita da doença.
Somente neste ano, o Hospital de Amor já atendeu mais de 1.600 pessoas e identificou mais de 240 casos de câncer de pele, entre melanoma e carcinoma, reforçando a importância da prevenção, do diagnóstico precoce e do acesso aos serviços de saúde no estado.








