Ex-secretária de Saúde, Cecília Lorenzon. Foto: Eduardo Andrade/ SupCom ALE-RR.

A ex-secretária de Saúde de Roraima, Cecília Smith Lorenzon, solicitou sua renúncia ao cargo de Membro Conselheira do Conselho de Administração da Companhia Energética de Roraima (CERR), conforme ofício enviado ao governador Antonio Denarium. No documento, obtido pelo Roraima 1, Cecília manifesta sua decisão de deixar a função e encerra a carta com votos de estima e consideração. A renúncia acontece em um momento de pressão política e administrativa, especialmente após críticas do presidente da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), Soldado Sampaio.

Soldado Sampaio havia pedido o afastamento imediato de Cecília do cargo de liquidante da CERR, alegando que ela não atendia aos requisitos legais para ocupar a função, como a formação acadêmica compatível e experiência mínima de dez anos na área de energia elétrica, conforme exige a legislação. Além disso, o presidente da ALE-RR destacou o acúmulo de cargos pela ex-secretária, uma vez que Cecília também ocupava a pasta da Saúde, o que passou a ser proibido em janeiro de 2023 devido a mudanças na legislação estadual relacionadas à extinção da CERR.

Em sua solicitação, Sampaio mencionou ainda a rejeição das demonstrações contábeis da CERR referentes ao ano de 2023, tanto pelo Conselho de Administração da companhia quanto pelos auditores independentes. O parlamentar também acusou a gestão de Cecília de não ter qualificação técnica para lidar com a situação da companhia, que está prevista para ser extinta em junho de 2024.

O presidente da ALE-RR pediu a destituição definitiva de Cecília Lorenzon do cargo de liquidante da CERR e a abertura de uma ação de reparação de danos. Diante da inação do Governo, Sampaio recorreu ao Ministério Público de Roraima (MPRR) para que medidas fossem tomadas. Em 13 de fevereiro, o parlamentar formalizou seu pedido de exoneração da ex-secretária do cargo na CERR e, na semana seguinte, pressionou o governador Antonio Denarium a exonerá-la da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau).

No entanto, o pedido de exoneração foi atendido apenas na terça-feira (25), quando o governador Denarium exonerou Cecília Lorenzon do cargo de secretária de Saúde, depois de três anos à frente da pasta. A exoneração foi publicada no Diário Oficial do Estado, e a advogada foi imediatamente nomeada para o cargo de secretária da recém-criada Secretaria de Governo Digital (Segod), que é responsável pela gestão da tecnologia da informação e comunicação do estado. A mudança de função ocorre apenas cinco dias após a pressão do presidente da ALE-RR, o que reforça o clima de instabilidade política em torno da ex-secretária.

A renúncia e exoneração de Cecília Lorenzon acontecem em um contexto de investigações e acusações graves que envolvem a ex-secretária. Em fevereiro de 2024, Cecília foi afastada do cargo de secretária de Saúde por ordem da Justiça Federal, no âmbito de uma operação da Polícia Federal que apurava fraudes em licitações para a contratação de serviços de cirurgia ortopédica. A investigação apontava a existência de uma estrutura criminosa que supostamente fraudava procedimentos licitatórios na área de traumatologia e ortopedia, resultando em superfaturamento e na adesão a atas de registro de preço fraudulentas. A operação culminou na realização de buscas e apreensões, e Cecília Lorenzon foi um dos alvos.

Apesar de seu afastamento, o governador Antonio Denarium decidiu reconduzir Cecília ao cargo de secretária de Saúde 16 dias após a suspensão, o que gerou críticas por parte de setores políticos e da sociedade. Durante seu período à frente da Saúde, ela foi alvo de diversas acusações de má gestão, incluindo problemas relacionados à precariedade no atendimento médico, dificuldades no pagamento de salários a médicos e problemas de infraestrutura, como o uso de uma unidade improvisada para atendimento na maternidade Nossa Senhora de Nazareth, que foi criticada após a divulgação de um vídeo mostrando uma grávida sendo deixada no chão enquanto aguardava atendimento. Na ocasião, Cecília minimizou a situação, dizendo que “pessoas se prestam a dar show” em relação às imagens.

Além disso, o marido de Cecília, Wilson Fernando Basso, empresário do setor farmacêutico, também foi alvo da Polícia Federal em setembro de 2023, quando foi investigado na operação Hipóxia. A operação apurava a suspeita de superfaturamento na execução de contratos para fornecimento de oxigênio e insumos hospitalares ao Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y). As investigações aprofundaram as suspeitas sobre a gestão de Cecília à frente da Saúde e a relação entre sua administração e empresários do setor privado.

Cecília, que é natural de Roraima e cresceu em Rondônia, começou sua trajetória política e administrativa como professora de Direito e vice-presidente da Comissão Permanente de Licitação (CPL), antes de assumir a Secretaria de Saúde. Ela foi a décima pessoa a ocupar o cargo de secretária de Saúde no governo de Denarium. A gestão da saúde no estado foi marcada por greves de servidores e uma série de dificuldades no atendimento, especialmente na área de saúde de alta complexidade, como cirurgias cardíacas e ortopedia.

A reportagem acionou contato com o Governo de Roraima para comentar o pedido da ex-secretária. A Secretaria de Comunicação confirmou a saída mas não disse as razões.

Deixe seu comentário

Please enter your comment!
Please enter your name here