Em entrevista ao Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, o senador Hiran Gonçalves (PP), que é médico e presidente da Frente Parlamentar da Medicina, falou sobre o problema da relação entre garimpeiros e indígenas na reserva Yanomami em Roraima: “Isso já acontece há muito tempo e, óbvio, perto do garimpo. Nós não aprovamos garimpagem em terra indígena, porque é proibido por lei. A relação entre os indígenas e os garimpeiros leva a doenças que não são comuns aos índios”.
“Eles [yanomamis] são muito suscetíveis a infecções respiratórias, gripe, doenças sexualmente transmissíveis, malária. Nós temos dentro da reserva uma área hiperendêmica de malária. Temos também dentro da nossa reserva indígena uma doença que só tem ali, que se chama a ‘cegueira dos rios’, que é a oncocercose. É a maior área endêmica de oncocercose das américas ali. Não é uma coisa muito simples, e o que nós estamos fazendo? Discutindo com o governo, aproveitando toda essa celeuma que aconteceu por conta daquelas imagens tão impactantes, para tentar aprimorar esse serviço”, afirmou o senador, que já acompanhou o governador de Roraima, Antonio Denarium (Progressistas), em uma audiência com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha e nesta quinta-feira, 26, se reunirá com reunião com o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias e a ministra da Sáude, Nísia Trindade, para sugerir medidas para melhorar a condição de vida do povo indígena yanomami.
Ao falar sobre as condições da reserva, Hiran Gonçalves também ponderou que o acesso à mata e a grande extensão da reserva dificultam a inserção de aparatos de saúde mais próximos aos indígenas: “Nós estamos falando de um território que é um pouco maior do que Portugal. Uma floresta densa, a nossa floresta yanomami, e ela é contígua a um parque nacional na Venezuela que tem mais 6 milhões de hectares. É duas vezes o tamanho da Suíça, para vocês terem ideia da magnitude dessa reserva, que é uma das maiores reservas do mundo e com uma densidade demográfica muito baixa. Temos lá cerca de 20 mil a 28 mil indígenas. Digo entre 20 mil e 28 mil porque não temos um censo com credibilidade e fidedigno para dizermos aqui qual é a exata configuração yanomami. O acesso é muito difícil, nós temos mais de 30 polos base dentro da reserva, a população é seminômade, ela muda de nome ao longo do tempo e a Secretaria de Saúde Indígena Nacional, assim como os distritos sanitários especiais, eles têm muitas pessoas trabalhando”.
“Mas, por exemplo, no caso yanomami a maioria das pessoas não fica dentro da reserva. Isso é uma dificuldade que se tem. Eu diria que nós precisamos ter, dentro da reserva, polos base e referências em saúde com resolutividade para fazer multivacinação, atenção primária e as remoções que são feitas. Hoje, o que acontece na reserva indígena? O melhor tratamento é a remoção. Quando um indígena tem um caso um pouquinho mais grave ele vem para a Casai, recebe os primeiros atendimentos e depois vai para a rede SUS do nosso Estado. Essa é a dinâmica que acontece. Isso que está acontecendo agora é uma coisa que é reincidente”, detalhou o senador a respeito do atual trabalho da Casa de Saúde Indígena (Casai) que atua na região.
O parlamentar também falou sobre a questão de remoção dos garimpeiros de dentro da reserva indígena e alertou que esse é um problema antigo e que precisa ser tratado com cuidado para não agravar a situação: “Toda essa estratégia de atenção vai ser discutida e o garimpo é circunscrito a uma área mais na franja da reserva. São quase 3 mil hectares, é um espaço grande onde tem uma garimpagem e devem ter lá cerca de 20 mil brasileiros. Certamente o governo vai fazer uma operação para tirar esses garimpeiros, eles continuam trabalhando lá. Nós precisamos discutir isso com muita seriedade, porque essa garimpagem existe em Roraima há mais de 100 anos. Há mais de 100 anos que os garimpeiros estão nas áreas indígenas, inclusive as pistas [de pouso] nos polos base que são utilizadas pelos aviões que levam médicos, levam enfermeiros, levam agentes de saúde e fazem, remoções dentro da reserva, essas pistas são oriundas de construções do garimpo que foram expulsas dessas áreas mais centrais em várias operações que aconteceram desde que eu estou em Roraima”.
“Estou em Roraima há 41 anos e acontece lá periodicamente a remoção de garimpeiros. Só que em um espaço tão grande é muito difícil que a gente consiga coibir garimpagem de uma maneira absoluta. Se tira esses garimpeiros e não se tem um programa para a gente fazer com que eles não voltem para lá, depois de um certo tempo começa a haver uma entrada. Porque a gente não tem condição de fazer uma vigilância dentro de uma floresta tão densa, como é a floresta Amazônica, fechada, de uma maneira mais efetiva. O que acontece é que, vão se retirar os garimpeiros, daqui três, quatro ou cinco anos tem garimpeiro em outras áreas. É isso que acontece, e acontece desde que vocês noticiam isso”, explicou.