Foto: TV Brasil

Combater o desmatamento tem impacto direto na redução da violência na Amazônia. É o que indica um estudo do projeto Amazônia 2030, que analisou a relação entre fiscalização ambiental e índices de criminalidade. De acordo com a pesquisa, o fortalecimento da fiscalização, especialmente após a implantação do sistema de monitoramento por satélite DETER, em 2006, reduziu cerca de 15% dos homicídios na região, o equivalente a 1.477 mortes evitadas por ano.

Os pesquisadores afirmam que políticas ambientais eficazes também funcionam como medidas de segurança pública, ao limitar a expansão de mercados ilegais e a atuação de redes criminosas.

Enquanto o país registrou queda nos homicídios na última década, a Amazônia seguiu direção oposta. Entre 2006 e 2016, a taxa de mortes violentas na região aumentou de 33,1 para 52,1 por 100 mil habitantes, alta de 57,3%. O estudo atribui essa escalada à dinâmica de conflitos rurais em áreas com presença reduzida do Estado, próximas a frentes de desmatamento, garimpo ilegal, grilagem e exploração madeireira.

A análise, intitulada “Combate ao desmatamento reduz a criminalidade na Amazônia”, foi conduzida pelos pesquisadores Rafael Araújo, Vítor Possebom e Gabriela Setti. Segundo os autores, existe um vínculo direto entre fiscalização ambiental e queda da violência: cada multa ambiental aplicada resulta, no ano seguinte, na redução de 0,73 homicídio por 100 mil habitantes. Municípios mais fiscalizados também apresentam menor probabilidade de registrar mortes violentas.

Além dos efeitos sobre a segurança pública, a pesquisa estima que a redução da violência representa benefícios sociais da ordem de US$ 2,3 bilhões anuais, enquanto o custo operacional dos órgãos responsáveis pelo monitoramento é de cerca de US$ 622 milhões. O retorno social seria 3,7 vezes maior que o valor investido, sem considerar ganhos ambientais, como redução de emissões e preservação da biodiversidade.

Os pesquisadores defendem que as políticas ambientais sejam integradas às estratégias de segurança pública, priorizando territórios onde desmatamento e atividades ilegais avançam de forma conjunta. Entre as recomendações estão o reforço operacional do Ibama, ICMBio e órgãos estaduais, com ampliação de equipes, tecnologia e presença territorial.

Para os autores, investir em fiscalização ambiental significa fortalecer a estabilidade institucional e reduzir conflitos agrários e homicídios. A pesquisa conclui que proteger a floresta implica também proteger vidas e que a presença ativa do Estado tem potencial para interromper ciclos de violência em áreas vulneráveis da Amazônia.

Sobre o Amazônia 2030

Amazônia 2030 é uma iniciativa do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e do Centro de Empreendedorismo da Amazônia, em parceria com a Climate Policy Initiative (CPI) e o Departamento de Economia da PUC-Rio. O programa reúne pesquisadores brasileiros e propõe caminhos para o desenvolvimento econômico e social da região com a floresta em pé.

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