Celulares, documentos e provas que detalham a rede de apoio à fuga de quatro presos da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (PAMC) foram apreendidos durante a Operação Cerco Fechado, concluída na manhã desta quarta-feira (29). A investigação revelou o envolvimento de servidores públicos, uma enfermeira e integrantes do Comando Vermelho (CV) que prestaram apoio logístico, financeiro e operacional aos fugitivos.
A ação foi conduzida pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) e executada simultaneamente em Boa Vista, Cantá e Rorainópolis, com o apoio da Polícia Civil do Amazonas, que cumpriu mandados em Manaus. Ao todo, foram 12 mandados de busca e apreensão, sendo seis em Roraima e seis no Amazonas.
Apreensões e prisões
Nos endereços em Boa Vista e no Cantá, os investigadores apreenderam celulares e documentos pertencentes a pessoas já identificadas como responsáveis por dar suporte aos foragidos.
Em Rorainópolis, um dos suspeitos foi localizado e teve o telefone apreendido. Outro alvo, que havia fugido após agredir a companheira, não foi encontrado, mas o aparelho dele também foi recuperado.
No Amazonas, as diligências resultaram na localização de quatro dos seis investigados, com apreensão de celulares e documentos. Um deles tentou destruir o próprio telefone durante a abordagem e acabou preso em flagrante por obstrução da investigação.
As provas recolhidas vão subsidiar a nova etapa do inquérito, que agora busca mapear por completo a estrutura de apoio usada pela facção criminosa para manter os detentos fora do alcance das autoridades.
Rede de apoio
A investigação apontou que a rede envolvida na fuga contava com funções distintas, incluindo transporte, abastecimento e repasses financeiros. Entre os alvos está a enfermeira O.M.A., de 44 anos, identificada como responsável por transportar os fugitivos da Vila Central, no Cantá, até Nova Colina, em Rorainópolis, entre os dias 5 e 6 de setembro de 2024, utilizando um carro alugado exclusivamente para o crime.
Segundo as mensagens analisadas pela Draco, a mulher seguia ordens diretas de lideranças do Comando Vermelho, atuando também na guarda de armas, distribuição de drogas e repasse de valores ligados ao tráfico.
Outros 14 suspeitos foram identificados, entre eles E.L.N.L., de 23 anos, residente no Amazonas e atualmente foragida. As investigações indicam que ela está no Rio de Janeiro e chegou a publicar mensagens nas redes sociais lamentando a morte de um membro da facção em confronto com a polícia daquele estado.
Os fugitivos
O grupo deu suporte à fuga dos presos K.A.V., M.F.P., N.A.M. e T.E.C.D., todos do Comando Vermelho, que escaparam da PAMC em 2 de setembro de 2024. Três deles foram recapturados em 21 de setembro, em Santa Maria do Boiaçu, quando tentavam atravessar para o Amazonas. O quarto foi preso posteriormente pela Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc).
As investigações indicam que os criminosos receberam abrigo em áreas de mata, além de mantimentos, combustível e transporte fluvial para tentar chegar ao Amazonas.
O delegado Wesley Costa de Oliveira, titular da Draco, explicou que a operação mapeou a estrutura usada para sustentar a fuga.
“Essas pessoas eram associadas ou faccionadas dessa organização criminosa. Então a gente tinha desde pessoas que trabalham em órgãos públicos, que prestaram auxílio a esses foragidos, que levaram esses foragidos para outras posições para tentar ir para o estado do Amazonas. E a gente tem também faccionados do Comando Vermelho que foram fazer compras nos supermercados, foram comprar mantimentos para que esses faccionados se mantivessem na mata, que foram comprar combustível para que fosse abastecida a lancha, que eles tentaram passar por rio para o estado do Amazonas. Então todas essas pessoas que prestaram auxílio a esses faccionados na fuga, estão sendo objeto dessa operação da Polícia Civil”, disse o delegado.
Ele ressaltou que o objetivo da operação foi desmontar completamente a rede de apoio que sustentava o grupo.
“Durante a rota de fuga dos detentos a enfermeira acabava servindo de motorista para esses faccionados e tentou levá-los para o estado do Amazonas. Chegou inclusive até o Jundiá, na época dos fatos, mas em razão da grande quantidade de policiais mobilizados naquela barreira, ela acabou retornando e esses faccionados decidiram ir de barco pelo baixo Rio Branco na tentativa de chegar no estado do Amazonas. É uma investigação complexa, envolve o crime organizado e, importante esclarecer, que todos os foragidos foram presos”, afirmou.








