Foto: Matheus Brasil/MS

O Ministério da Saúde reformulou o fluxo de remoções de indígenas Yanomami para hospitais de Boa Vista. Agora, a prioridade é que o paciente seja tratado na própria comunidade, respeitando o bem viver e a cultura do povo. Com isso, somente casos graves são deslocados. A mudança só foi possível após o aumento da assistência no território. A nova estratégia impactou positivamente: a assistência qualificada reduziu em 90% as remoções.

O médico Alysson Figueiredo, coordenador de remoção no Dsei Yanomami, explica que a reformulação faz com que somente casos graves que necessitam, por exemplo, de centro de terapia intensiva (CTI), sejam removidos para a capital do estado. “A nossa organização passou a avaliar melhor os casos. Os pacientes potencialmente graves são levados para o centro de referência estabilizados. Somente se não tiverem melhora, são retirados do território”, diz.

“Houve treinamento dos profissionais para lidar com emergência e urgências. O grande trabalho foi criar os fluxos, identificar os gargalos, pois os pacientes estavam chegando em Boa Vista sem nenhum critério ou muito agravados. Criamos a regulação: primeiro atendimento, estabilização, interlocução com os hospitais, entendemos o quadro, damos o suporte dentro do território e, assim, comunicamos a remoção. Temos que entender e respeitar as questões culturais”, salienta o médico.

De acordo com Alysson, outra mudança é a transferência para locais de atendimento dentro da comunidade indígena, o que impacta menos no bem viver. “Quando chegamos no ano passado, não havia profissionais. Eram apenas quatro médicos. O Polo Base Surucucu, por exemplo, estava sem água, energia e comida. Começamos do zero. Hoje, temos condições de fazer triagem, classificação de risco e ampliamos a assistência em território”, conta.

Ele explica que os investimentos na saúde indígena também colaboram para a melhoria do registro dos indicadores de saúde. “Quando se entra no território, se notifica e registra. Tínhamos polos com 3 anos sem a entrada de um profissional de saúde. Começamos os tratamentos em território com equipes completas para a assistência na localidade”, ressalta.

Dessa forma, o Sistema Único de Saúde (SUS) reconquistou a confiança dos Yanomami após mais de um ano e meio de retomada no local. “Hoje a aceitação está maior. Quando chegamos, os indígenas não queriam sequer aproximação. Com o tratamento daqueles que estavam em estado grave, se curando e voltando para as comunidades, resgatamos a credibilidade e o respeito pelos profissionais da saúde”, garante Alysson.

Reflexo em Boa Vista

A enfermeira Lidiane Lopes Ramos, coordenadora do Núcleo da Saúde Indígena no Hospital da Criança de Boa Vista, é categórica: com a melhora dos fluxos e protocolos, caiu o número de internações de indígenas Yanomami na unidade.

Ela detalha que com o refinamento da remoção – com dados de peso, tamanho e patologia, por exemplo – os números são encaminhados para a equipe antes de o paciente chegar ao hospital.

“A ficha antiga era defasada de informação. Os dados recebidos do território não tinham credibilidade e fundamento, como data de nascimento errada, peso incorreto. Isso influencia na busca da patologia e no diagnóstico. Isso foi vencido pelo alinhamento. A equipe de regulação já fez o levantamento. O filtro na remoção é primordial”, pondera.

No Hospital da Criança, toda remoção passa por triagem e recebe a classificação ‘laranja’, ou seja, chega e já vai direto para o atendimento.

Boletim

O Ministério da Saúde divulgou, em 5 de agosto, um novo informe do Comitê de Operações Emergenciais (COE) Yanomami. No primeiro trimestre deste ano, foram notificados 74 óbitos no território. Na comparação com igual período do ano passado, houve uma queda de 33%. Nos três primeiros meses de 2023 foram registradas 111 mortes. O documento ressalta que os principais agravos tiveram queda como, óbitos por malária, desnutrição e infecções respiratórias agudas graves.

O povo Yanomami tem a maior terra indígena do Brasil, com 10 milhões de hectares, mais de 380 comunidades e 30 mil indígenas. Desde janeiro de 2023, o Ministério da Saúde investe para mitigar a grave crise causada na região pelo garimpo ilegal.

A pasta aumentou o efetivo de profissionais, dobrou o investimento em ações de saúde e trabalhou para garantir a assistência e combater doenças, como a malária e a desnutrição no território.

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