Senador Chico Rodrigues (PSB-RR). Foto: Carlos Moura/Agência Senado

O senador Chico Rodrigues subiu à tribuna para celebrar o Brasil como sede da COP 30 e guardião de uma das maiores biodiversidades do planeta. Um discurso patriótico e absolutamente fora do compasso com a forma como o país e a própria conferência vêm sendo avaliados internacionalmente. A COP deste ano, é bom lembrar, foi recebida com frieza, críticas e uma pontuação global abaixo da mediocridade. A retórica brasileira pode até ser verde, mas o mundo não tem visto nada que se pareça com um plano ambiental digno de elogio.

Rodrigues, com a convicção típica de quem fala para convertidos, defendeu que Belém foi escolhida por “justiça simbólica”. Talvez. Mas justiça simbólica não alimenta credibilidade, e credibilidade tem sido o principal déficit da política ambiental brasileira. É curioso ouvir que o país “concilia alta produtividade com preservação” no mesmo momento em que cresce a pressão para flexibilizar licenciamento, ampliar exploração petrolífera em áreas sensíveis e permitir mineração onde até o bom senso se recusa a entrar.

O senador tem razão ao afirmar que o Brasil não pode ser tratado como o eterno “celeiro do mundo” ou faxineiro climático das nações ricas. O problema é que essa narrativa vira uma cortina conveniente para justificar o velho mantra de sempre: liberar tudo, explorar tudo, acelerar tudo, sempre “responsavelmente”, é claro, aquela palavra mágica que apazigua consciências, embora ninguém saiba exatamente o que significa na prática.

Quando Rodrigues apela contra “metas restritivas” e condena o fato de potências seguirem emitindo toneladas de carbono, ele até toca num ponto real. A hipocrisia climática global é evidente. Mas o truque está em usar a hipocrisia alheia como desculpa para não enfrentar a própria. Não é porque os grandes poluidores agem mal que nós devemos aceitar menos rigor, menos transparência e menos ambição. O mundo não nos cobra perfeição, cobra coerência.

E aí entramos na parte mais reveladora do discurso: a defesa da “exploração responsável” do petróleo da margem equatorial e dos minerais de terras raras. É impressionante como toda promessa de sustentabilidade no Brasil termina, inevitavelmente, em perfurações, escavações, dutos e retroescavadeiras. No país que diz ter 20% da biodiversidade terrestre, a criatividade política continua orbitando ao redor de um único vocabulário: extrair, expandir, explorar.

O senador ainda mencionou seu projeto para “aproveitamento econômico da Amazônia alinhado à conservação”. Um sonho bonito, e tão frequente quanto inconsistente. O histórico brasileiro mostra que, quando o interesse econômico entra na floresta, a conservação costuma sair pela porta dos fundos. Não por falta de ideais, mas por falta de fiscalização, de planejamento e, sobretudo, de vontade política para impedir os velhos esquemas de sempre de se renovarem com novas embalagens.

No fim do discurso, Rodrigues tenta unir desenvolvimento e preservação como “lados complementares de uma mesma visão de futuro”. É uma frase de efeito e também um alívio: pelo menos alguém ainda finge acreditar nisso. A realidade, porém, mostra que, na prática, esses dois lados raramente caminham juntos. É preciso mais que slogans para fazê-los convergir.

A COP 30 poderia ser a chance de o Brasil mostrar maturidade ambiental, liderança real e compromisso que vá além da retórica. Mas, se o tom continuar sendo esse — um nacionalismo verde que esconde contradições profundas — não vamos recuperar reputação nenhuma. Seguiremos onde estamos: um gigante ambiental na teoria e um aprendiz atrasado na prática, tentando vender ao mundo uma imagem que, hoje, ninguém mais compra sem pedir o recibo.

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