Davi Kopenawa. Foto: Luís Gustavo Nova.

O líder indígena Yanomami, Davi Kopenawa, denunciou em Brasília (DF), nessa quarta-feira, 8, a persistência da crise sanitária que afeta as comunidades da Terra Indígena Yanomami (TIY), no Estado de Roraima. O xamã afirmou à Agência Cenarium que, em razão das precariedades que atingem a infraestrutura de saúde, como ausência de profissionais qualificados e medicamentos, crianças e adultos seguem sendo vítimas de doenças, como malária, diarreia e gripe.

A permanência, ainda que reduzida, de garimpeiros ilegais nas terras Yanomami intensifica a crise sanitária que continua a atingir os povos originários. Segundo Davi Kopenawa, a presença dos invasores contamina rios e solos, dissemina doenças e compromete a segurança alimentar das comunidades. Crianças e adultos adoecem diariamente por causa da água poluída e ao contato com ambientes contaminados. “É muito ruim para o meu povo”, afirmou.

Durante a entrevista, Davi Kopenawa apontou que o governo federal descumpre promessas de forma reiterada e que o Ministério da Saúde (MS) e a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) não deram respostas efetivas para conter a mortalidade infantil. O líder conta que a situação exige intervenção imediata, com planejamento e execução coordenada entre os órgãos federais e estaduais.

Kopenawa cobrou medidas urgentes diretamente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e ao Governo de Roraima, chefiado por Antonio Denarium. O xamã reforçou que a situação é resultado de uma combinação de negligência governamental e impactos ambientais, como os deixados pelo garimpo ilegal. “Presidente Lula, convoque uma reunião com o ministro Padilha. O povo Yanomami está sofrendo. O medicamento não chega, e os médicos vão e voltam sem atender”, declarou.
Apelo à Cármen Lúcia

Kopenawa também direcionou um apelo à ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Cármen Lúcia, destacando a necessidade de atenção imediata do Judiciário em relação à crise na TI Yanomi e às ações do governo de Roraima. “Senhora Cármen, eu estou aqui em Brasília pedindo a sua força para agir junto ao poder do Governo de Roraima. O governador parece uma boa pessoa, mas a alma dele não é boa”, disse.

O xamã reforçou que o retorno de garimpeiros ilegais ao território agrava ainda mais a situação sanitária e ameaça a sobrevivência das comunidades. “Eu queria que a senhora chamasse a atenção dele para não apoiar o garimpeiro a voltar à terra Yanomami. Isso não é bom para o meu povo, e eu estou revoltado porque continua havendo apoio para que ele volte”, disse Kopenawa, denunciando a conivência de setores locais.

Segundo o líder indígena, a permanência de garimpeiros ilegais espalha doenças e contamina o território, aumentando o sofrimento de crianças e adultos. “É muito ruim para o meu povo. Os garimpeiros deixam a terra contaminada, carregam doenças, e nossas crianças continuam adoecendo. Eu estou falando a verdade. Vejo meus filhos e netos sofrendo todos os dias”, declarou, conclamando as autoridades a agir com urgência.

Desafios e agravamento da crise

Kopenawa disse que as medidas emergenciais precisam considerar abordagens integradas de saúde e vigilância ambiental, para interromper o ciclo de contaminação e reduzir a mortalidade infantil e adulta. “A doença não sai porque falta cuidar, falta ouvir as comunidades”, disse o xamã. Ele afirma que, sem ação imediata, a crise sanitária continuará a se aprofundar, com consequências irreversíveis para a sobrevivência do povo Yanomami.

A crise sanitária que ainda atinge as comunidades do território Yanomami e Ye‘kwana é o maior alerta de Davi Kopenawa. A falta de medicamentos e a ausência de atendimento médico contínuo não apenas mantêm o ciclo de doenças ativo, mas elevam a mortalidade infantil e adulta. Para ele, as intervenções isoladas são insuficientes diante da precariedade estrutural, que impede o tratamento de enfermidades recorrentes.

Segundo Kopenawa, médicos, enfermeiros e técnicos de saúde percorrem as aldeias apenas de passagem, sem garantir cuidado efetivo. “O medicamento não chega. Médicos e enfermeiros vão e voltam sem atender”, declarou. Ele alertou que a Sesai, responsável pelo atendimento aos Yanomami e Y’kewana, não consegue suprir a demanda mínima de medicamentos e insumos básicos, comprometendo a recuperação de crianças e adultos. “Muito pouco chega e não vai curar as crianças”, reforçou.

Kopenawa explicou que cada comunidade do território Yanomami, situada entre os Estados de Roraima e Amazonas, se estendendo também até a fronteira com a Venezuela, enfrenta desafios específicos, marcados por atrasos logísticos e severas dificuldades de acesso. Ele destacou, também, que as políticas públicas implementadas têm se mostrado insuficientes para suprir as necessidades locais.

“Estou aqui em Brasília falando em nome do povo Yanomami. Eles estão lá esperando e passando dificuldade. As crianças continuam morrendo”, completou.

Garimpo ilegal

A permanência, ainda que reduzida, de garimpeiros ilegais nas terras Yanomami intensifica a crise sanitária que continua a atingir os povos originários. Segundo Davi Kopenawa, a presença desses invasores contamina rios e solos, dissemina doenças e compromete a segurança alimentar das comunidades. Crianças e adultos adoecem diariamente por conta da água poluída e do contato com ambientes contaminados. “É muito ruim para o meu povo”, afirmou.

A situação se agrava diante da falta de infraestrutura, como postos de atendimento, laboratórios e equipamentos básicos, o que dificulta o diagnóstico precoce e o tratamento efetivo. Para Kopenawa, apenas a coordenação entre os governos de Roraima, Amazonas e a administração federal, incluindo Ministério da Saúde e Sesai, pode reduzir a mortalidade e interromper o ciclo de contaminação.

“Então eles estão continuam adoecendo […] pode acreditar, eu não tô mentindo. Eu sou de lá, eu sou! Ficarei fazendo o meu trabalho, a minha luta, articulado com Roraima e Amazonas”, pontuou.

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