Lideranças indígenas de nove comunidades de Roraima já relatam efeitos da forte estiagem que atinge o Estado, por conta dos efeitos do fenômeno climático El Niño na Amazônia. Os relatos foram apresentados por diversas lideranças durante reunião feita com a direção e coordenações regionais do Conselho Indígena de Roraima (CIR) no último sábado, 21. Conforme o coordenador do conselho, Edinho Batista, um plano emergencial será elaborado para tentar amenizar os efeitos da seca nas comunidades indígenas.
“Vamos elaborar o plano emergencial para encaminhar às instituições parceiras e contar com nossos agentes territoriais e ambientais indígenas, para fazer registros que servirão para apontar os dados, porque não temos estrutura para realizar visitas in loco”, disse Batista.
No encontro, lideranças das regiões Tabaio, Alto Cauamé, Surumu, Murupu, Raposa, Amajari, Serra da Lua, Baixo Cotingo e Serras relatam que as regiões já sofrem com a falta de água. Ainda de acordo com os relatos, o pasto das regiões está secando, fazendo com que os animais tenham dificuldade para se alimentar.
Nas áreas de cultivo das comunidades, as plantações de macaxeira, matéria-prima para a produção de farinha, beijú, goma e outros alimentos, estão secando, e as poucas que sobram não têm dado para produzir com qualidade nem em grande quantidade.
A região Serra da Lua, que fica entre os municípios de Bonfim (RR) e Cantá (RR), tem 21 comunidades que abrigam 9,5 mil indígenas. Na reunião, o coordenador regional, Clóvis Ambrósio, relatou que a mudança climática tem atingido drasticamente a região, com a seca e chuvas fora de época. Conforme Ambrósio, uma tempestade que caiu na região na última semana destruiu casas e uma plantação.
”É uma dificuldade muito grande, não temos mais nossos pés de caimbé. Nós e o nosso lavrado estamos sofrendo com a seca, queimada e com as mudanças climáticas”, relatou a liderança.
Falta de água
A falta de água foi outra preocupação apresentada por moradores que vivem nas comunidades. O tuxaua da comunidade Teso do Gavião e presidente local de Saúde da região Baixo Cotingo relatou que várias regiões da comunidade estão passando por dificuldades. “Na comunidade Camarão, por exemplo, a situação está crítica. Na comunidade Santa Maria, as pessoas estão doentes com diarreia e vômito devido à água que está suja, com cor de ferrugem”, informou o coordenador.
O coordenador do CIR na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Normandia (RR), Valério Eurico, conta que três comunidades estão sofrendo com a alta temperatura. Sem água, as sementes estão secando, e alguns moradores da comunidade Urubuzinho, que fica no território, estão tendo que andar quilômetros até um lago depois que o poço que atendia aos indígenas secou.
As mulheres indígenas também relataram sobre as mudanças climáticas. A coordenadora de mulheres das comunidades Amajari, Odete Barroso, disse que as reações de hoje são consequências da ação humana. “Nunca tinha visto chuva de gelo, e na comunidade Monte Moriá, as crianças estavam brincando com gelo”, relatou.
O fenômeno, ocorrido no dia 15 de outubro, foi registrado na comunidade Monte Moriá 2, em Uiramutã (RR), a 313 km de Boa Vista (RR). Vídeos feitos por moradores registraram as pedras de gelo caindo no chão e o susto deles em observar o fenômeno atmosférico, que é raro no Estado. Na comunidade indígena, a chuva de granizo durou cerca de meia hora, segundo a Defesa Civil Municipal de Uiramutã.
Soja
Na região do Tabaio, a coordenadora de mulheres, Jailda Teixera, da comunidade Barata, expôs a situação preocupante vivida pelos moradores do local com plantações de soja que ficam vizinhas às comunidades. “Na comunidade Barata não tem rio e nem igarapé, estamos ficando sem roça, e estão fazendo a farinha dos brancos, nossos idosos, estão sendo afetados, pelo veneno da soja, pelas fumaças das queimadas, e o calor intenso. A situação é preocupante, para amenizar pelo menos a seca precisamos de mais poços artesianos”, pediu Jailda.