Vistas do alto, longas manchas amareladas rasgam o manto verde da Amazônia. Na parte norte da Terra Indígena Yanomami, perto da fronteira do Brasil com a Venezuela, garimpos ilegais de ouro estão por toda a margem do Rio Uraricoera. O piloto voa baixo, mas não se aproxima muito. Ele teme os garimpeiros armados no chão, além dos outros aviões pequenos, que voam em meio à copa das árvores para evitar os radares da polícia enquanto abastecem os garimpos. A denúncia é da agência internacional de notícias, Mongabay.
Lá embaixo, avista-se a aldeia indígena Waikás. É aqui que vivem os Yek’wana, uma das oito etnias que habitam esta Terra Indígena do tamanho de Portugal, a maior do Brasil. “O garimpo destruiu tudo. O nosso rio ficou barrento e contaminado. Nós não podemos mais pescar, e os animais fugiram para bem longe do barulho dos geradores e das máquinas”, diz Julio Ye’kwana, um dos líderes da comunidade, situada no estado de Roraima. Atualmente, existem cerca de 20 mil garimpeiros ilegais na TI Yanomami, segundo o Ministério Público Federal. No interior da mata, o trânsito de barcos que transportam homens e suprimentos para os garimpos é incessante.
Toda a estrutura da sociedade na qual Julio vive foi abalada até os alicerces, diz ele.
A mineração ilegal e as fortunas prometidas pelos garimpeiros estão seduzindo e conquistando os jovens indígenas da aldeia. É cada vez maior o número de membros da próxima geração que se afasta de suas funções na proteção das florestas ancestrais e recorre ao garimpo. Isso se deve principalmente à falta de outras oportunidades econômicas e à desintegração da sociedade tradicional, diz Mauricio Ye’kwana, um dos diretores da Hutukara Associação Yanomami, organização indígena sediada na capital de Roraima, Boa Vista.
“Antes, os garimpeiros focavam apenas nos líderes, mas nos últimos dez anos, eles começaram a visar os jovens, que são presas mais fáceis de atrair para o trabalho no garimpo”, diz Mauricio. A proximidade dos garimpeiros com a comunidade Ye’kwana o preocupa.
Promessas e recrutamento
Robervaldo, de 26 anos, foi um desses recrutas. Ele trabalhou para os garimpeiros por dois anos. “Primeiro, eles abordam você com muita simpatia, oferecendo maços de dinheiro, celulares ou bebidas alcoólicas”, conta ele à Mongabay.
Alguns são mal pagos e têm que desembolsar muito dinheiro apenas para pagar a viagem até o garimpo, enquanto outros ganham bem, mas gastam o que ganharam no próprio local. Tudo está disponível nos garimpos: álcool, drogas, comida, até acesso à internet. Inicialmente, eles usavam a rede para se comunicar com outros garimpeiros e alertar sobre as próximas batidas policiais, mas logo descobriram que ela também era uma ótima ferramenta para atrair jovens indígenas para os acampamentos. Nas aldeias, por outro lado, a conexão com a internet é rara e instável.
Alberto também trabalha na mineração. Aos 28 anos e com várias passagens pelos garimpos, é considerado um ancião pelos adolescentes indígenas que trabalham nos acampamentos. Ele próprio se ofereceu para ir.
“O dinheiro é a motivação inicial e principal, mas o garimpo também é um lugar muito animado. Tem bordéis por toda parte e músicos vêm da cidade para tocar todas as noites. Às vezes, até pessoas famosas chegam de avião para tocar e entreter”, Alberto conta.
Leia a reportagem, na íntegra, publicada no site da Mongabay Brasil.