O Ministério das Relações Exteriores e a Secretaria de Relações Institucionais repudiaram declarações do vice-secretário do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Christopher Landau, que acusou um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) de concentrar “poder ditatorial” e ameaçar líderes dos outros Poderes.
Em nota divulgada na noite de sábado (9), o Itamaraty classificou a declaração como “novo ataque frontal” à soberania e à democracia brasileiras. O órgão ressaltou que o país “não se curvará a pressões” e lembrou que, na sexta-feira (8), já havia manifestado à embaixada norte-americana “absoluto rechaço” a manifestações consideradas ingerências em assuntos internos.
A ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, também respondeu às declarações, chamando-as de “arrogantes” e “gravíssima ofensa” ao Brasil, ao STF e à verdade. Ela afirmou que quem tentou usurpar o poder foi o ex-presidente Jair Bolsonaro e acusou a família dele de estimular o ex-presidente norte-americano Donald Trump a adotar medidas de pressão contra o Judiciário brasileiro.
Landau, que é o segundo na hierarquia do Departamento de Estado, afirmou que um magistrado teria acumulado autoridade excessiva e “destruído a relação histórica de proximidade entre o Brasil e os Estados Unidos”. A publicação foi feita originalmente em inglês e traduzida pela Embaixada dos EUA no Brasil.
A tensão diplomática se agravou após a convocação do encarregado de negócios da embaixada, Gabriel Escobar, na sexta-feira (8). Na ocasião, o Itamaraty protestou contra postagens recentes do Departamento de Estado e da embaixada, consideradas ameaças ao Judiciário brasileiro.
No dia anterior, a embaixada havia divulgado, em português, declarações do secretário de diplomacia pública Darren Beattie, alertando aliados do ministro Alexandre de Moraes a não apoiarem sua atuação. Beattie acusou o magistrado de censura e perseguição ao ex-presidente Bolsonaro.
Os Estados Unidos aplicam sanções financeiras contra Moraes com base na Lei Magnitsky e justificaram um tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros pela atuação do STF. O governo Trump critica decisões da Corte que determinaram a remoção de conteúdo e o bloqueio de redes sociais e plataformas digitais norte-americanas, além de ações no processo penal contra Bolsonaro.