
A Casa de Governo, com o apoio das forças armadas, de agências de fiscalização e de instituições ambientais, iniciaram na noite do dia 9 de junho, a operação Asfixia. A ação, que ocorre dentro da Terra Indígena Yanomami (TIY), teve o início marcado pela explosão de uma pista clandestina no garimpo do Mucuim, executada pelo Comando Conjunto Catrimani II.
Ao longo das semanas seguintes, os agentes se mobilizaram no interior da floresta, para desmobilizar a infraestrutura clandestina e interromper o abastecimento dos garimpos. A ofensiva se dividiu em duas frentes simultâneas: uma operando dentro da TIY e outra controlando o entorno, pelas rodovias e vicinais que cortam o sul do estado.
No dia 17, uma nova etapa da operação foi acionada com a instalação de uma base de operações no garimpo do Rangel, região estratégica à margem do rio Couto Magalhães. A partir desse ponto, helicópteros, quadriciclos e embarcações foram utilizados em missões de patrulhamento e ocupação. Durante as atividades, dezenas de garimpeiros se entregaram espontaneamente.
O acampamento montado no centro do garimpo passou a funcionar como núcleo de comando para ações conjuntas, conectando Casa de Governo, Força Nacional, Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e Exército. A operação desmantelou a logística aérea com a destruição de pistas clandestinas e o bloqueio de outras rotas de acesso.

Ainda no interior da TIY, no dia 17 de junho, o Comando Conjunto Catrimani II executou a destruição da pista clandestina do Noronha, localizada às margens do rio Uraricoera. Durante a ação, uma aeronave com prefixo adulterado foi inutilizada, além de ferramentas, equipamentos de manutenção e sacos de cassiterita apreendidos.
No dia 23 de junho, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) destruiu a Pista do Japão, localizada em Samaúma, fora do território yanomami. A pista clandestina, com aproximadamente 800 metros de extensão, era usada para apoio logístico ao garimpo ilegal.
Ainda no dia 23, em ação de repressão fluvial no rio Apiaú, a Força Nacional e servidores da Funai localizaram e destruíram um acampamento em funcionamento. Foram apreendidos 300 litros de combustível, galões de óleo e gasolina, uma barraca coberta com lona, uma rede e um fogão a lenha ainda aceso. Os combustíveis foram recolhidos e os demais itens inutilizados no local.
Na manhã do mesmo dia, dois garimpeiros foram conduzidos pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) até a Superintendência da Polícia Federal (PF) em Boa Vista. A rendição voluntária dos dois homens se somou à série de entregas que vêm ocorrendo desde a ocupação do garimpo do Rangel.
A repressão ao garimpo ilegal também se estendeu à zona urbana de Boa Vista. Em uma ação conjunta entre Ibama, PRF, Força Nacional e Polícia Judiciária (PJ), foram apreendidos 620 quilos de cassiterita extraída da TIY. O material estava sendo secado no quintal de uma residência, onde dois homens tentaram fugir ao notar a chegada dos agentes. Eles confessaram que o minério havia sido retirado de uma área às margens do rio Uraricoera, dentro do território Yanomami. Também foram apreendidos uma caminhonete, GPS e balança digital.

Enquanto isso, fora da terra indígena, o entorno da TIY foi fechado com uma rede de fiscalizações. Equipes da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), PRF, Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e Força Nacional atuaram em conjunto na instalação de barreiras e no controle de veículos nas vicinais de Samaúma, Campos Novos e Roxinho. As patrulhas se concentraram especialmente nas entradas utilizadas para o transporte de combustíveis, alimentos e equipamentos usados pelo garimpo.
Na vicinal 2 de Samaúma, uma casa foi flagrada com galões de combustível estocados, confirmando o uso do local como ponto de apoio ao garimpo. Em outras abordagens, moradores relataram que, antes da instalação das barreiras, aviões utilizados pelo garimpo pousavam diretamente nas vicinais 2, 3 e 6. As aeronaves sobrevoavam a região nas primeiras horas do dia, realizavam pousos rápidos em trechos improvisados das estradas.
Em meio ao avanço das operações, houve também espaço para o resgate humanitário. Um garimpeiro ferido, de 28 anos, foi resgatado no domingo (22), por agentes da FUNAI e Força Nacional após passar cinco dias esperando por socorro na região do garimpo do Rangel. Os agentes realizavam uma operação de rotina quando o homem, abrigado em uma pequena cabana às margens de um rio, pediu ajuda. Ele apresentava ferimentos e relatou ter sido atacado com golpes de facão por um “gerente” do acampamento, após um desentendimento sobre a divisão do ouro.
Segundo dados do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), a atuação coordenada das forças públicas resultou em uma redução de 96% das áreas de garimpo ilegal na TIY.
A operação, no entanto, segue intensa para erradicar os últimos focos de atividade remanescente, que ainda se concentram em áreas de difícil acesso, com logística ativa ou estrutura oculta sob a floresta. Para as autoridades, manter a pressão é essencial para impedir o reagrupamento de garimpeiros e garantir a consolidação da desocupação.