Integrantes da cúpula do PT passaram o fim de semana trocando mensagens e conversando pelo telefone sobre Cristiano Zanin. Ou mais especificamente sobre o desastre que foram, à esquerda, os votos dados pelo recém-empossado ministro do STF nas duas últimas semanas — todos alinhados ao conservadorismo.
Há um consenso entre eles que Lula precisa ter uma conversa com Zanin antes de quarta-feira, quando será retomado o julgamento do processo que trata do marco temporal para demarcação de terras indígenas.
O temor é que Zanin vote pela adoção do marco temporal, ou seja, a favor dos ruralistas e contra as diretrizes do governo Lula.
Lula, na opinião desses petistas da cúpula do partido, deve interferir “antes que novo desastre aconteça”, de acordo com um deputado da legenda. “Ele não tem saída”, completa.
É o que será pedido a Lula a partir de hoje, quando o presidente volta a despachar em Brasília, depois de uma semana de viagem pela África.
O que vai se pedir a Lula é que ele interfira num voto de um ministro do Supremo. Uma intromissão indevida e nada diferente do que Jair Bolsonaro fazia — ou alguém duvida da liberdade que o ex-presidente se dava com os seus indicados ao cargo (“Vou indicar alguém que tome uma tubaína comigo”, disse logo depois de escolher Nunes Marques e antes de definir-se por André Mendonça)?
Não foi à toa que Lula escolheu o seu próprio advogado para a Corte Suprema.
Um petista com muitas décadas de partido nas costas e próximo do presidente constata que a reação da militância nas redes sociais nos últimos dias foi enorme:
— Essa é a primeira crise do nosso campo. O Lula está apanhando nas redes dele, apanhando de gente de esquerda por causa dos votos do Zanin.
Se Lula terá mesmo essa conversa com Zanin para direcionar o seu voto no caso do marco temporal, é impossível saber neste momento. Mais fácil é prever que a esquerda tende a ficar de cabelo em pé ainda por muito tempo e continuar tensa nas vésperas de outras centenas de votações.