Foto: Portal Biologia/ divulgação

O crescimento da atividade de garimpeiros é a causa do aumento de mais de 40% nos casos de transmissão de malária na Terra Indígena Yanomami, situada entre os estados de Amazonas e Roraima.

Além desse aumento do número de casos, outra preocupação para a área de saúde é que foi observada alta na proporção de infecções causadas pelo Plasmodium falciparum, espécie de parasito que provoca as formas mais graves de malária, com maior risco de morte.

Isso é o que aponta um estudo realizado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Universidade Federal de Roraima (UFRR) e Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Biotecnologia (Rede Bionorte), feito por Jacqueline de Aguiar Barros, do Núcleo de Controle da Malária de Roraima. Os dados mostram que esse aumento quebra um período bem-sucedido de ações para reduzir o índice de transmissão da doença.

De acordo com Jacqueline, técnica do Núcleo de Controle da Malária de Roraima que faz sua pesquisa de doutorado sobre o tema, os dados contam a história do que foi observado e vivenciado nestes últimos anos.

No primeiro ano da pandemia, enquanto a malária caía no Brasil e nas Américas, Roraima chegou a 29 mil casos da doença, com mais de 18 mil notificações – 62% do total – nas áreas indígenas.

Um relatório produzido pelas associações Hutukara Yanomami e Wanasseduume Ye’kwana, com base em dados do Mapbiomas, aponta que a área de garimpo na terra indígena aumentou em mais de 30 vezes entre 2016 e 2020 e nesse mesmo período os registros de malária dispararam.

Roraima tem mais de 40% do seu território constituído por terras indígenas. Na fronteira com a Venezuela, encontra-se o DSEI Yanomami, que se estende de Roraima ao Amazonas. Ao todo, são 96 mil km² de terra demarcada, onde vivem aproximadamente 28 mil indígenas, a maioria Yanomami.

Com a expansão do garimpo ilegal, os casos de malária se multiplicaram. Em 2020, foram mais de 14 mil registros, pontuou Jacqueline, que é autora de um artigo sobre a pesquisa para uma revista científica.

A pesquisadora destacou que as notificações de malária também cresceram no DSEI Leste de Roraima, onde, além do garimpo, houve influência da imigração de venezuelanos. Entre 2010 e 2016, os casos saíram de mais de 2 mil para apenas 368. Em 2018, já eram mais de 3 mil notificações, ultrapassando 4 mil em 2020.

Em 2010, quase 10% dos casos de malária em Roraima eram causados pelo P. falciparum. Nos anos seguintes, a proporção foi reduzida. Em 2019, o índice era de 4,5%. Porém, em 2020, saltou para 20%.

“O aumento de casos significa dificuldade de acesso ao diagnóstico e ao tratamento”, explica Jacqueline, acrescentando que o combate à malária associada ao garimpo ilegal transcende a área da saúde e exige ações coordenadas de diferentes esferas políticas.

Isso porque em muitos locais onde há garimpo, as equipes de saúde ficaram impedidas de atuar por questão de segurança, prejudicando o diagnóstico e o tratamento.

 

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