Roraima apresentou uma queda de 37% nos focos de calor registrados em janeiro de 2025 em comparação com o mesmo período de 2024. O número de focos de calor caiu de 604 para 384, conforme o monitoramento do Programa Queimadas do do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
A quantidade de chuva dobrou em relação à média observada entre 1923 e 2024. A média de precipitação de chuva para o mês de janeiro em Boa Vista é de 30,9 mm, porém, a cidade fechou o primeiro mês do ano com 63,3 mm. Os dados constam em boletim da Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh) elaborado em 31 de janeiro.
“As chuvas ocorreram não só na capital, mas em todo o estado. Consequentemente, contribuíram para diminuição de focos de calor junto às ações do Comitê de Queimadas”, explicou Ramón Alves, meteorologista da Femarh.
Mesmo com a queda, o Estado ainda é o segundo com mais focos de calor do Brasil, ficando atrás apenas do Maranhão que teve 434 registros. Além disso, os cinco municípios com mais detecções de focos de calor em janeiro estão em Roraima.
Normandia (63), Pacaraima (60), Rorainópolis (39), Caroebe (33) e Uiramutã (33) foram os municípios com mais focos de calor. Bonfim (29) aparece em sexto e Iracema (26) em nono. Os outros três municípios que completam o top 10 pertencem ao Pará e Maranhão, sendo Monte Alegre (31) em sexto, Prainha (28) em oitavo e Amapá do Maranhão (25) em décimo.
De acordo com o gerente de operações da Defesa Civil de Roraima, tenente-coronel Leonardo Menezes, os municípios de Bonfim e Normandia têm sido os mais atingidos pelo fogo, exigindo maior atuação por parte do Corpo de Bombeiras. Além do combate ao fogo, a Corporação tem usado a prevenção através de palestras e orientações aos moradores do interior.
“Pacaraima, que faz fronteira com a Venezuela, tem um bioma diferente. Possui uma vegetação que propicia o fogo. Mas é importante pontuar que focos de calor não significam que há fogo. Muitas vezes observamos um calor de fogo no nosso painel e quando chegamos no local é uma pedra que está muito quente. Pacaraima é uma região serrana com muita pedra, então não necessariamente é fogo”, disse Menezes.
‘Questão de saúde pública’
Na estiagem do ano passado, a capital Boa Vista ficou encoberta por fumaça em vários dias de fevereiro, o que fez moradores de Boa Vista sofrerem com altos picos de insalubridade na qualidade do ar. Roças e casas em Terras Indígenas de outros municípios também foram destruídas pelo fogo.
Segundo a delegada de Proteção ao Meio Ambiente, Maryssa Batista, a perícia do Corpo de Bombeiros concluiu que 80% dos casos de incêndio de 2024 foram criminosos. No entanto, apenas 10 denúncias foram formalizadas em uma delegacia.
“A perícia do Corpo de Bombeiros concluiu que cerca de 80% dos incêndios são criminosos, mas há dificuldade em encontrar os autores deste tipo de crime por falta de testemunhas ou imagens que possibilitem identificar suspeitos, principalmente quando ocorrem em municípios distantes da capital”, explicou.
Por outro lado, Batista afirmou que em janeiro de 2025 já foram registradas cinco denúncias sobre incêndios. A delegada acredita que existe receio da população em se indispor com vizinhos, mas que também falta entendimento da gravidade dos crimes ambientais.
“Eu acho que há uma inibição, mas acredito que também há ideia do ‘não é problema meu’, quando, na verdade, é um problema de todos nós. Afeta o meio ambiente, a biodiversidade, mas também é uma questão de saúde pública. Falta consciência das pessoas de que é uma responsabilidade nossa”, afirmou.
O crime de queimadas sem autorização pode ser punido com prisão de dois a quatro anos, segundo Batista. Ela apela para que a população formalize as denúncias, que podem ser feitas em qualquer delegacia, inclusive na Delegacia Virtual usando um computador ou celular, de forma anônima.
“Se o Ministério Público observa que a investigação da Polícia Civil tem provas o suficiente para identificar o culpado, então a Justiça é acionada. As pessoas acham que crimes ambientais não merecem preocupação, mas têm que se preocupar, sim, porque podem ser punidos como qualquer outro crime”, ponderou.
Roraima possui apenas duas estações, chamadas de período seco (de outubro a março) e período chuvoso (de abril a setembro). Apesar disto, o estado registrou chuvas ao longo de de janeiro, o que fez com que o Rio Branco fechasse o mês a um nível de 1,44m. O nível mais baixo ao qual rio chegou no período foi o de 0,27m no dia 26.
Conforme explica o diretor comercial da Companhia de Águas e Esgotos de Roraima (CAER) Cícero Batista, a empresa não prevê aumentos no consumo de água mesmo que a situação se intensifique. “O menor índice que operamos foi em -0,59m, ou seja, no negativo e mesmo assim operamos sem comprometer o abastecimento”, disse, descartando a possibilidade de racionamento ou falta de água.
Segundo o diretor comercial da CAER, bairros da zona Oeste de Boa Vista, como Senador Hélio Campos, sofrem com falta de água porque, já no início da estiagem, se perde 30% da capacidade de produção e há a necessidade de adequar as bombas para diminuir a produção. “Assim, a quantidade de produção de água para bairros específicos seja diminuída e algumas residências ficam sem a pressão de abastecimento ideal. O que faz a água às vezes chegar em mangueiras e torneiras baixas, mas não em toda a encanação”, disse.
Embora a situação esteja controlada em Boa Vista, municípios como Pacaraima, São Luiz e São João da Baliza devem ficar sem produção nas barragens nas primeiras semanas de fevereiro. As cidades serão abastecidas a partir de poços. Pacaraima deve ter o abastecimento feito através de caminhões pipa. A CAER deve fazer o transporte de Boa Vista até o município e distribuir a água.
“Nós não vamos fazer este abastecimento na encanação de cada casa, mas os cidadãos que necessitarem precisam manter recipientes em frente às suas residências para enchermos quando o caminhão passar. Não há cobrança adicional”, afirmou Batista.
No período mais severo da estiagem de 2024, em meados de março, o nível do Rio Branco chegou a -0,39m. A situação chegou a comprometer 30% do abastecimento em Boa Vista e 70% em Mucajaí.