O Brasil começou a testar a reimportação de energia elétrica do linhão de Gury, na Venezuela, para alimentar o estado de Roraima, único não ligado ao sistema elétrico nacional. Mesmo sem reconhecer a reeleição do ditador Nicolás Maduro e condenando atos antidemocráticos no país vizinho, a iniciativa envolve a realização de testes para importar energia de uma hidrelétrica venezuelana, conduzidos pela empresa do setor de energia, a BOLT. As negociações para essa parceria energética começaram no ano passado e estão prestes a se concretizar.
A quantidade de energia a ser importada não é grande, limitada a 30 megawatts, mas o movimento tem um forte simbolismo. No passado, o Brasil já importou energia da Venezuela, mas as relações entre os dois países esfriaram durante o último governo brasileiro, interrompendo as importações. A energia importada será destinada ao estado de Roraima, o único estado brasileiro que não faz parte do Sistema Interligado Nacional, o que torna essa importação ainda mais significativa.
Os testes na linha de transmissão que possibilitará a importação da energia venezuelana estão programados para começar em janeiro. Se forem bem-sucedidos em um período de 96 horas, a importação será viabilizada. O processo já foi analisado pelo comitê de monitoramento do setor elétrico e está sob a supervisão do Ministério de Minas e Energia e do Operador Nacional do Sistema.
Relação antiga
A partir de 2001, Roraima passou a depender de importações de energia da Venezuela para suprir a demanda elétrica. A ideia era substituir o consumo de diesel em Roraima pela importação de energia hidrelétrica do Complexo Guri. Por diversos anos, a importação, de fato, ocorreu.
Em 2011, foi realizado o leilão de transmissão para o Linhão Tucuruí, que permitiria a interligação de Boa Vista a Manaus (e ao SIN), com previsão de operação a partir de 2015. No entanto, uma série de judicializações embargou a obra, que margeia a BR-174, por quase uma década, alegando sensibilidade com a Terra Indígena Waimiri Atroari. Atualmente, a previsão de operação é setembro de 2025, segundo dados da Aneel, com quase 10 anos de atraso da data original.
Em março de 2019, o Brasil interrompeu definitivamente a importação da Venezuela para Roraima, após um colapso energético no país vizinho. Em resposta, o parque termelétrico local a diesel foi acionado, consumindo mais de 1.000.000 (um milhão) de litros de diesel por dia. Foi neste cenário que a UTE Jaguatirica II foi contratada, em maio de 2019.