O Ministério da Saúde declarou emergência de saúde pública para enfrentar a calamidade sanitária vivida pelos povos indígenas Yanomami em Roraima. Cerca de 570 crianças, além de adultos, morreram nos últimos quatro anos de desnutrição e outras doenças que poderiam ser tratadas, como a malária, pneumonia e diarreia. O povo Yanomami é considerado de recente contato com a população não-indígena.
O avanço do garimpo ilegal nos últimos anos trouxe, além de doenças, a contaminação dos rios por mercúrio, a fuga de animais usados como alimento e um signficativo aumento da violência. Já são mais de 20 mil garimpeiros na reserva, quase o mesmo tamanho da população de 28 mil indígenas na região.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, classificou como desoladora a situação. Ele atribuiu as mortes de centenas de indígenas à falta de assistência, desnutrição e avanço do garimpo ilegal. Pacheco disse ainda que a crise exige a união das instituições. E garantiu o comprometimento do Senado para, no que couber ao Legislativo, assegurar medidas contra a tragédia.
O senador Fabiano Contarato, do PT do Espírito Santo, já havia denunciado, em dezembro do ano passado, a situação ao Ministério Público Federal. Na ação, Contarato descreve a grave desnutrição em crianças, mas não obteve respostas da PGR. Ele, que é vice presidente da Comissão de Direitos Humanos, afirmou que é dever do Ministério Público Federal defender as comunidades indígenas.
Já o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues, da Rede do Amapá, escreveu em suas redes sociais que denúncias sobre a situação foram feitas várias vezes ao antigo governo. Mas a prioridade não era salvar as vidas de crianças que morriam de fome. Para Randolfe, não foi falta de aviso, mas negligência.
Os senadores de Roraima também se manifestaram sobre a crise sanitária e nutricional.
Para Telmário Mota, do PROS, é preciso rigor na apuração, principalmente de desvios de verbas destinadas à saúde dos indígenas. A crise hoje instalada nos povos yanomamis é fruto de um tripé. A corrupção, a política indigenista brasiliera que está errada, a garimpagem ilegal. A Sesai disponibiliza muito recursos para esses distritos mas eles não chegam na ponta. Não chegam com médico, com enfermeiro, com a medicação, não chegam com laboratório. O Governo tem que ser rigoroso na apuração e colocar na cadeia principalmente os coordenadores do Distrito Yanomami.
Nesta segunda-feira, o presidente Lula exonerou onze coordenadores de saúde indígena e 43 servidores da Funai. Mas o senador Mecias de Jesus, do Republicanos de Roraima, ponderou que a situação não é nova. Para ele, é injusto culpar apenas o governo Bolsonaro quando nenhuma das administrações anteriores cuidou do problema. Tiveram suas terras demarcadas, mas depois todos governos, sem exceção, ficaram distantes das necessidades dos povos yanomamis no estado de Roraima.
“O sofrimento nos distritos indígenas de Roraima acontece há mais de 3 décadas, principalmente nas comunidades Yanomâmis, devido à dificuldade de acesso até por resistência à entrada de auxílio. É urgente o socorro ao povo yanonomami, mas sem criar esse discurso político com teor sensacionalista e falso para fazer cena mundo afora e se esquivar de uma culpa que a administração deles também carrega”, disse.
O senador Flávio Bolsonaro, do PL do Rio de Janeiro, também contestou a versão de que o antigo governo teria sido omisso. Flávio afirmou em suas redes sociais que o ex-presidente Jair Bolsonaro colocou a saúde indígena como prioridade durante a pandemia, tendo ampliado o quadro de profissionais e encaminhado quase 1 milhão de medicamentos para esta população nos 4 anos de Governo.
A senadora eleita Damares Alves, ex-ministra dos Direitos Humanos, negou ter havido negligência do antigo Governo, que teria tomado diversas medidas para amparar os indígenas. Ela revelou ‘dor e tristeza’ com a crise humanitária e garantiu que a sua luta pelos direitos e pela dignidade dos povos indígenas é o trabalho de uma vida. O território Yanomami tem mais de 370 aldeias e quase 10 milhões de hectares, o que equivale ao tamanho da Belgica, Israel e Suíça somados. E se estende por Roraima, pela fronteira com a Venezuela e pelo Amazonas.
O presidente Lula esteve na região, no último fim de semana e prometeu agir no combate ao garimpo ilegal. Ele criticou o antigo Governo por priorizar as motociatas e ter “abandonado” o povo indígena e criou um Comitê de Coordenação Nacional para Enfrentamento à Desassistência Sanitária das populações em território Yanomami.