Foto: Reprodução/SupCom ALE-RR

Ressignificar. Essa foi a palavra que mudou a vida de dona Rosa (nome fictício). Hoje, com mais de 60 anos de idade, ela é uma das milhares de mulheres que passaram pelo Centro Humanitário de Apoio à Mulher (Chame), e viram suas vidas transformadas. Nesta segunda-feira (18), a unidade completa 16 anos e comemora histórias de superação e coragem de mulheres que viraram a página da violência.

Vinculado à Secretaria Especial da Mulher (SEM) da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), o Chame tornou-se referência no Estado de Roraima quando o assunto é violência contra a mulher. Dona Rosa é um desses exemplos, ela teve uma história marcada pela dor desde a infância, mas mostra com sua história que é possível quebrar o ciclo de sofrimento.

“A gente não pode aceitar esse tipo de coisa. Carregar isso por anos só adoece. Precisamos buscar ajuda”, contou, ao lembrar das dores que precisou entender e transformar para seguir em frente e ajudar outras mulheres.

Rosa cresceu em um ambiente violento em Manaus (AM). Ainda menina, via o pai agredir a mãe, e também era vítima. Impedida até de vestir a farda da escola, largou os estudos como forma de protesto, acreditando que isso atingiria ao pai, mas só feriu a si mesma. Começou a trabalhar aos 15 anos, e seguiu lutando pela sobrevivência. Mesmo decidida a não repetir a história da mãe, casou-se e viveu mais uma experiência de agressão, marcada por um episódio traumático em que quase foi ferida na frente dos filhos. Após se separar, veio para Roraima, onde conheceu o Chame e, por meio do Projeto Flor de Lótus, começou a compreender suas dores e dar novos significados à própria vida.

Pioneiro em Roraima

Criado em 2009, a partir da iniciativa da ex-deputada Marília Pinto, o Chame foi pioneiro no Estado de Roraima com sua rede de proteção e atendimento humanizado para mulheres em situação de violência. Com uma equipe multidisciplinar formada por psicólogas, assistentes sociais e orientação jurídica, o centro já realizou mais de 14 mil atendimentos e se tornou símbolo de resistência, reconstrução e esperança para milhares de famílias roraimenses.

Além dos atendimentos individuais, o Chame oferece uma série de projetos e serviços contínuos. O grupo terapêutico Flor de Lótus promove encontros semanais com temas voltados à autoestima, saúde mental, identidade e empreendedorismo feminino. O curso de defesa pessoal é oferecido ao longo do ano, como forma de empoderar mulheres e fortalecer o sentimento de segurança. O Centro Reflexivo Reconstruir atua na ressocialização de agressores, enviados pela Justiça ou que buscaram o projeto por vontade própria, promovendo a quebra do ciclo da violência.

Outros serviços também reforçam o papel social do Chame, como o projeto Mechas de Esperança, que confecciona perucas para mulheres em tratamento oncológico, em parceria com a Liga Roraimense de Combate ao Câncer (LRCC). A unidade ainda promove caravanas itinerantes, como a Caravana Especial da Mulher, com atendimentos gratuitos nas áreas de saúde, estética, segurança e cidadania. Em Rorainópolis, o polo do Chame garante o acesso aos serviços no sul do estado, fortalecendo a descentralização e o alcance das ações.

Para a deputada Joilma Teodora (Podemos), secretária Especial da Mulher, o Chame é um instrumento fundamental na transformação de vidas. “Sabemos que ainda há muito o que fazer. Mas estamos atuando em várias frentes. Do acolhimento individual aos projetos em grupo, do cuidado com as mulheres ao trabalho com os homens agressores. Nosso compromisso é diminuir a violência e garantir dignidade a quem precisa recomeçar”, destacou.

O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Soldado Sampaio (Republicanos), reforça que o Chame é motivo de orgulho para o Legislativo estadual. “Foi uma das primeiras ferramentas para criar uma rede de proteção em Roraima. Hoje é referência não apenas aqui, mas também para outros estados. Seguiremos firmes, ampliando campanhas, fortalecendo parcerias e reafirmando que não aceitamos nenhum tipo de violência contra a mulher”, frisou.

Para a diretora da SEM, Glauci Gembro, o Chame é mais que um centro de atendimento. “É um espaço onde vidas são reconstruídas com acolhimento, escuta e respeito. A mulher chega extremamente fragilizada, com marcas físicas e emocionais. Nosso trabalho é oferecer um ambiente seguro e cheio de empatia, onde ela se sinta amparada para tomar decisões e retomar o controle da própria história. O Chame transforma, e isso se comprova em cada relato de superação que recebemos”, pontuou.

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