Tecnologia também garante abastecimento na época da seca e reduz os riscos de doenças - Foto: Divulgação / MDS

Com um investimento de R$ 5 milhões, o Governo Federal está implementado, por meio do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), 30 microssistemas comunitários com pontos de uso coletivo em aldeias Yanomami localizadas no estado do Amazonas. A implementação é um dos modelos de acesso à água do Programa Cisternas e vai beneficiar cerca de três mil indígenas.

A tecnologia utilizada funciona com energia solar. O sistema capta a água do rio, realiza tratamento com filtro lento de areia — de fácil gestão e manutenção — e distribui por meio de chafariz instalado nas comunidades. A meta do projeto é universalizar o acesso à água tratada nos rios Preto, Marauiá, Cauaburis e Demeni, localizados no Território Indígena Yanomami do Amazonas, nas cidades de Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos.

Além de garantir o acesso à água segura, em meio a rios por vezes contaminados, a tecnologia também garante o abastecimento na época da seca e reduz os riscos de doenças. Um diagnóstico situacional apontava a dificuldade extrema das comunidades Yanomami em obter água segura há mais de uma década. A exposição ao mercúrio, presente em diversos cursos d’água da região, também é uma preocupação.

A ação é fruto da parceria entre o MDS e a Assessoria dos Povos da Floresta (Aflora), organização com mais de 30 anos de atuação em educação junto aos Yanomami, que viabilizam a implantação das cisternas adaptadas.

Implementação

Com o objetivo de garantir o acesso hídrico seguro até o final de 2026, já foram implementados onze sistemas e quatro estão sendo finalizados antes da estiagem. Dos 30 microssistemas, 14 serão instalados na região de Santa Isabel do Rio Negro e 16 na região de Barcelos. Além de garantir o abastecimento, eles reduzem o risco de doenças como diarreia e verminoses, especialmente entre crianças e idosos.

“É muito importante para nós termos estes sistemas de água para melhorar a nossa saúde. Antes, nós sofríamos quando bebíamos água contaminada. As cisternas vão ajudar muito a nossa saúde, principalmente a das crianças e dos idosos, que sofriam com diarréias e vermes. Por isso, estou muito feliz com essa instalação na nossa comunidade”, disse Lívio Yanomami, liderança do Xapono (aldeia) de Lajinha, no Rio Preto, uma das primeiras comunidades beneficiadas.

Simples

O supervisor técnico Jovino Neto destacou que o sistema é simples. “Esses filtros são importantes porque nesse sistema não se utiliza cloro. É um sistema simples. São utilizados quatro painéis solares de 380 Watts que alimentam a bomba de meio cavalo instalada no rio”, explicou.

Capacitação

O projeto é executado com base em protocolos de consulta às lideranças indígenas, assegurando a participação das comunidades nas decisões. Durante a construção, os próprios indígenas são capacitados para acompanhar e operar os sistemas. Stanny Saraiva, coordenadora do programa de Educação em Saúde da Aflora, destacou a importância do diálogo com as lideranças Yanomami. Para ela, o projeto é mais do que a entrega de uma estrutura física.

“Esse processo é guiado por um protocolo de consulta, garantindo que as decisões sejam tomadas em conjunto. Cada sistema é mais do que uma estrutura física: é um compromisso com a dignidade e a saúde e com o direito dos povos indígenas. Foi uma luta de muito tempo”, declarou.

Formação

As assessoras de campo da Aflora passam por uma formação cuidadosa e de sensibilização para que, junto com o supervisor técnico e toda a equipe de construção, possam acompanhar cada etapa da obra. Isso garante a interação, o respeito à cultura, à língua e ao modo de vida dos Yanomami, fortalecendo a autonomia e o processo de gestão.

“Cada sistema de água é a semente do futuro. Temos plantado junto com as comunidades essa semente e seguimos com o coração aberto e o compromisso firme nesse caminhar ao lado do povo Yanomami, aprendendo e construindo juntos um caminho de cuidado, de respeito, de saúde”, finalizou a coordenadora.

Acesso

A logística também é um obstáculo. Algumas aldeias são inacessíveis por voadeiras (embarcações leves e rápidas), exigindo parcerias com o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) para viabilizar a chegada de equipamentos e técnicos.

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