A presidente da Câmara de Comércio Brasil-Guiana, Ilaine Henz. Foto: Nonato Sousa.

O desenvolvimento acelerado da Guiana, impulsionado pela exploração de petróleo, foi um dos principais temas debatidos na 2ª Reunião do Parlamento Amazônico, realizada nesta quinta-feira (12), no Plenário Deputada Noêmia Bastos Amazonas, da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR).

O encontro reuniu parlamentares, autoridades e representantes do setor produtivo para discutir os impactos dessa nova realidade econômica na relação entre o Brasil e o país vizinho, destacando as oportunidades comerciais para Roraima e a Região Norte.

A presidente da Câmara de Comércio Brasil-Guiana, Ilaine Henz, apresentou uma palestra com o tema “Comércio Brasil-Guiana” e foi enfática ao afirmar que o momento atual é um marco nas relações entre os dois países.

“Nunca se viveu um momento tão positivo para a construção de negócios. A Guiana é hoje o país que mais cresce no mundo, com estimativas de arrecadação superiores a 10 bilhões de dólares anuais com a produção de petróleo. E isso está acontecendo aqui do nosso lado, enquanto o setor privado brasileiro, especialmente o do Norte, ainda encontra obstáculos estruturais e legais para aproveitar esse cenário”, destacou.

Com pouco mais de 700 quilômetros entre Boa Vista e Georgetown, capital da Guiana, Roraima surge como rota natural de integração. Contudo, a falta de infraestrutura foi apontada como um dos maiores entraves à expansão comercial. Ilaine alertou para as limitações na estrada que liga os dois países e para a ausência de um acordo bilateral de transporte efetivo.

“A legislação brasileira, extremamente fragmentada e burocrática, trava os empreendedores. E os acordos com a Guiana, apesar de assinados há mais de 20 anos, seguem sem implementação prática. Precisamos do apoio do parlamento para romper essa paralisia”, cobrou.

Presente à reunião, o cônsul-geral da República Cooperativista da Guiana, Roger King, fez um breve agradecimento e foi elogiado pela presidente da Câmara de Comércio pela postura aberta e colaborativa com o empresariado local.

“O consulado tem sido porta de entrada e referência para quem deseja empreender. Toda demanda que chega é recebida com presteza. Isso tem sido fundamental para manter vivo o diálogo com os nossos vizinhos”, afirmou Ilaine.

Caribe e integração regional

Ainda durante a palestra, Ilaine Henz reforçou que a Guiana deve ser encarada como porta de entrada para o mercado caribenho, que reúne mais de 30 milhões de habitantes e cerca de 34 milhões de turistas por ano.

“Estamos de frente para uma vitrine de oportunidades. Roraima já possui capacidade de exportação de carnes, grãos, frutas, polpas e até máquinas. O que falta é o empurrão decisivo para que esse fluxo ganhe escala”, afirmou.

Apesar dos números promissores, a exemplo das exportações do Brasil para a Guiana que cresceram de US$ 111 milhões em 2021 para quase US$ 400 milhões em 2024, a presidente da câmara pontuou a necessidade de mais apoio do governo federal, citando que muitas barreiras ainda impedem o pleno aproveitamento do momento econômico.

“Precisamos urgentemente de integração física, jurídica e educacional. A barreira do idioma é outro desafio que precisa ser superado com políticas públicas voltadas à formação de novas gerações bilíngues aqui em Roraima”, apontou.

Agricultura

Outro destaque do encontro foi o presidente da Aprosoja Roraima, Murilo Ferrari, que chamou a atenção para o que classificou como um “caminho para o Eldorado”. Segundo ele, a abertura de um corredor logístico pela Guiana pode revolucionar a infraestrutura de escoamento da produção agrícola.

“Hoje somos o estado com a pior logística do país. Mas, com a consolidação dessa rota até o Porto de Águas Profundas, poderemos ter a melhor logística do Brasil. Isso representa economia, geração de emprego e mais competitividade para o produtor rural”, defendeu Ferrari.

Ele ainda criticou a burocracia brasileira, relatando um episódio em que caminhões carregados de fertilizantes ficaram até 20 dias parados na fronteira aguardando liberação, mesmo com toda a documentação em conformidade.

“Um navio veio do Egito, passou por toda a Guiana, enfrentou estradas difíceis, mas foi parado na nossa fronteira. E isso não é um caso isolado. A gente precisa modernizar nossas instituições, dar condições para a Receita Federal e o Ministério da Agricultura operarem com agilidade. O dinheiro não pode ficar na estrada, tem que circular na sociedade”, argumentou.

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