Cláudio Delicato, reitor da UERR. Foto: arquivo/ Ascom UERR

A Resolução nº 34/2024 do conselho universitário da Universidade Estadual de Roraima (Uerr), que permite a adoção do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) como alternativa de ingresso à instituição de ensino, provocou debate na Assembleia Legislativa (ALE-RR) nesta terça-feira (14). Na última semana foi aprovada uma resolução pelo Conselho Universitário autorizando a medida, que vem sendo contestada por entidades estudantis em todo o estado.

O deputado Marcinho Belota (PRTB), que acompanha a repercussão da medida na comunidade estudantil, subiu à tribuna para protestar contra a decisão.

“Com isso, teremos uma concorrência desigual entre os que vêm de fora e os daqui de Roraima, porque eles têm acesso ao melhor material de estudo. Além disso, a maioria das pessoas que vem de fora para se formar aqui, volta para o seu estado de origem e vai exercer a profissão lá, criando um encarecimento nos nossos serviços e enfraquecendo nosso mercado de trabalho”, afirmou o parlamentar.

O deputado salientou ainda que os estudantes do Estado não têm na grade curricular disciplinas como sociologia, filosofia e redação e interpretação de texto. “Então como é que os nossos estudantes vão concorrer em pé de igualdade com os que vêm de fora, se nós não ofertamos essas disciplinas?”, questionou.

Em resposta às declarações de Belota, o deputado Coronel Chagas (PRTB), presidente da Comissão de Educação, Desportos e Lazer, disse que o órgão, em conjunto com a Comissão de Administração, Serviços Públicos do Poder Legislativo, convidará o reitor da Uerr, Claudio Delicato, para ouvir suas explicações sobre a decisão.

“Parabenizo o nobre parlamentar Belota pela iniciativa de trazer essa discussão para o plenário. E quero dizer que conte com a gente. Estamos preparando um requerimento para trazer o reitor para explicações sobre a resolução”, disse Chagas.

Em aparte, o deputado Dr. Claudio Cirurgião (União), que é professor da UFRR (Universidade Federal de Roraima), concordou com o problema sistêmico da evasão dos formandos de outros estados.

“Na UFRR, há uma grande evasão. Recentemente, se formaram 80 no curso de medicina – praticamente metade das pessoas voltaram ao seu estado de origem. Para uma universidade federal, isso é compreensível, porque os recursos são da União, mas para uma universidade estadual, isso não deve se aplicar, porque é local e são recursos nossos”, disse.

Já o deputado Lucas Souza (PL) pediu cautela e diálogo com o conselho universitário. Para ele, é preciso compreender as razões da instituição.

“Nós precisamos continuar a dar vida para a universidade. Existem cursos que o vestibular unificado estadual não preenche as vagas. Mas peço cautela para sustar um ato do conselho universitário, que é como se fosse a Assembleia Legislativa da universidade. Acredito que nosso papel seja dialogar e procurar uma solução”, ressaltou Souza.

Ampliação do debate

Os parlamentares Angela Águida Portella (Progressistas), Chico Mozart (Progressistas), Marcelo Cabral (Cidadania), Rarison Barbosa (PMB) e Tayla Peres (Republicanos) se posicionaram a favor da ampliação do debate e em defesa do vestibular local.

“A Uerr foi criada para dar oportunidades aos jovens roraimenses de melhorarem suas vidas por meio da educação. Portanto, não compreendo e não concordo com o fato de que, de repente e sem uma consulta pública, isso possa mudar do dia para a noite. Por isso, me coloco à disposição para que possamos alterar esse documento que representa uma preocupação para esses jovens”, afirmou Portella.

Formado na primeira turma de engenharia agrônoma da Uerr, Barbosa reconheceu o papel da universidade em sua vida. “Me solidarizo com esses estudantes, pois esse sonho realizado pelo vestibular estadual não pode ser alterado agora”, disse.

“De antemão, coloco meu nome à disposição para participar dessas reuniões, pois essa é uma preocupação dos alunos e nós, como Casa Legislativa, não podemos deixá-los sem o nosso apoio. Quero dizer que meu mandato está à disposição”, destacou Cabral.

“Quero me solidarizar com esses alunos, pois não é justo que um estudante dedicado seja frustrado com uma notícia como essa”, complementou Mozart.

Mãe de uma pré-vestibulanda, a deputada Tayla Peres protocolou uma indicação ao governo para que a decisão seja suspensa.

“Tenho uma adolescente em casa que está no terceiro ano e, na sexta-feira, ela chegou chorando ao saber dessa notícia, dizendo que não teria mais possibilidade de entrar na universidade. Então me coloco à disposição dessa causa, pois precisamos nos unir para resolver essa situação”, concluiu a parlamentar.

Leia também: Discussões sobre UERR adotar Enem se estendem na Assembleia Legislativa nesta terça (14)

UERR

Em nota, a UERR informou que preconiza a diversificação das formas de ingresso, com o intuito de ampliar as oportunidades de acesso à educação pública e de qualidade. Neste sentido, a inserção do ENEM como forma de ingresso apresenta diversos méritos que podem contribuir significativamente para a melhoria da qualidade e da atratividade da instituição, ampliando as oportunidades para estudantes de todas as regiões, incluindo aqueles que residem em áreas remotas ou de difícil acesso.

“Essa medida vai contribuir para a diversidade e a representatividade dentro dos cursos, enriquecendo o ambiente acadêmico e preparando os estudantes para enfrentar os desafios de uma sociedade cada vez mais competitiva e globalizada”, acrescenta.

A universidade afirmou ainda que estará estimulando os estudantes a se prepararem de forma contínua ao longo do ensino médio, incentivando-os não apenas a obter uma boa nota no exame, mas também a desenvolver habilidades importantes para sua formação pessoal e profissional.

Deixe seu comentário

Please enter your comment!
Please enter your name here